segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 15

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO QUINZE

CENA 1. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. NOITE
CONT IMEDIATA DA CENA 17. DIANA OLHA PARA OS DOIS NÚMEROS
SEM SABER O QUE FAZER. PEGA O CELULAR E LIGA. ELA ESPERA UM
POUCO.
ATENÇÃO: INTERCALAR DIÁLOGOS COM:

CENA 2. QUARTO DE MARCO. INT. NOITE
MARCO AO TELEFONE. O CADERNINHO PRETO POR ALI.

MARCO — Oi Diana.

DIANA — To te atrapalhando?

MARCO — Não, imagina. Pode falar.

DIANA — Eu só liguei pra... te perguntar a que
horas que marcaram com a gente no estúdio
amanhã.

FAZ UMA CARA DE “ QUE IDIOTA”.

MARCO — Ah... É... Duas.

DIANA — Duas?

MARCO — É.

DIANA — Da tarde?

AGORA FAZ CARA DE “QUE JUMENTA”.

MARCO — Da tarde, Diana.

DIANA — É, claro que é da tarde. Não sei porque é
que eu perguntei isso.

MARCO — Não, né? (P) Mas eu sei.

DIANA — Sabe?

CENA 3. SHOPPING. INT. NOITE
CONTINUAÇÃO DA CENA 16 DO CAP 14. BETA E BRUNINHO OBSERVAM
CLÁUDIO E BIANCA, QUE CHEGAM. BRUNINHO PEGA UM COPO DE
REFRIGERANTE NA MESA EM ALGUM MOMENTO DO INÍCIO DA CENA OU
DA ANTERIOR.

BRUNINHO — Alá. É o babaca do Cláudio e a delícia da
Bianca.

BETA — Corrigindo: é a delícia do Cláudio e a
delícia da Bianca.

BRUNINHO OLHA MEIO ASSUSTADO PARA BETA.

BETA — Que foi? Não é porque eles são péssimos
atores que ele não são gostosos: eles tão
vindo pra cá!

CLÁUDIO E BIANCA CHEGAM.

BIANCA — E aí, galera?

BRUNINHO — Fala, Bianca. (GROSSO) E aí, Cláudio.

BETA — Beleza?

BIANCA — Beleza.

CLÁUDIO — Pô, assim... belezão

BRUNINHO — Empolgadinho o garoto.

DÁ UM GOLE NO REFRIGERANTE.

BETA — Vocês vieram no cinema?

BIANCA — Não, a gente veio se pegar.

BRUNINHO ENGASGA.

CLÁUDIO — Tá tudo bem, cara?

BRUNINHO — (PUTO) Pô, assim, tudo benzão.

BETA DÁ UMA RISADINHA.

CENA 4. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. NOITE
DIANA AO TELEFONE.

DIANA — Como assim você sabe?

CENA 5. QUARTO DE MARCO. INT. NOITE
MARCO AO TEL.

MARCO — Ah, Diana. Você me perguntou se era de
tarde porque você ficou sem saber o que
dizer.

DIANA — Simples assim?

MARCO — Você realmente me ligou pra perguntar a
hora que marcaram amanhã?

DIANA — Liguei, ué. (PAUSA) Tá bom nós dois
sabemos que não.

MARCO — Caramba. Você admitiu?

DIANA — Era o mínimo que eu podia fazer depois de
ontem.

MARCO — Ontem?

DIANA — Quando eu perguntei “quê” e você não
respondeu com prrrrrrrr.

MARCO — (RI) Que bom que a gente finalmente tá se
entendendo.

DIANA — É a gente tá mesmo.

MEGA SILÊNCIO ENTRE OS DOIS. CLIMINHA.

DIANA — Marco.

MARCO — Fala, Diana.

UM BREVE SILÊNCIO. DIANA NÃO SABE O QUE FALAR.

DIANA — Tem certeza que duas da tarde mesmo?

CENA 6. SHOPPING. INT. NOITE
CONTINUAÇÃO DA CENA 3. MESMA CONFIGURAÇÃO.

BIANCA — E vocês? Também vieram se pegar?

BRUNINHO — (NERVOSO) Não, a gente veio escolher uma
roupa pra Beta.

BETA FAZ UMA CARA.

CLÁUDIO — Ah, é?

BRUNINHO — Pro concurso de Beleza Gorda que vai ter
no Country Club.

BETA FAZ OUTRA CARA.

CLÁUDIO — Concurso de Beleza Gorda?

BIANCA — Nossa eu nunca tinha ouvido falar nesse
concurso.

BETA — É novo. Foi pra substituir o Campeonato
de Jovens Bichas que terminou ano
passado.

CLÁUDIO — Que irado! E terminou por quê?

BETA — O Bruninho foi declarado imbatível.

CLÁUDIO — Ah (PAUSA) tá.

BIANCA RI.

CENA 7. QUARTO DE MARCO. INT. NOITE
MARCO AO TEL.

MARCO — Diana, você realmente ia me perguntar
isso?

ATENÇÃO: INTERCALAR DIÁLOGOS COM:

CENA 8. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. NOITE
DIANA AO TEL.

DIANA — (FOFA) Ai que saco, porque é que é tão
difícil?

MARCO — Ah, porque rola uma parada entre agente.

DIANA — Parada?

MARCO — É. Eu não sei o quê que é. Eu só sei que
quando eu to do seu lado... eu fico mais
quente.

DIANA — Mais quente.

MARCO — E mais frio ao mesmo tempo.

DIANA — Como assim?

ENTRA MÚSICA.

MARCO — Sabe aquela sensação que você sente um
segundo antes da bola do seu time entrar
no gol quando você tá torcendo no estádio
de futebol? Ou quando você tá no cinema
vendo um filme de terror entra aquele som
fortão e te dá baita susto? Ou aquele
momento que o seu olho enche d’água
porque você viu a sua mãe chegando no
aeroporto? Quando eu to do seu lado é
como se eu sentisse tudo isso junto. Só
que não dura só esses segundinhos. Dura
mó tempão.

DIANA — Marco.

MARCO — O quê?

DIANA — Eu preciso te dizer uma coisa.

CENA 9. SHOPPING. INT. NOITE
CONT DA CENA 6.

BIANCA — Bom, galera, a gente vai indo porque a
mãe do Cláudio não deixa ele chegar em
casa depois da meia-noite.

CLÁUDIO — Eu já te falei que é só hoje! (PAUSA) Ela
me botou de castigo porque eu bebi muito
energético no fim de semana. (SENTIDO)
Rasguei o sofá e tal...

ELES VÃO SAIR E BRUNINHO INTERCEPTA.

BRUNINHO — Peraí. Só pra esclarecer. Essa história
de campeonato de jovem bicha (RI)... É
lorota da Beta.

BIANCA — Fica tranqüilo, gato.

BRUNINHO — Que bom...

BIANCA — Meu irmão é gay e eu não tenho o menor
preconceito. Aliás eu até podia te
apresentar pra ele. Suuuuper rola.

BRUNINHO — Hã?

BIANCA — É que ele se amarra num baixinho
esquisito que nem tu.

BRUNINHO — Não, mas...

DÁ UM TAPA EM CLÁUDIO.

BIANCA — Vambora!

CLÁUDIO — Ai, meu mamilo.

CENA 10. QUARTO DE MARCO. INT. DIA
MARCO AO TEL.

MARCO — Fala, Diana. O que é que você tem pra me
dizer.

INTERCALAR DIÁLOGOS COM:

CENA 11.CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. DIA
DIANA AO TEL.

DIANA — Eu também sinto... coisas com você. Desde
o primeiro dia que eu te vi que você
esbarrou em mim lá no calçadão. (P) Ou eu
esbarrei em você.

MARCO — (SORRI) A gente se esbarrou, Diana.

DIANA — Isso. A gente se esbarrou. Os meus livros
caíram e...

MARCO — A minha prancha também.

DIANA — Mas não foi só isso, Marco. Tem mais
alguma coisa caiu. (ENTRA MÚSICA) Alguma
coisa que caiu e quebrou. Só que eu não
to conseguindo juntar os caquinhos.

MARCO — O que é que você tá querendo dizer,
Diana?

DIANA — Eu to querendo dizer que desde que eu te
conheci eu não me reconheço mais. Eu,
Diana. Não me vejo mais como eu era. Eu
não me vejo mais como eu era antes.

