quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 11

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO ONZE

CENA 1. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO 10.

DIANA — Que ódio que você passou nesse teste.

MARCO — Tem alguma coisa pra você nesse mundo que
não seja ódio?

DIANA — Eu já te pedi desculpas!

MARCO — Mas dessa vez eu não aceito! Você pode me
xingar, pode me cuspir, pode fazer o que
você quiser. Mas não importa o que você
faça eu não te desculpo/

DIANA, DO NADA, TASCA UM BEIJO EM MARCO. ELES SE BEIJAM

LOUCAMENTE. ELA SAI DO BEIJO E OLHA PRA ELE.

MARCO — Hã?

DIANA ASSUSTADA COM SUA PRÓPRIA ATITUDE. MARCO
BOLADAAAAAAAÇO. ELES FICAM SE OLHANDO POR UM TEMPO.

MARCO — Por que é que você fez isso?

DIANA — O quê? Eu fiz o quê?

MARCO — Diana, você me beijou.

DIANA — Beijei?

MARCO — Ou foi isso ou botaram alguma parada
muito louca no meu açaí porque até onde
eu sei...

DIANA — Beijei. Beijei? Beijei. Não sei. Não sei
porque eu beijei.

MARCO — Peraí, Diana vamo conversar...

DIANA SAI EM DISPARADA. SUPER NOVELÃO:

MARCO — Diana! Diana!

MARTA APARECE.

MARTA — Nem começou a gravar e já tá louco
falando sozinho?

MARCO — Não, eu tava só chamando a... Diana.

MARTA — E cadê aquela garotinha tão simpática?

CENA 2 SHOPPING. INT. DIA.
GABI E BRUNINHO SEGUEM CONVERSANDO.

BRUNINHO — E aí, Gabi? Eu to esperando. Me responde.
O Marco é gay?

GABI EXTREMAMENTE DÚBIA. NÃO SABEMOS SE ELA ESTÁ
CONSTRANGIDA DE VERDADE OU SÓ FINGINDO CONSTRANGIMENTO.
(TIPO GLÓRIA PIRES QUANDO FAZIA A RUTH SE PASSANDO PELA
RAQUEL). GRANDE OPORTUNIDADE PARA SOPHIA ABRAÃO MOSTRAR SEU
IMENSO TALENTO.

GABI — Ai, Bruninho. Porque você tá me
perguntando isso?

BRUNINHO — Você sabe.

GABI — Sei?

BRUNINHO — O Marco tá todo esquisito. Primeiro ele
diz que você tá grávida. Depois ele fala
que é mentira. Daí vem com uma história
de que você tá/ (COMO SE FOSSE FALAR
CHANTAGEANDO ELE)

GABI — (FORTE) De que eu to o quê??

PERCEBE QUE IA FALAR MERDA.

BRUNINHO — De que você tá toda frágil por causa de
uma parada que tá rolando com ele.

GABI — (DOCE) É, eu to mesmo.

BRUNINHO — E eu quero saber que parada é essa. Pelo
pouco que ele me contou eu to achando que
ele é gay.

GABI — E se ele for?

BRUNINHO — Hein?

GABI — To te perguntando. Como é que você
reagiria se descobrisse que o seu melhor
amigo é gay?

FECHA EM BRUNINHO ATERRADO.

CENA 3. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
MARCO BOLADÃO, QUER DIZER, BOLADAÇO DIANTE DE MARTA.

MARTA — E aí, garoto? Cadê a sua namoradinha?

MARCO — (SUSTO) Namoradinha?

MARTA — A Diana.

MARCO — Ela não é minha namoradinha!

MARTA — Caguei. Cadê a garota? Você não disse que
tava chamando ela?

MARCO — Tava, mas... A Diana teve que ir embora.

MARTA — Por quê?

MARCO — Cólica.

MARTA — Cólica?

MARCO — É. Cólica, ué. Toda mulher tem.

MARTA — Eu não.

MARCO — Você não tem cólica?

MARTA — Olha pra mima cara. Você acha que eu sou
mulher de cólica?

MARCO — Foi mal, aí. Mas a Diana tem. Ela pediu
desculpas, teve que sair apressada.

MARTA — Muito estranha essa história.

MARCO — Estranha? Estranha por quê?