DIANA RESPIRA FUNDO E SORRI. É COMO SE ELA TOMASSE TIVESSE
REALIZADO.

DIANA — É por isso que eu decidi, Marco: eu não
posso mais seguir assim. Eu preciso...

MARCO — Eu já sei.

DIANA — Já sabe?

MARCO — Tem a ver com o seu namorado, né? O que
mora na Europa?

CORTA PARA DIANA QUE TENTA ARTICULAR ALGO E NÃO CONSEGUE.

MARCO — Não precisa falar nada, Diana. Por mais
que eu sinta por você tudo o que eu já te
falei, respeito a sua decisão. Eu também
tenho namorada e eu acho que é melhor
assim.

DIANA — Melhor?

MARCO — Bicicleta e Melancia, né? Como você
mesma disse a gente é muito diferente.

DIANA — (PERDIDA) É. Bicicleta e Melancia.

MARCO — Fica tranqüila, Eu vou fazer o máximo pra
gente ser amigo. Só amigo. Amanhã a gente
se vê no estúdio. Beijo.

MARCO DESLIGA O TELEFONE.
ATENÇAO. CENA PROSSEGUE SÓ NO QUARTO DE DIANA.

DIANA — Só amigo?

PASSAGEM DE TEMPO.
IMAGENS DO RIO AO AMANHECER.

CENA 12. PRAIA. EXT. DIA
MARCO E GASTÃO CONVERSANDO NA AREIA.

MARCO — Caraca, menos de um mês!

GASTÃO — To te falando. Tu fica de bobeira vai
mandar mal nesse campeonato.

MARCO — Que isso, mestre, eu vou me esforçar. É
que eu não sabia que tava tão em cima.

GASTÃO — E o teu programa? Estréia quando?

MARCO — Na merma semana do campeonato.

GASTÃO — Sério?

MARCO — Quando eu soube eu fiquei boladão.

GASTÃO RI.

MARCO — Que foi?

GASTÃO — Que quando tu soube da estréia de Boladão
tu ficou boladão (RI MAIS/SÍLVIO) Boa
piada, boa piada.

CENA 13. TEATRO. INT. DIA
BETA E BRUNINHO EMBURRADOS UM COM O OUTRO. ALUNOS SE
AQUECENDO E TAL. PODEMOS VER CLÁUDIO E BIANCA AO LONGE.

BRUNINHO — Gorda do mal.

BETA — Pega nínguem bichona.

BRUNINHO — Eu não sou bichona.

BETA — E eu não sou do mal!

BRUNINHO — Agora a Bianca vai ficar achando que eu
sou gay e não vai nunca querer nada
comigo.

BETA — Quem mandou você querer tirar uma com a
minha cara na frente daqueles dois.

BRUNINHO — Saiu sem querer. Eu não queria que eles
achassem que a gente tava se pegando.

BETA — Porque eu sou gorda?

BRUNINHO — Claro que não. Sempre peguei mulé grande.
A minha última namorada tinha pra mais de
um e oitenta.

BETA — Ah, claro.

BRUNINHO — A mulé ficou gamadona aqui no “garoton”
mas eu não quis mais, sabe?

BETA — Ah, não?

BRUNINHO — Muito trabalho pra beijar...

FAZ UMA RÁPIDA MÍMICA DE QUEM ESTÁ ESCALANDO.

CENA 14. PRAIA EXT. DIA
CONT DA CENA 10.

GASTÃO — Me fala uma parada. E a lourinha?

MARCO — A Diana? O que é que tem?

GASTÃO — Como o que é que tem? Tu comeu?

MARCO — Gastão, eu te disse que eu não queria
nada com ela. Eu to namorando com a Gabi,
esqueceu?

GASTÃO — (DESCOMPENSADO) “Esqueceu”? Tá maluco,
Marco? Como é que eu ia esquecer? Da
Gabi? Como é que eu ia esquecer da Gabi?

MARCO — Calma, Gastão, foi só uma pergunta.

GABI EM MAIS UMA DE SUAS APARIÇÕES.

GABI — Oi!

GASTÃO TOMA UM MEGA SUSTO.

GASTÃO — Aaaaaaaaaaahhh.

MARCO — Oi Gabi.

GABI — E aí meninos? Aposto que vocês tavam
falando de mim.

CENA 15. TEATRO. INT. DIA
CONT. DA CENA 12. BETA E BRUNINHO CONVERSAM.

BRUNINHO — Então, Beta, eu adoraria ficar te
contando da minha vida sexual com a minha
ex-namorada modelo.

BETA — Claro.

BRUNINHO — Mas a pergunta é: como é que a gente vai
desfazer aquela meleca que rolou ontem?

BETA — Você tá falando do jogo do Coríntians?

BRUNINHO — Eu to falando da Bianca ter certeza de
que eu sou gay!

BETA — Relaxa, a gente vai dar um jeito da
Bianca achar que você é mó machona.

BRUNINHO — Muito obrigado.

DIANA CHEGA. VAI ATÉ BETA. BRUNINHO FICA ALI PARADO.

BETA — Diana! Apareceu a Margarida.

DIANA — Eu vim rapidinho e já vou ter que voltar
pra casa porque hoje de tarde começam as
gravações. Na verdade eu só vim dizer pro
Melchior que eu não vou consegu/

DIANA SE DÁ CONTA DE QUE BRUNINHO TÁ ALI. QUASE UM DOUBLE
TAKE.

DIANA — O que é que ele tá fazendo aqui?

CENA 16. PRAIA. EXT. DIA
CONT IMEDIATA DA CENA 14.

GASTÃO — Como é que tu sabe que a gente tava
falando de você?

GABI — (MISTÉRIO) Uuuuuuuuuuuu.

VAI ATÉ MARCO.

GABI — É aí, Marquito?

DÁ UM MEGA BEIJO NELE. GASTÃO DESCONFORTÁVEL. ELA SAI DO
BEIJO E MARCO VIRA O ROSTO. GABI ENTAO DÁ UMA PATOLADA EM
GASTÃO.

GABI — Oi Gastão.

GASTÃO — Aaaaaaaaah.

MARCO — Que foi Gastão?

GASTÃO — (VOZ FINA) Cãimbra.

GABI — Mas então. O que é que vocês tavam
falando de mim?

MARCO — Nada... Eu só tava dizendo pro Gastão que
a gente tá namorando firme.

GABI FAZ UMA CARA DE “GENTE, OLHA ISSO”.

GABI — Gente. Olha isso. (P) Me responde. O meu
namorado é ou não é a coisa mais fofa do
mundo?

E DÁ UM TAPA MEIO DESCOMPENSADO NA CABEÇA DE MARCO.

MARCO — Ai, Gabi.

CENA 17. TEATRO. INT. DIA
DIANA DIANTE DE BETA E BRUNINHO.

DIANA — Você agora faz curso de teatro?

BRUNINHO — Você não contou pra ela?

BETA — Vamos resolver o quesito Bruninho depois?

CLÁUDIO ENTRA COM BIANCA.

CLÁUDIO — Oi gente!

BIANCA — Fala galera. E aí, Beta? Achou sua roupa
pro concurso de Beleza Gorda?

BETA — (SORRI) Ainda não.

BIANCA — Por quê?

BETA — (FECHA A CARA) Nenhuma coube!

BRUNINHO — Vamo aquecer? Bianca, faz dupla comigo?

BIANCA — Claro, bi.

CLÁUDIO — Heheheh.

E SAEM OS TRÊS.

DIANA — Uma semana sem vir ao teatro e o mundo
vira outra dimensão.

BETA — Depois eu te explico. Mas e aí: ligou pro
Estevão?

DIANA — Liguei. (P) Ele não atendeu.

BETA — Jura?

DIANA — Eu não dormi a noite inteira.

BETA — Ai, amiga, relaxa. Pelo menos você tá
fazendo a sua parte.

DIANA — Ah, antes de ligar pra ele eu liguei pro
Marco.

BETA — Ah, é?

DIANA — E ele atendeu.

BETA — Me conta, como é que foi?

DIANA — Hoje de noite eu conto tudo. (BRINCA)
Agora deixa eu falar com o Melchior senão
a bicha vai ficar louca.

BETA VAI FALAR ALGO.

DIANA — Brincadeirinha!

CENA 18. PRAIA. EXT. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA 16. GASTÃO, GABI E MARCO.

GABI — Mas diz pra mim. O meu namorado é ou não
é uma coisa!

GASTÃO — (DESCONFORTÁVEL) É. Uma coisa.

GABI — Com um namorado desse ia ser quase um
crime eu ter um amante. (RI) A louca!

GASTÃO — Bom, eu vou indo...

GABI — Não, fiquem aí, homens. Eu é que vou
indo. Eu tenho que me arrumar porque eu
tenho uma coisa muito importante pra
fazer na hora do almoço.

MARCO — O quê?

GABI — (MISTÉRIO) Uuuuuuuuuu. Mas de tarde eu
volto pra pegar um bronze. (PARA GASTÃO)
Y otras cositas más.

MARCO — Outras cositas?

GABI — Tatuí! Beijo!

GABI SAI. GASTÃO ESQUISITO.

CENA 19. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA
DIANA ENTRANDO EM CASA NA SALA COM LÚCIA PINTANDO.

DIANA — Oi mãe.

LÚCIA — Ih, só pela voz já vi que tem problema.

DIANA — Ai, eu to com medo de nunca conseguir
falar com o Estevão.

LÚCIA — Mas por quê?

DIANA — Eu liguei ontem e ele não me atendeu.

LÚCIA — Tenta de novo hoje.

DIANA — É que eu acho que ele não vai me atender.

LÚCIA — Mas por quê?

DIANA — Quando a gente combinou de cortar contato
e só retomar quando ele voltasse eu disse
pra ele não me atender nunca. Mesmo que
eu não agüentasse de saudade e ligasse.

LÚCIA — Ai, Diana, mas essa história também viu?
Só funciona em filme.

DIANA — Nem em filme.

LÚCIA — Ué. Mas não funcionou no “Antes do
amanhecer”?

DIANA — Você não viu a seqüência? “Antes do por
do sol”? Eles só conseguiram se encontrar
oito anos depois. Foi uma tragédia.

LÚCIA — Que horror.

TOCA A CAMPAINHA. ATENÇÃO SONOPLASTIA, TOQUE DE CAMPAINHA!

DIANA — Deixa que eu abro.

DIANA VAI ABRIR. É GABI.

GABI — Oi.

DIANA — Gabi?

CENA 20. TEATRO. INT. DIA
PARES: BRUNINHO ALONGANDO BIANCA. CLÁUDIO ALONGANDO BETA.
MELCHIOR ANDANDO.

BIANCA — Menina, você tem que conhecer o meu
irmão. O garoto é uma coisa. Tem uma
bundinha.

BRUNINHO — Bianca. Que saco! Eu já disse que eu não
sou gay!

BIANCA — Relaxa, bi, eu já falei que eu não tenho
preconceito.

CORTA PARA BETA E CLÁUDIO. CLÁUDIO PUXANDO OS BRAÇOS DE
BETA POR TRÁS. ELE ESTÁ MEIO TRAVADO.

BETA — Ai, Cláudio. Tá me machucando.

CLÁUDIO — Foi mal aê.

ELE SOLTA E PUXA O BRAÇO DE NOVO.

BETA — Ai, Cláudio! Tá doendo. Você tá com algum
problema?

CLÁUDIO — To.

BETA — O que é que foi?

CLÁUDIO — É que eu tomei energético no café da
manhã. Fritei pão de queijo e tal...

MELCHIOR CHEGA BATENDO PALMA.

MELCHIOR — People! Vamos lá? Hoje a gente vai
começar a estudar um dramaturgo muito
especial que sempre defendeu as minorias.

CORTA PARA BIANCA FAZENDO UMA CARA DE COMPAIXÃO COM
BRUNINHO. FECHA EM BRUNINHO UM TANTO IRRITADO.

CENA 21. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA
CONTINUAÇÃO NÃO IMEDIATA DA CENA 17. GABI JÁ COM DIANA NO
QUARTO CONVERSANDO.

GABI — Então, Diana. Eu vim aqui porque eu tenho
uma coisa muito importante pra conversar
com você.

DIANA — Comigo?

GABI — Na verdade é um pedido. E eu acho que só
você pode me ajudar.

DIANA — Só eu posso te ajudar? Pode falar.

GABI VAI FALAR E O CELULAR DE DIANA TOCA. ATENÇÃO
SONOPLASTIA: TOQUE DE CELULAR. DIANA OLHA.

DIANA — Ai, Gabi, desculpa. Número confidencial
deve ser da emissora.

ELA ATENDE.

DIANA — Alô. (HITCHCOCK) Estevão?

FIM

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 14

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla


CAPÍTULO CATORZE

CENA 1. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA

DIANA — (SUPER LÁ) Que bom que você não fez
aquela brincadeira idiota.

MARCO — Não. Mas tem uma coisa que eu vou fazer.

DIANA — O quê?

MARCO VAI BEIJAR DIANA. ENTRA MÚSICA. QUANDO ELES ESTÃO
PARA SE BEIJAR GABI APARECE.

GABI — Marco!

MARCO — Gabi.

DIANA — Gabi?

GABI — Marco! (P) Diana.

MARCO — Oi Gabi!

DIANA — Oi Gabi!

GABI — O que é que isso?

DIANA — Isso o quê?

GABI — Diana, você tava pra enfiar a língua na
goela do meu namorado e tá me perguntando
“isso o quê”?

MARCO — Que isso, Gabriela?

DIANA — (EM CIMA/SUPER NORMAL) A gente tava
ensaiando uma cena.

GABI — Uma cena?

DIANA — A gente tava ensaiando uma cena.

GABI — (PUTA) Vocês tavam ensaiando uma cena?

MARCO — Isso. A gente tava ensaiando uma cena.

UM BREVE SILÊNCIO.

GABI — (ENTENDE) Vocês tavam ensaiando uma cena!

MARCO — A gente tava ensaiando uma cena.

DIANA — É. Era uma cena.

GABI — Que máximo.

DIANA — Né?

GABI — Continua!

MARCO — Oi?

GABI — (SINCERA) Continua a cena! Eu quero ver!

FECHA NA SAIA JUSTA DE MARCO E DIANA.

CENA 2. TEATRO. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 16 DO CAP 13.

BETA — Como é que eu vou te ajudar a ficar com a
Bianca?

BRUNINHO — Ah, você é esperta. Tu vai saber.

BETA — E o que é que eu ganho em troca?

BRUNINHO — Caramba! (P) A minha amizade, ué?

BETA — E o que é que te faz pensar que eu quero
a sua amizade?

BRUNINHO — Eu já disse. Você é esperta.

BETA — Tá bom, Bruninho. Eu vou te ajudar a
conquistar a Bianca.

BRUNINHO — Sério.

BETA — Super. Desde que acabou a última
temporada do “Vai pra onde” eu tenho
sentido falta da presença de algum Bruno
na minha vida.

BRUNINHO — Pô, mas eu sou muito melhor que o Bruno
de Luca, vai.

FECHA NUMA EXPRESSÃO GENIAL DE BETA.

CENA 3. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 1. MARCO E DIANA CONGELADOS DIANTE DE
GABI.

GABI — Vai gente! Faz a cena, to louca pra ver.

MARCO — Ah, Gabi. Assim na sua frente é
esquisito.

GABI — Esquisito por quê, gente. É cena. (PARA
DIANA) Só não pode botar a língua. (P) Tá
bom só um pouquiho.

DIANA — Eu tenho que ir embora. Foi mal, Gabi.
Mas é que eu combinei de me encontrar com
a Beta agora. E eu já to atrasada.

GABI — Ah, que pena.

DIANA — Muita pena.

GABI — Vamo combinar de fazer alguma coisa esses
dias. Eu passo na sua casa pra gente
papear.

DIANA — Claro, na minha casa...

GABI — Eu tenho o seu endereço.

DIANA — Tem? Como é que você tem?

GABI RI.

DIANA — (ESTRANHA) Bom, gente, eu vou indo. Pra
não me atrasar. Tchau.

DIANA SAI. GABI REPETE A RISADA PARA MARCO.

CENA 4. TEATRO (OU RUA). INT (OU EXT). DIA
CONTINUAÇÃO NÃO IMEDIATA DA CENA 2. BETA E BRUNINHO SEGUEM
CONVERSANDO.