MARTA — Hoje é o dia de assinar o contrato. Só me
falta essa valise desistir de fazer a
série e deixar a gente não mão. Eu não
vou sair viva de mais uma reunião com o
Belchior pra escolher outra protagonista.

MARCO — Não, fica tranqüila que ela não vai sair
não. (MEIO QUE PRA SI) Eu não vou deixar.

MARTA — Bom, então vamo a gente, né? A bicha já
tá esperando.

MARCO — Bicha?

MARTA — O Belchior!

MARCO — O Belchior é gay?

MARTA — Não, mas na televisão todo homem é bicha.
Todo homem é bicha e toda mulher é
vagabunda. É meio que um código,
entendeu?

CENA 4. SHOPPING. INTERIOR. DIA
GABI E BRUNINHO SEGUEM NA LENGA-LENGA.

BRUNINHO — Eu não sei como eu reagiria se eu
descobrisse que o Marco é gay.

GABI — Claro que sabe.

BRUNINHO — Gabi, o Marco é meu melhor amigo. Eu
conheço ele desde que eu tenho cinco anos
de idade. Ele é uma das pessoas que eu
mais amo no mundo, cara. Só perde pro meu
pai e pra minha mãe.

GABI — Nossa.

BRUNINHO — Eu gosto dele até mais do que do Coringa.

GABI — Coringa?

BRUNINHO — Meu lagarto de estimação. E olha que eu
me amarro no Coringa.

GABI — Afff.

BRUNINHO — É claro que se eu descobrir que o
Marquito é gay vai ser esquisito. Eu vou
ficar meio estranho no início. Mas a
gente é que nem irmão. Não muda muita
coisa, sabe?

GABI — Será?

BRUNINHO — Gabi. Tem umas paradas na vida que a
gente sabe que vão ser diferente, mas vão
ser sempre igual.

GABI — Como assim?

BRUNINHO — Eu sei que eu vou sempre ter esse cabelo
toin oin oin, mesmo que um dia ele fique
branco. Que eu vou sempre pirar quando o
Botafogo fizer um gol, mesmo que eu não
grite mais tanto. E que eu vou sempre ter
o Marquito do meu lado. Mesmo que de
outra forma. Porque o Marquito vai ser
sempre o Marquito, sacou?

GABI — Saquei.

BRUNINHO — Sacou, mas tu ainda não me disse: O meu
amigo é ou não é boiola?

CENA 5. EMISSORA. ESTÚDIO. INT. DIA
MARTA ENTRANDO COM MARCO NO ESTÚDIO.

MARTA — Chegamos. (P) Ué, cadê o pessoal do
jurídico.

BELCHIOR — Foi embora, cadê a garota?

MARTA — Foi embora.

BELCHIOR — Que ótimo. Tomara que eles se encontrem
no bar da esquina e tomem um suquinho de
cajá.

MARTA — E a assinatura do contrato?

BELCHIOR — Passou pra amanhã.

MARTA — Como eu adoro esse trabalho. Bom, Marco,
então a gente se vê amanhã no mesmo
horário?

BELCHIOR — Amanhã por quê?

MARTA — A gente ia assinar os contratos e ensaiar
com a Diana. Não tem contrato e não tem
Diana.

BELCHIOR — Mas tem Marco. A gente pode manter o
ensaio.

MARTA — Ah é? E quem vai dar as falas da garota?

FECHA EM BELCHIOR SORRINDO ESCROTAMENTE PARA MARTA.

CENA 6. RUAS JOVENS E DIVERTIDAS. EXT. DIA
BETA PARADA ESPERANDO DIANA. ELA OUVE SEU IPOD. ESTÁ
DANÇANDO ALGUMA MÚSICA JOVEM (PODE SER FLY ON THE WALL, DA
MILEY CYRUS). ALGUÉM PASSA E ELA DISFARÇA, COMO SE
ESTIVESSE ESPREGUIÇANDO. DIANA CHEGA.

DIANA — E aí, amiga?

BETA — Fala, gata. Demorou pra quem tava com
pressa, hein?

DIANA — O que foi?

BETA — Você me ligando toda esbaforida dizendo
que precisava me encontrar urgente.

DIANA — Ah, foi mal. Eu peguei trânsito.

BETA — Mas o que é que aconteceu pra você
precisar me ver assim com tanta urgência?