BRUNINHO — Mas o que é que tu tá pensando em fazer
pra me ajudar a carcar a Bianca?

BETA — A gente pode começar por uma aula de
etiqueta. “Carcar a Bianca”?

BRUNINHO — É o meu jeitinho.

BETA — Jeitinho totalmente corta tesão, sinto
dizer. Se você quer conquistar a garota
você vai ter que mudar muuuuuuita coisa.

BRUNINHO — Já é!

PULA NA FRENTE DE BETA E ABRE OS BRAÇOS.

BRUNINHO — O que é que eu faço pra mudar?

BETA — Que tal nascer de novo?

BRUNINHO — Não entendi.

BETA — Deixa pra lá. Eu tenho que ir.

BRUNINHO — Peraí, mas tu não vai me ajudar?

BETA — Hoje, mais tarde, no shopping. Agora eu
fiquei de encontrar com a Diana e já to
atrasada. Beijo!

BETA SAI. BRUNINHO FICA ALI.

BRUNINHO — (PARA SI) Nascer de novo?

CENA 5. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
CONTINUAÇÃO NÃO IMEDIATA DA CENA 3.

MARCO — Como é que você entrou aqui na emissora,
Gabi?

GABI — O segurança é amigo meu e me deixou
entrar.

MARCO — Você é amiga de um dos seguranças?

GABI — Muito. Eu sou amiga da garotada!

MARCO — Hein?

GABI — Que pena que a Di foi embora.

MARCO — E como é que você sabia onde ela mora?

GABI — (MISTÉRIO) Uuuuuuuuuu. Nossa, Marquito.
Quando eu cheguei aqui eu achei que você
ia beijar a Didi de verdade.

MARCO — Didi de quê?

GABI — Vocês dois! Quando eu vi vocês dois eu
achei que era beijo mesmo, sabe?

MARCO — Sei.

GABI — Me deu um negócio. Eu não sei nem o que
eu faria se você me traísse.

MARCO — Fica tranqüila que eu não vou te trair,
Gabi.

GABI — Eu sei, né?

MARCO — Sabe?

GABI — Claro. Você não quer que eu conte pro
mundo inteiro que você é virgem.

MARCO — Dá pra falar mais baixo?

GABI — Vamo almoçar? Que eu to com fome? Hoje eu
to com uma vontade de comer rabanete!

GABI SAI. MARCO VAI ATRÁS. CAM CORRIGE PARA MARTA QUE
ESTAVA ALI PERTO OUVINDO TUDO.

MARTA — (PARA SI) Virgem?

CENA 6. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. DIA
BETA E DIANA CONVERSAM E OUVEM MÚSICA. ESTÁ TOCANDO, CLARO,
THE SMITHS.

BETA — Então quer dizer que você deu um beijo no
Marco ontem?

DIANA — Foi.

BETA — E hoje quase rolou de novo?

DIANA — Isso.

BETA — E a Gabi chegou bem na hora?

DIANA — É.

BETA — Gente, que máximo. Sua vida tá parecendo
um seriado de TV, amiga!

DIANA — Menos, Roberta.

BETA — Eu sempre soube que eu tinha razão quanto
ao Marco.

DIANA — Na verdade eu não sei o que eu sinto por
ele.

BETA — Começa com “t” e termina com “esão”.

DIANA — É que não é só tesão.

BETA — Ih, meu pai então o negócio era mais
sério do que eu pensava.

DIANA — Não é sério. Mas eu não sei o que é.

BETA — Diana. Chega. A sua vida não é uma série
de TV e muito menos um filme com o Ethan
Hawke e a Julie Delpy.

DIANA — Roberta.

BETA — Chegou a hora, nega. Chegou a hora da
gente voltar a falar do Estevão.

CENA 7. EMISSORA. ESTÚDIO (OU SALA DE ESPERA). INT. DIA
BELCHIOR LENDO UM TEXTO E MARTA SE APROXIMA.

MARTA — Tá ocupado?

BELCHIOR — Sempre.

MARTA — Posso dar uma palavrinha com você?

BELCHIOR — Nunca.

MARTA — Ai, Belchior, deixa de ser mala.

BELCHIOR — Você me inspira.

MARTA — Será que dá pra você parar um pouquinho o
que você tá fazendo pra prestar atenção
no que eu tenho pra te dizer.

BELCHIOR PARA E OLHA PARA ELA.

BELCHIOR — Late.

MARTA — Eu descobri uma coisa que vai te deixar
muito feliz.

BELCHIOR — O quê?

CENA 8. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. DIA
CONTINUAÇAO IMEDIATA DA CENA 6. DIANA BOLADA QUANDO BETA
FALA DE ESTEVÃO.

DIANA — Eu não vou falar do Estevão.

BETA — Diana, acorda pra vida. O que vocês
combinaram só funciona em “Antes do
Amanhecer”!

DIANA — Beta...

BETA — Tudo bem, ele foi o seu primeiro amor.
Tudo bem, ele foi passar dois anos na
Europa pra estudar música. Tudo bem, você
não quer que o que vocês tinham “se
pulverize em conversas pela Internet”.

DIANA — A gente fez um pacto.

BETA — O mesmo pacto que o Ethan Hawke fez com a
Julie Delpy no filme. Ficar sem se falar
durante o tempo separado e retomar tudo
de onde parou.

DIANA — Foi uma escolha nossa!

BETA — Uma escolha de criança, Diana!

DIANA — Criança é achar que twitter, facebook e
skype dão conta de um amor como o meu e
do Estevão!

BETA — Às vezes dão, Diana. Você tá aí toda
mexida com o Marco sem saber o que fazer
porque você não sabe o que o Estevão tá
sentindo do outro lado do Oceano.

DIANA — Mas não é por isso...

BETA — É sim! Isso se resolve com um simples
telefonema.

BETA PEGA O TELEFONE E ENTREGA PRA DIANA.

BETA — E você pode acabar com esse sofrimento
agora. Ligando pro Estevão.

DIANA MEXIDA.

CENA 9.EMISSORA. ESTÚDIO OU SALA DE ESPERA. INT. DIA
CONT DA CENA 7.

BELCHIOR — Que notícia maravilhosa é essa que você
tem pra me dar?
MARTA — É uma coisa que você vem querendo há
muito tempo.

BELCHIOR — Você conseguiu convencer a Sandy a fazer
um strip tease na minha festa de
aniversário?

MARTA — Não.

BELCHIOR — Você decidiu fazer aquela plástica pra
ficar parecida com a mulher melancia?

MARTA — Claro que não.

BELCHIOR — Você finalmente aceitou aquele trabalho
na produtora de televisão pra cachorros e
vai morar no Japão.

MARTA — Como eu te odeio.

BELCHIOR — A recíproca é verdadeira. Se não é
nenhuma dessas três, eu não faço idéia do
que eu tava querendo há tanto tempo.

MARTA — Um buxixo.

BELCHIOR — Oi?

MARTA — Pra alavancar a audiência desse seu
programa idiota.

BELCHIOR — Do que é que você tá falando?

MARTA — Marco Monte Aquino é virgem.

BELCHIOR — Como é que é?

MARTA — Exatamente o que você ouviu, meu amor. Já
to até vendo as manchetes nos jornais.

CENA 9. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. DIA
BETA COM O TELEFONE ESTENDIDO PARA DIANA.

DIANA — Você acha mesmo que se eu ligar pro
Estevão tudo o que eu to sentindo vai
ganhar lugar e eu vou ficar tranqüila?

BETA — É claro que não. Mas já é um começo. Você
tem que conversar com ele pra saber como
você se sente em relação a ele.

DIANA — Exatamente como eu me sentia um ano e
meio atrás quando ele foi embora.

BETA — Mentira!

DIANA — Por quê?

BETA — Porque agora existe outra pessoa que tá
mexendo com você.

DIANA — Mas eu nem sei direito o que é que rola
com esse Marco!

BETA — E só vai saber quando você tiver certeza
o que é que tá rolando com o Estevão. E
pra isso você precisa falar com ele,
retomar o contato. Diana. Me ouve. Me
ouve pelo menos uma vez e fala com o seu
namorado.

DIANA — Tá.

BETA — Tá????

DIANA — Você tem razão. Além do mais eu sempre
achei “Antes do amanhecer” meio bobo.
Retomada do neo-realismo italiano não
colou.

BETA — Você tá me dizendo que você vai ligar pro
Estevão?

DIANA — To. Eu só preciso me acostumar mais com a
idéia. Mas eu vou ligar pra ele. Ainda
hoje.

PASSAGEM DE TEMPO.
IMAGENS DO RIO DE JANEIRO AO ANOITECER.

CENA 10. QUARTO DE MARCO. INT. NOITE
MINI ENCHEÇÃO DE LINGÜIÇA. MÚSICA DE MARCO E DIANA AO
FUNDO. MARCO ESTUDANDO TEXTO NO QUARTO. PLANO-DETALHE DO
CAPÍTULO DE BOLADÃO ONDE VEMOS ESCRITO “DANIEL BEIJA
VITÓRIA”. MARCO FICA PENSATIVO. DE REPENTE ELE SORRI UM
POUCO. JOGA O TEXTO DE LADO E PEGA SEU CADERNINHO PRETO.
COMEÇA A ESCREVER AVIDAMENTE.
MÚSICA DA CENA 10 VAZA PARA:

CENA 11. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. NOITE
MINI ENCHEÇÃO DE LINGÜIÇA. ABRE A CENA COM PLANO FECHADO NO
ROSTO DE DIANA. EXPRESSÃO DE VITÓRIA DIZENDO TUDO. TIPO...
TUDO. ELA OLHA PARA BAIXO E DESVIA O SEU OLHAR ENTRE DOIS
PONTOS. CAM ABRE E REVELA QUE DIANA ESTÁ COM A QUILHA DE
MARCO DE UM DAS MÃOS E UMA PALHETA DE VIOLÃO NA OUTRA. ELA
ABRAÇA AS DUAS COISAS OLHANDO PRA FRENTE. ESCORRE UMA
LÁGRIMA PELO OLHO DIREITO DURANTE 3 SEGUNDOS.

CENA 12. SHOPPING. INT. NOITE
BETA ESPERANDO BRUNINHO CHEGAR. ELE CHEGA VESTIDO DE FORMA
MUITO PECULIAR. ELA ESTÁ PUTA.

BRUNINHO — Hola que tal?

BETA — Que tal uma bordoada na tua fuça?

BRUNINHO — Quê?

BETA — Uma hora e meia te esperando!

BRUNINHO — Não é possível.

BETA — O que não é possível é você... existir!
(PARA SI) Droga, odeio quando eu não
consigo soltar uma frase esperta!

BRUNINHO — Cara, eu admito que eu demoro um pouco
pra me arrumar, mas nem foi tanto.

BETA — Daria pra eu ter lido a trilogia
Crespúsculo, Lua Nova e Eclipse cinco
vezes. (PARA SI) Yes!

BRUNINHO — Tudo bem, desculpa, vai. A gente pode
começar o meu curso básico de pegação.

BETA — Nem morta!

ELA SE LEVANTA PRA IR EMBORA.

BRUNINHO — Eu compro quantas fatias de bolo você
quiser naquela loja que tu gosta.

BETA CONGELA. OLHA PRA ELE DESCONFIADA.

BETA — Cookies incluídos?

BRUNINHO — Cookies incluídos.

BETA — Então tá bem.

VOLTA A SE SENTAR. OS DOIS FICAM UM POUQUINHO EM SILÊNCIO.

BETA — Tá esperando o quê pra ir pegar o meu
bolo?

CENA 13. QUARTO DE DIANA. INT. NOITE
DIANA COM A QUILHA E A TAL DA PALHETA. LÚCIA ENTRA. DIANA
RAPIDAMENTE ESCONDE AMBAS.

LÚCIA — Oi filha.

DIANA — Oi mãe.

LÚCIA — Você não quis jantar com a gente?

DIANA — Tava sem fome.

LÚCIA — Muita coisa na cabeça?

DIANA — Você não faz idéia.

LÚCIA — Ser protagonista de uma série dessas não
é fácil, meu amor.

DIANA — Não é nem a série que tá me deixando
assim.

LÚCIA — O tal do Marco?

DIANA — E o Estevão.

LÚCIA — Olha! Você voltou a pronunciar o nome
dele?

DIANA — A Beta me disse umas verdades...

LÚCIA — Bom, já que você não ouve a sua mãe, que
bom que você ouve a sua amiga.

DIANA — Pára, mãe.

LÚCIA — Mas me conta. Quais verdades foram essas
que fizeram você mudar de idéia sobre o
Estevão?

CENA 14. SHOPPING. INT. NOITE
CONTINUAÇÃO NÃO IMEDIATA DA CENA 12. COMEÇAMOS FECHADO EM

BRUNINHO COMO SE ELE ESTIVESSE FALANDO PRA ALGUÉM.
BRUNINHO — E é por isso que se você vier comigo eu
garanto que a sua noite vai ser ma-ra-vilho-
sa. Falou Bruninho, el guapito de las
chicas.

CORTA PARA BETA QUE ESTÁ SE DELICIANDO COM UM PEDAÇO DE
BOLO.

BETA — Péeeeeeee! Reprovado. Péssima abordagem
pra uma mulher.

BRUNINHO — Por quê?

BETA — Em primeiro lugar não é recomendável você
falar do tamanho do seu pênis quando você
tá tentando conquistar uma garota.

BRUNINHO — Mas eu fui sutil.

BETA — Você deu a medida em centímetros e
milímetros.

BRUNINHO — Eu sou detalhista, ué.

BETA — Em segundo lugar, você tem que parar com
esse negócio de se chamar de guapito de
las chicas.

BRUNINHO — Por quê?

BETA — Muuuuito cafona.

BRUNINHO — Pô, mas espanhol é tão sedutor.

BETA — Se o Antônio Banderas tiver falando sim.
Mas com você fica brega mesmo.

BRUNINHO — Caraca, você é sempre sincera assim.

BETA — Só quando a pessoa é equivocada que nem
você. Podemos continuar?

CENA 15. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. NOITE
LÚCIA E DIANA CONVERSAM.

DIANA — A Beta me convenceu que eu tenho que
conversar com o Estevão pra saber como é
que eu to me sentindo em relação a ele...

LÚCIA — Finalmente.

DIANA — E poder então entender o que é que tá se
passando entre mim e o Marco.

LÚCIA — Que bom que você tá pensando assim agora,
filha. (BRINCA) Mesmo que você tenha
ouvido da Beta o que a sua mãe vem
falando há mais de um ano.

DIANA — (RI) Você sabe que não tem a ver com quem
disse. Mas com o momento de vida que eu
ouvi.

LÚCIA — Que lindo ouvir você dizer isso Diana.

DIANA — É?

LÚCIA — É um indício que tá acontecendo uma coisa
maravilhosa contigo.

DIANA — O quê?

LÚCIA — A perda da inocência.

DIANA — Eu achei que inocência fosse uma coisa
boa.

LÚCIA — Boa e ruim ao mesmo tempo.

DIANA — Agora eu fiquei meio perdida.

LÚCIA — A inocência traz a fé. Um acreditar cego
que é muito bonito. Mas também faz com
que a gente tenha uma visão muito única
das coisas. Faz com que a gente ache que
só existe uma verdade.

DIANA — Uma verdade.

LÚCIA — É. E quando você perde a inocência você
percebe que não é assim. Que pode existir
mais de uma verdade ao mesmo tempo.

DIANA — Você tá dizendo que eu posso tar
apaixonada pelo Marco e que isso não me
faz deixar de amar o Estevão?

LÚCIA — Exatamente. Você só não consegue conviver
muito tempo com essas duas verdades.

DIANA — E o que é que eu faço, mãe? Me diz o que
eu faço porque eu já não agüento mais.

LÚCIA — Você escolhe minha filha. Essa é a hora
de começar a fazer escolhas.

FECHA EM DIANA PREOCUPADA.

CENA 16. SHOPPING. INT. NOITE
BETA E BRUINHO SEGUEM A AULA. BRUNINHO ESTÁ ANDANDO E BETA
O OBSERVA.

BETA — Fecha esse pé.

BRUNINHO — Oi?

BETA — Você tá andando “dez pras duas”

BRUNINHO — Dez pras duas?

BETA FAZ O GESTO COM OS BRAÇOS.