DIANA DISFARÇA. (DISFARÇA DIREITO, HEIN, VITÓRIA).

DIANA — Nada demais.

BETA — Nada demais? Diana, no telefone parecia
que você tinha descoberto que o vocalista
do The Smiths tinha morrido.

DIANA — O Morrissey morreu?!?!

BETA — Claro que não. Mas você tava tão
assustada que.

DIANA — Sabe o quê que é, Beta? Esse negócio de
Boladão.

BETA — De novo esse assunto, Diana? Você já não
tinha decidido que ia fazer a série?

DIANA — Tinha.

BETA — Que tava aceitando o que a vida tava te
oferecendo?

DIANA — Eu sei.

BETA — Então qual é o problema Diana? O que é
que aconteceu lá hoje que tá fazendo você
dar pra trás?

CORTA DIRETO PARA:

CENA 7. SHOPPING. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 4.

BRUNINHO — Eu to esperando a sua resposta, Gabi.

GABI — Se você quer tanto saber se o Marco é
gay, porque é que você não pergunta pra
ele.

BRUNINHO — Por quê? Ah, por quê é muito esquisito...

GABI — Esquisito?

BRUNINHO — Não é a coisa mais normal do mundo tu
chegar pro teu parceiro e perguntar: e
aí, tu é chegado numa barba.

GABI — Ai...

BRUNINHO — É sério.

GABI — E você quer que eu fale por ele?

BRUNINHO — Não é isso...

GABI — É isso! Eu sou namorada do Marco,
Bruninho. Como você, eu também amo ele
muito. As mesmas coisas que você falou eu
repito. Menos a história do cabelo toin
oin oin, porque graças a Deus eu sou
linda e loura.

BRUNINHO — Você tá me dizendo que não vai me contar?

GABI — É óbvio que eu não vou te contar. Se você
quer saber, pergunta pra ele.

BRUNINHO — Quer saber? É isso que eu vou fazer. Eu
vou perguntar pra ele.

FECHA NA DETERMINAÇÃO DE BRUNINHO.

CENA 8. EMISSORA. ESTÚDIO DE TV. INT. DIA
ABRE A CENA EM MARTA, MAIS MAU HUMORADA DO QUE NUNCA
DIZENDO O SEGUINTE TEXTO. ESTAMOS FECHADOS NO ROSTO DE
MARTA.

MARTA — Pô. Eu queria muito ficar aqui
abraçadinha contigo. Mas nem rola. Amanhã
eu tenho aula cedinho e se eu chegar
tarde em casa a minha mãe me mata. Bora
no show do Fiuk nesse finde?

BELCHIOR SOLTA UMA RISADA. ABRE O QUADRO E VEMOS QUE MARTA
ESTÁ DIANTE DE MARCO COM O TEXTO NA MÃO.

MARTA — Chega, Belchior, eu não vou ficar fazendo
esse papel ridículo.

BELCHIOR — Opa, opa, opa. Eu sou o diretor e to aqui
pra ensaiar as cenas antes do começo das
gravações. O Marco, ator, também
disponível. Se você, como produtora, não
sabe do paradeiro da sua atriz, o mínimo
que você pode fazer é ensaiar no lugar
dela.

MARCO — Não, Belchior, tá tranqüilo. A gente
ensaia amanhã, eu não me importo não.

BELCHIOR — Mas eu sim. Vamos passar agora a cena 2,
capítulo 3. (LÊ) Vitória acaba de ver
Daniel beijando Manu. Ela está aos
prantos.

MARTA, DE MAU HUMOR, LÊ O TEXTO.

MARTA — Você não podia ter feito isso comigo. Eu
não to pronta pra ter o coração
despedaçado.

MARCO — Mas eu não te traí!

MARTA — Traiu sim, eu vi. E você sempre soube de
mim. Você sempre soube que eu era virgem!

BELCHIOR — Marta! (P) Aos prantos...

CENA 9. RUAS JOVENS E DIVERTIDAS. EXT. DIA
BETA E DIANA SEGUEM CONVERSANDO.

BETA — Tem certeza que é só isso?

DIANA — Tenho, ué?

BETA — “Insegurança trepidante diante dos novos
fatos que se configuram”? Foi isso que te
fez me ligar?