BETA — Ponteiro do relógio. Dez pras duas.
Também é muito cafona.

BRUNINHO — Tá bom, vou fechar.

BETA — E vê balança menos o corpo.

BRUNINHO — Tá.

BETA — E não fica fazendo essa cara esquisita.

BRUNINHO — Pô, Beta. Com o tanto de coisa que você
me pede pra mudar eu to achando que é
melhor eu nascer de novo.

BETA FAZ UMA CARA PRA ELE.

BRUNINHO — Ahhhn! Agora eu entendi.

BETA — Como você é rápido.

BRUNINHO — Ih caraca!

BETA — Quê que foi?

BRUNINHO — Olha só quem acabou de chegar.

CORTA PARA CLÁUDIO E BIANCA QUE CHEGAM AO SHOPPING.

CENA 17. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. NOITE
MINI-ENCHEÇÃO. MÚSICA. DIANA SOZINHA NO QUARTO. PENSATIVA E
INDECISA. PLANO DETALHE DA QUILHA DE MARCO EM CIMA DE UM
NÚMERO DE TELEFONE. E DA PALHETA DE ESTEVÂO EM CIMA DE
OUTRO. ELA OLHA PARA OS DOIS SEM SABER O QUE FAZER. PEGA O
CELULAR E LIGA. ELA ESPERA UM POUCO.

DIANA — Alô?

FIM

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 13

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla


CAPÍTULO TREZE

CENA 1.EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA

MARTA — Hoje vocês vão conhecer os atores que vão
fazer os seus pais.

DIANA — Sério?

MARTA — Vocês certamente já conhecem os dois.

MARCO — Ah, eles são famosos?

MARTA — Muito. Alguma cara conhecida tem que ter
nesse programa, né?

DIANA — Nossa! Dois atores famosos vão fazer os
meus pais.

MARTA — Foi o que eu disse.

MARCO — E quem são eles?

MARTA — Ih, acabaram de chegar.

MARTA APONTA PARA A PORTA. NÃO VEMOS QUEM SÃO OS ATORES
CHEGANDO.

MARCO — (DÚBIO/SUPRESA) Caraca!

ENTRAM MARIA MAYA E SÉRGIO MARONE. MARIA DE ÓCULOS ESCUROS,
MEIO DIVA. SÉRGIO DAQUELE JEITÃO, MEIO SÉRGIO...

MARTA — (APRESENTA) Fulanos, César Torrone e
Marina Vala. César e Marina, esses são os
fulanos.

MARINA — (DIVA) Oi.

E VAI LER UMA REVISTA.

CÉSAR — (QUERENDO SER JOVEM) E aí, galera! Urru!
Mó astral, hein!

DIANA — Certamente. Só um minutinho.

DIANA PUXA MARTA PARA UM CANTO. CÉSAR FICA ALI COM MARCO UM
POUCO NA SAIA JUSTA. E LEVANTA A MÃO.

CÉSAR — Toca aí, fulano!

CORTA PARA DIANA E MARTA NUM CANTO.

DIANA — César Torrone e Marina Vala?

MARTA — Eu sei. A gente queria arrumar bons
atores, mas esses em geral são muito
feios.

DIANA — Não é essa a questão. Eles são muito
novos.

MARTA — Em anos televisivos eles estão
praticamente com o pé na cova.

DIANA — Anos televisivos?

MARTA — Tipo cachorro que cada ano vale sete?
Existe uma tabela semelhante na televisão
só que muito mais realista.

DIANA — A Marina Vala não tem idade pra ser minha
mãe.

MARTA — Relaxa, queridinha. Nesse programa tem
menina de vinte cinco fazendo a garota de
dezenove. Televisão é tudo mentira.

CENA 2. TEATRO. INT. DIA
ALUNOS POR ALI SE ALONGANDO INDIVIDUALMENTE. MELCHIOR
TAMBÉM. BRUNINHO E BETA CONVERSAM.

BETA — Você é muito cara de pau, né Bruninho?

BRUNINHO — Por causa de quê?

BETA — Passou o alongamento inteiro olhando o
rabo das meninas.

BRUNINHO — Beta, rabo foi feito pra isso.

BETA — Ah foi?

BRUNINHO — Claro! Pra isso que é dividido em dois:
um de cada lado. Assim ninguém perde a
visão, sacou?

BETA — Você é realmente muito... (SE CORTA). E
não é que faz sentido?

MELCHIOR INTERROMPE.

MELCHIOR — Ok, amiguinhos. Agora a gente vai fazer
um exercício de descoberta. Um lindo
exercício de descoberta. A gente vai
entrar em contato com o corpo do
coleguinha. Todo mundo pronto?

CAM CORRIGE PARA BRUNINHO QUE ESTÁ COM A CARA MAIS SACANA
DO MUNDO FAZENDO QUE SIM E RINDO. FECHA NISSO.

CENA 3. PRAIA EXT. DIA
GASTÃO PASSANDO PARAFINA NA PRANCHA. ELE OLHA PARA OS LADOS
COMO SE SENTISSE ALGUMA COISA ESTRANHA. ENTRA A MÚSICA DE
“TUBARÃO”. GASTÃO CADA VEZ MAIS PREOUCPADO. ELE OLHA PARA
OS CANTOS E NÃO VÊ NADA. A MÚSICA VAI AUMENTANDO E O
DESESPERO DE GASTÃO TAMBÉM. PODE ENTRAR AQUI UM RÁPIDO
CLIPE BEM PICOTADO DE EXPRESSÕES DE MEDO DE GASTÃO. NO AUGE
DA MÚSICA, GABI SURGE ATRÁS DELE, SORRIDENTE.

GABI — Oi,

GASTÃO — (MEGA SUSTO) Aaaaaaaaaaaaaaah!

GABI — Que foi Gastão?

FECHA EM GASTÃO OFEGANTE DO SUSTO.

CENA 4. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
ABRE A CENA COM CÉSAR CONVERSANDO COM MARCO.

CÉSAR — Pô, eu to muito feliz de fazer Boladão.

MARCO — Eu também.

CÉSAR — Você sabe que eu comecei aqui, né?

MARCO — Que maneiro!

CÉSAR — Só...

SILÊNCIO.

CÉSAR — Pô, eu to muito feliz de fazer Boladão.

NISSO CHEGA DIANA COM MARTA.

MARTA — Queridinho vamo pra maquiagem que a sua
cara tá muito amassada.

CÉSAR — Foi mal, é que eu fiquei a madrugada no
twitter com a galerinha.

MARTA — Eu tava falando com ele, César. Vamo
Marco?

OS DOIS SAEM. FICA UM GRANDE SILÊNCIO DE NOVO. SÓ QUE AGORA
ENTRE CÉSAR E DIANA. MARINA CONTINUA ALI, LENDO SUA
REVISTA.

CÉSAR — Pô, nada a ver a gente fazer os seus
pais, né? (TEMPO) A gente é moreno.

MARINA QUE ATÉ ENTAO ESTAVA SENTADA LEVANTA VEEMENTE.

MARINA — Eu já disse que eu não vou pintar o meu
cabelo!

CÉSAR — Não, Marina/

MARINA — Já não basta ter que fazer par contigo de
novo!

DIANA — Mas a gente tava/

MARINA — Eu não vou pintar o cabelo. Não vou
pintar o cabeloooooo!

ENTRA MÚSICA QUE VAZA PARA:

CENA 5. TEATRO. EXT. DIA
MÚSICA DA CENA 4 VAZA PARA A CENA CINCO. VEMOS O ROSTO DE
BRUNINHO COM UM SORRISO IDIOTA. A CAM ABRE E REVELA
BRUNINHO DEITADO NO CHÃO SENDO MASSAGEADO POR DIVERSAS
MULHERES COM O CORPO DELAS (ELAS ROLAM POR CIMA DE
BRUNINHO, VEMOS BUNDAS E PEITOS FEMININOS PASSANDO POR
ELE). FECHA EM BRUNINHO EM ÊXTASE.

CENA 6. EMISSORA. SALA DE ESPERA. EXT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 4.

DIANA — Mas Marina, a gente não quer/

MARINA — Cala a boca, fedelha. Sem paciência pra
gente inexperiente.

MARTA VOLTA COM MARCO.

MARTA — Gente que confusão é essa?

MARINA — Eu avisei que eu não vou pintar o cabelo!

MARTA — Marina, ninguém aqui quer que você pinte
o cabelo.

MARINA — Quer sim! Essa fedelha tava tramando com
essa bicha.

DIANA — Bicha?

MARCO COMENTA BAIXO COM DIANA.

MARCO — Em televisão todo homem é bicha e toda
mulher é vagabunda. Parece que é um
código deles.

MARINA — (LASCIVA) Gostei de você.

CÉSAR — Marina, a gente não tava tramando nada.

MARINA — Tava sim que eu te conheço! Nunca gostou
de mim!

CÉSAR — Por que é que eu não ia gostar de você?

MARINA — Porque eu brilho!

CÉSAR — Não pira, Marina.

MARINA — Tu não me engana Torrone. Na última
novela você não escovava o dente de
propósito pra me derrubar nas cenas de
beijo com o teu bafo!

MARTA — Marina vamo fingir que nada disso
aconteceu e recomeçar do zero.

MARINA — Só se a pequena vaca me pedir desculpas
chorando.

DIANA — Oi?

CÉSAR — Eu tenho bafo?

CENA 7. PRAIA. EXT. DIA
GASTÃO AINDA ASSUSTADO DIANTE DE GABI. ELA ESTÁ COM UMA
BOLSA TIPO SACOLA, ATRAVESSADA DE MODO QUE A FRENTE DA
BOLSA FICA NA... BOM, DEU PRA ENTENDER.

GASTÃO — Caraca, Gabi. Tu tem um jeito mó sinistro
de chegar nos lugares, né não?

GABI — Sinistro? Sinistro por quê?

GASTÃO VAI FALAR E ELA CORTA FAZENDO UM HANG LOOSE.

GABI — Ah, saquei. Siniiiiistro.

E RI. GASTÃO RI SEM GRAÇA.

GABI — (PIRANHA) E aí? Gostou da nossa noite
sinistra.

GASTÃO — Pô, adorei. Você é incrível. Nem parecia
que era a sua primeira vez.

GABI — É porque eu acho que você me deixou tão à
vontade que eu relaxei.

GASTÃO — Mestre Gastão sabe de tudo.

GABI — (RISO ESCROTO DA SOPHIA) Sabe mesmo.

GASTÃO — Quê?

CENA 8. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 6. MARCO, CÉSAR, MARINA, DIANA E MARTA.
ABRE A CENA COM CÉSAR TÍMIDO CHEIRANDO O PRÓPRIO HÁLITO.

CÉSAR — Pô, nem tenho bafo, vai.

MARINA — E aí? Você vai ou não vai me pedir
desculpas chorando?

DIANA — Marina, eu só comentei com a Marta que
vocês eram muito novos pra fazer os meus
pais!

MARINA — Meu deus como é sonsa.

MARCO — Gente eu não to entendendo mais nada.

MARINA — (LASCIVA) Gostei de você.

CÉSAR — (PARA MARTA) Marta, na boa, eu tenho
bafo?

MARINA — Eu to esperando lágrimas!

CÉSAR — Cheira a minha boca?

CÉSAR ABRE A BOCA E COLOCA PERTO DE MARTA.

DIANA — Eu não acredito nisso.

MARTA — Vamos todo mundo se acalmar.

CÉSAR — (FALA COM A BOCA ABERTONA, SEM DICÇÃO) To
esperando.

MARTA METE A MÃO NA CARA DE CÉSAR O AFASTANDO.

MARTA — Se a gente não desfizer essa confusão vai
ser pior pra todo mundo.

MARINA — Só quando eu ouvir desculpa e o choro da
mini-piranha.

DIANA — Agora você tá passando dos limites.

MARINA — Eu sou Marina Vala, meu amor, eu não
tenho limites!

BELCHIOR APARECE.

BELCHIOR — Eu posso saber o que é que tá acontecendo
aqui?

MARINA — Belchior?

BELCHIOR — Marina?

CENA 9. PRAIA. EXT. DIA
GASTÃO DIANTE DE GABI.

GABI — Então, Gastão. Eu vim aqui pra trazer o
seu “celulular”, que você esqueceu
comigo.

GASTÃO — Meu celular...

GABI — Não, seu celulular.

GASTÃO — (HÃ) Por quê, “celulular”?

GABI — Por que eu gosto de falar “lulu”.
(RISINHO).

GASTÃO — (WTF) Sei... (P) E cadê o celular?

GABI — Tá aqui. Na minha bolsa. Pode pegar?

CENA 10. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
MARINA DIANTE DE BELCHIOR. MARTA, DIANA, MARCO E CÉSAR ALI.

MARINA — O que é que você tá fazendo aqui?

BELCHIOR — Eu ia te fazer a mesma pergunta.

MARTA — Eu escalei o César e a Marina pra fazerem
os pais da Diana.

CÉSAR TAPANDO A BOCA COM UMA DAS MÃOS ESTENDE A OUTRA.

CÉSAR — Beleza, Belchior.

BELCHIOR — (IGNORA) Como é que você escala essa
vagabunda pro meu programa?

MARCO — (PARA DIANA) Viu? Bicha e vagabunda...

MARINA — Ah, então quer dizer que você é que
dirige essa novelinha?

MARTA — Eu juro que eu não fiz de propósito.

BELCHIOR — Essa aí não pisa no meu set nem sob
tortura.

MARINA — Meu amor, pisar no seu set já é uma
tortura.

CÉSAR SEMPRE TAPANDO A BOCA.

CÉSAR — Eu não acho! Eu quero pisar no seu set,
Belchior!

OLHANDO PAPÉIS.

MARTA — Mas a Marina não tava na lista de atrizes
banidas...

BELCHIOR — Ela tá no topo da lista! Ela e Marjorie
Estiano, aquela psicopata.

CENA 11. TEATRO. INT. DIA
CLÁUDIO E BIANCA (ALUNOS) FAZENDO UMA CENA DE SHAKESPEARE
PESSIMAMENTE MAL. BETA E BRUNINHO OBSERVAM TUDO DA PLATÉIA.

BIANCA — Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu?
Renega o pai, despoja-te do nome, jura ao
menos que amor me tens, porque uma
Capuleto deixarei de ser logo.

CORTA PRA PLATÉIA:

BETA — Gente ela é pior atriz que a Mary Kate e
a Ashley Olsen juntas!

BRUNINHO — Pois eu acho ela óooooootima.

CENA 12. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA 9.

MARCO — Posso perguntar uma coisa? Porque é que
vocês se odeiam tanto?

MARINA — (LASCIVA) Gostei de você...

BELCHIOR — Ela me quis e eu esnobei.

MARINA — (RI) Foi justamente o contrário!

BELCHIOR — (PEGA NO PAU) Aqui pra você!

MARINA — Não me venha com mixaria...

MARTA — Bom, queridos, foi tudo um mal entendido,
desculpem. Eu faço outra escalação. Muito
obrigada e tchau.

MARINA — Já vou tarde!

ELA SE VIRA PARA MARCO E ENTREGA UM CARTÃO.

MARINA — E se um dia você quiser cair na vala me
liga. (P) Gostei de você.

E SAI.

CÉSAR — Pô mas eu quero fazer esse papel, gente.
Eu quero!

MARTA — Nem adianta, César, eu só te escalei
porque a agência te empurrou junto com a
Marina.

CÉSAR — Tá bom, tá bom. Mas antes de eu ir
embora, Belchior, eu posso te pedir uma
coisa.

BELCHIOR — Fala.

CÉSAR — Vê se eu tenho bafo?

E DÁ UMA BAFORADA NA CARA DE BELCHIOR.

CENA 13. PRAIA. EXT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 10.

GABI — E aí, Gastão? Não vai pegar o celular?

ELE NÃO RESPONDE. FICA MEIO SEM JEITO E ENFIA A MÃO NA
BOLSA DE GABI. ELA ENTÃO DÁ UMA RISADA MUITO ESQUISITA
SEGUIDA DE UM RONCO. GASTÃO CONGELA. ELE SEGUE PROCURANDO O
CELULAR NA BOLSA E RETIRA.

GASTÃO — Valeu... Gabi.

GABI — De nada! E vamos ver se a gente marca
outro jantar daqueles.

GASTÃO — Outro jantar?

GABI — É. Adorei a comida ontem...

GASTÃO MORRE DE TESÃO.