DIANA — É, Roberta. Fiquei insegura, nervosa, foi
isso.

BETA — E não rolou mais nada naquele estúdio de
televisão?

DIANA — Não.

BETA — Nenhuma briga sua com o Marco?

DIANA — Não. Quer dizer, rolou. Mas isso também
já não me abala nem mais um pouco.

BETA — Eu to vendo.

DIANA — Beta o fato de ter dúvidas sobre fazer
Boladão não tem a ver com o Marco e ponto
final.

BETA — Tá tudo bem, não tá mais aqui quem falou.

DIANA — Obrigada.

BETA — Mas afinal de contas? Você vai ou não vai
assinar o contrato. Você vai ou não vai
fazer Boladão?

CENA 10. EMISSORA.ESTÚDIO.INT. DIA
MARCO E MARTA ENSAIANDO. BELCHIOR ASSISTINDO A TUDO ACHANDO
MUITA GRAÇA. MARTA DÁ O TEXTO NO MÁXIMO DO MAU HUMOR.

MARCO — Acredita em mim, Vitória.

MARTA — Eu quero muito, mas fica difícil de
acreditar

MARCO — Você tá dizendo que não confia mais em
mim?

MARTA OLHA O TEXTO E MANDA:

MARTA — (SECA) É.

MARCO — Peraí, Marta, tem uma fala enorme aí você
só disse/

MARTA — (SEM SACO) Depois do que eu vi ontem fica
muito difícil pra mim, te olhar e não
lembrar daquela cena de você com a Manu.
Corta o meu coração, cara. E é por isso
que mesmo me doendo muito e me machucando
fundo eu não confio mais em você.
(QUEBRA) Satisfeito?

MARCO — Eu quero te dizer que confiando ou não
confiando eu vou lutar até a morte pra
ter você de volta. Por que eu não vivo
mais sem o seu beijo, Vitória. Eu preciso
dele pra viver.

OS DOIS CONGELAM UM TEMPO. MARTA OLHA PARA BELCHIOR. CORTA
PARA BELCHIOR QUE ESTÁ SORRINDO, SACANA.

BELCHIOR — O beijo! Não vai rolar o beijo?

MARTA SAI PUTA.

BELCHIOR — (PARA MARCO) Sorte a tua. Ela tem bafo.

PASSAGEM DE TEMPO
IMAGENS DO RIO DE JANEIRO AO ANOITECER

CENA 11. CASA DE DIANA. SALA.INT.NOITE
LÚCIA VENDO UM FILME NA TV. E FERNANDO NO SOFÁ LENDO. DIANA
APARECE.

DIANA — Gente, vim dar boa noite.

FERNANDO — Já vai dormir?

DIANA — É, amanhã eu acordo cedo.

LÚCIA — Boa noite, filha.

FERNANDO — Dorme bem.

DIANA SAI. FERNANDO SEGUE LENDO UMA REVISTA.

LÚCIA — Fernando.

FERNANDO — Oi.

LÚCIA — Que será que aconteceu, hein?

FERNANDO — Ah, coisa do fundo monetário.

LÚCIA — Hein?

FERNANDO — O FMI, Lúcia. Ajustou taxa de juros e
babou geral. Foi isso que aconteceu.

LÚCIA — Eu to falando da Diana!

FERNANDO — Ah, tem alguma coisa de errado com ela?

LÚCIA — Tem, né!

FERNANDO — Ué. O que será que aconteceu?

LÚCIA REVIRA OS OLHOS.

CENA 12. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA
LÚCIA ENTRANDO NO QUARTO DE DIANA.

LÚCIA — Oi filha, posso entrar?

DIANA — Entra mãe.

LÚCIA — Eu vim saber como você tá.

DIANA — To bem, ué, por quê?

LÚCIA — Diana são oito e meia da noite e você
disse que tava indo dormir.

DIANA — Ah, mãe, to cansada.

LÚCIA — Tava passando Deus e o Diabo na Terra do
Sol quando você apareceu na sala e você
não comentou nada.

DIANA — O Glauber me entregou, né?

LÚCIA — Se tá passando um filme do Glauber Rocha
e você não comenta é porque a coisa é
séria.

DIANA — É que eu fui assinar o contrato hoje lá
na emissora.

LÚCIA — E...

DIANA — E aconteceu uma coisa muito estranha.

LÚCIA — Uma coisa estranha? O quê?

CENA 13. QUARTO DE MARCO.INT.NOITE
MARCO NA CAMA ESCREVENDO NO CADERNINHO. BRUNINHO ENTRA E
NÃO FALA NADA. MARCO SE ASSUSTA UM POUCO.

MARCO — Bruninho? O que é que tu ta fazendo aqui,
cara? Minha vó deixou você entrar?

BRUNINHO — Eu subi pela árvore de trás e pulei a
janela da cozinha.

MARCO — Que isso Bruninho?

BRUNINHO — Claro que a tua vó me deixou entrar, tu
acha que eu sou maluco?

MARCO — Foi mal, cara. Eu ia te ligar depois que
eu saí da TV hoje, mas...

BRUNINHO — Mas tu tá fugindo de mim.

MARCO — Claro que não, Bruninho.

BRUNINHO — Marco. Você pode até não querer me contar
esse segredo idiota, mas mentir pra mim
na cara dura não dá. Eu te conheço. Eu
sei que você tá fugindo de mim.

MARCO COM CARA DE PÁSSARO ASSUSTADO.

CENA 14. CASA DE DIANA. SALA.INT.NOITE
DIANA E LÚCIA SEGUEM CONVERSANDO.

DIANA — É que hoje, lá no estúdio, eu tive uma
discussão com o Marco. O menino que
passou no teste/

LÚCIA — Eu sei quem é o Marco.

DIANA — E a gente tava brigando, batendo boca. Aí
no meio da briga eu...

LÚCIA — Você.

DIANA — Eu...

DIANA FICA COM OS OLHOS CHEIOS D’ÁGUA.

DIANA — Eu não consigo falar.

LÚCIA — Não consegue?

DIANA FAZ QUE NÃO.

DIANA — Eu tenho vergonha.

LÚCIA — Diana, sou eu. Sua mãe. Peraí, deixa eu
reformular a frase: Diana, sou eu, sua
mãe gata, descolada e só dezoito anos
mais velha que você! Pode me contar.

DIANA — É que eu não to com vergonha de você,
mãe.

LÚCIA — Não?

DIANA — Eu to com vergonha de mim. Com vergonha
de admitir pra mim mesma uma coisa que tá
na minha cara.

LÚCIA — Como assim?

DIANA — Você tem razão. Eu sempre fui meio dona
da verdade. Sempre tive a sensação de
que, por ser assim, um pouco diferente
dos jovens da minha idade, eu sabia um
pouquinho mais, sabe?

LÚCIA — Sei.

DIANA — E agora eu to percebendo que eu não sei
tanto assim. Pelo menos não tanto o
quanto eu acho. E dói.

ELA CHORA.

LÚCIA — Dói. Mas a dor passa. Eu garanto que ela
passa.

AS DUAS ABRAÇADAS.

LÚCIA — Filha. Vamos fazer uma coisa? Eu to vendo
que você tá muito angustiada. Dorme.
Esquece que o mundo existe. Mergulha num
livro ou vê um filme bem idiota. Amanhã
olha pra essa angústia de novo. Eu
garanto que você vai tá bem melhor.

AS DUAS SE ABRAÇAM.

CENA 15. QUARTO DE MARCO.INT.NOITE
MARCO E BRUNINHO, UM DIANTE DO OUTRO.

MARCO — Bruninho, desculpa, cara. É que eu to
passando por uma parada muito difícil. Eu
to tendo que enfrentar o momento mais
barra pesada da minha vida.
BRUNINHO — E você não pode dividir isso com o teu
melhor amigo. Pô, Marquito. Sou eu, cara.

MARCO — É difícil, Bruninho. Eu até queria mas/

BRUNINHO — Se você não fala então eu vou falar.
Marco, tu é gay?

MARCO — Hein?

BRUNINHO — Marquito não tem o menor problema se tu
for.

MARCO — Bruninho...

BRUNINHO — Eu te amo, irmão.

MARCO — Eu sei.

BRUNINHO — Se você for gay eu vou continuar te vendo
como sempre. Vai ser estranho, mas.

MARCO — Bruninho eu não sou gay!

BRUNINHO — Não?

MARCO — Não. Eu sou virgem.

BRUNINHO — Como é que é???

FIM

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