GABI — Bom, agora eu vou indo.

GASTÃO — (LOUCO DE TESÃO) Vai pra onde, mulé. Fica
aê!

GABI — Não dá. Eu tenho que ir num lugar aí.
(MISTÉRIO) Uuuuuuu. Tchau Gastão!

E SAI.

GASTÃO — (GEMENDO) Tchaaaaaau.

CENA 14. TEATRO. INT. DIA
BRUNINHO E BETA SEGUEM VENDO CLÁUDIO E BIANCA NO PALCO.

BIANCA — Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se
mostrou devota e reverente. Nas mãos dos
santos pega o paladino. Esse é o beijo
mais santo e conveniente.

CLÁUDIO — Os santos e os devotos não têm boca?

BIANCA — Sim, peregrino. Só para as orações.

CLÁUDIO — Deixai, então, ó santa! que esta boca
mostre o caminho certo aos corações.

BIANCA — Sem se mexer o santo exalta o voto!

CLÁUDIO — Então fica quietinha: eis o devoto. Em
tua boca me limpo dos pecados.

CLÁUDIO BEIJA BIANCA. ELES COMEÇAM A SE PEGAR NO MAIOR
AMASSO NO PALCO.
CORTA PARA PLATÉIA. BRUNINHO ESTÁ BOQUIABERTO.

BETA — Vai ser ruim assim lá na China!

BRUNINHO — Eu quero fazer cena com ela...

CENA 15. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
MARCO E DIANA UM DIANTE DO OUTRO.

MARCO — Caraca, mó doideira essa história toda,
né?

DIANA — Esse meio de televisão é realmente muito
buleversante.

MARCO — Quê?

DIANA — Nada não.

MARCO — Quem você acha que deu em cima de quem?

DIANA — (ASSUSTA) Hein?

MARCO — O Belchior ou a Marina. Quem você acha
que tava dizendo a verdade.

DIANA — Difícil, dizer. Essas coisas de
relacionamento raramente têm um só lado
verdadeiro.

MARCO — É... Você tem?

DIANA — Um lado verdadeiro?

MARCO — Um relacionamento.

DIANA — Por que é que você tá me perguntando
isso?

MARCO — Curiosidade.

DIANA — Tenho. Quer dizer, tive. Quer dizer...
Não sei.

MARCO — Não sabe? Como assim não sabe?

CENA 16. TEATRO. INT. DIA
FIM DA AULA. ALUNOS ALI ARRUMANDO AS COISAS. CLÁUDIO E
BIANCA CONVERSAM. BETA E BRUNINHO POR ALI.

CLÁUDIO — Pô, achei que você mandou benzão na nossa
cena.

BIANCA — É?

CLÁUDIO — Pô, eu achei. Que você mandou assim...
benzão.

BIANCA — Valeu.

CLÁUDIO — Aqui... Vamo fazer um parada mais tarde?

BIANCA — Tipo o quê?

CLÁUDIO — Ah... Sei lá. Uma parada maneira. A gente
pode ir assim... no shopping!

BIANCA — Pô, maneiro.

OS DOIS SAEM ANDANDO. CAM CORRIGE PARA BRUNINHO E BETA.
BRUNINHO OBSERVA ATENTAMENTE BIANCA E CLÁUDIO.

BRUNINHO — Eu quero aquela mulé!

BETA — A Bianca? Você não viu que ela tá de rolo
com o Cláudio?

BRUNINHO — Não interessa. Eu quero. E você vai ter
que me ajudar.

BETA — Eu?

CENA 17. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
CONT DA CENA 15. DIANA DIANTE DE MARCO.

DIANA — Ai, Marco. Se você não se importasse eu
preferia não falar desse assunto.

MARCO — Beleza.

DIANA — É que é uma história complicada, sabe?

MARCO — Tranquilão.

DIANA — Ele nem mora mais no Brasil. E eu não sei
se ele vai voltar.

MARCO — Eu achei que você não quisesse falar no
assunto.

DIANA SORRI.

MARCO — Mas relaxa. Eu sei como é essa história
de distância.

DIANA — Ué. Mas a sua namorada não mora aqui?

MARCO — Mas os meus pais moram na Mongólia.

DIANA — Nossa que longe.

OS DOIS SE OLHAM. PINTA UM CLIMA.

DIANA — Marco eu queria que você soubesse que eu
não sou louca.

MARCO — Do que é que você tá falando?

DIANA — De ontem. Aquele... Aquele beijo.

MARCO — Eu não esqueci até agora.

DIANA — Eu sei! Desculpa! Foi totalmente fora de
propósito e eu prometo que não vai mais
se repetir.

MARCO — (EM CIMA) Foi melhor coisa que me
aconteceu nos últimos tempos e eu queria
muito que ele se repetisse.

DIANA — O quê???

MARCO VAI FALAR ALGUMA COISA E DIANA O CORTA.

DIANA — Pelo amor de Deus, não vai fazer aquela
brincadeira comigo.

MARCO — Eu não ia fazer a brincadeira. Eu só ia
dizer que foi a melhor coisa que me
aconteceu nos últimos tempos e que queria
que se repetisse.

DIANA — (SUPER LÁ) Que bom que você não fez
aquela brincadeira idiota.

MARCO — Não. Mas tem uma coisa que eu vou fazer.

DIANA — O quê?

MARCO VAI BEIJAR DIANA. ENTRA MÚSICA. QUANDO ELES ESTÃO
PARA SE BEIJAR GABI APARECE.

GABI — Marco!

FECHA NA SAIA JUSTA.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 12

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO DOZE

CENA 1. QUARTO DE MARCO. INT. NOITE
CONTINUAÇÃO DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO 11.

BRUNINHO — Se você não fala então eu vou falar:

Marco, tu é gay?

MARCO — Hein?

BRUNINHO — Marquito não tem o menor problema se tu
for.

MARCO — Bruninho...

BRUNINHO — Eu te amo, irmão.

MARCO — Eu sei.

BRUNINHO — E se você for gay eu vou continuar te
amando. Vai ser estranho, mas...

MARCO — Bruninho eu não sou gay!

BRUNINHO — Não?

MARCO — Não. Eu sou virgem.

BRUNINHO — Como é que é???

MARCO — Eu sou virgem, Bruninho

BRUNINHO — Tu tá de saca?

MARCO — É sério.

BRUNINHO — Mas tu é o maior comedor da praia. Todo
mundo comenta.

MARCO — Todo mundo comenta. Mas é só comentário.
A verdade é que eu... Eu nunca transei
com ninguém.

BRUNINHO — Caraca, eu to mais chocado do que quando
eu descobri que a gostosa da Lindsay
Lohan era sapatão.

MARCO — A Lindsay Lohan é sapatão?

BRUNINHO — Não desvia o assunto!

MARCO — Foi mal. Mas a verdade é essa. Esse é o
grande segredo que a Gabi tá ameaçando
contar pra todo mundo: eu não sou Marco
Monte Aquino, o grande comedor que todo
mundo vive falando que eu sou. Eu sou
virgem.

BRUNINHO — Mas por quê que você nunca me contou
isso? E que parada é essa da Gabi ficar
te chantageando? Ela não é virgem também?

CENA 2. LOCAÇÃO. RESTAURANTE. EXT. NOITE
CLIPE RÁPIDO E ÁGIL COM UM ROCK OU UM BLACK EYED PEAS.
GABI, TODA MONTADA E MUITO SENSUAL, ENTRA NUM RESTAURANTE.
ELA ESTÁ COM UM VESTIDO JUSTÍSSIMO E MUITO GATA. ELA PASSA
E OS CARAS VÃO OLHANDO PRA ELA. A MAQUIAGEM E O FIGURINO
DEVEM DEIXAR SOPHIA BEM MAIS ADULTA E MULHERÃO. GABI CHEGA
ENTÃO A UMA MESA ONDE TEM ALGUÉM SENTADO. NÃO VEMOS QUEM
ESTÁ SENTADO À MESA. ELA PARA, TODA GOSTOSA, E FALA
INSINUANTE.

GABI — E aí? Demorei muito?

CENA 3. QUARTO DE MARCO. INT. NOITE
CONTINUAÇÃO DA CENA 1. MARCO E BRUNINHO SEGUEM CONVERSANDO.

MARCO — Só se for virgem de orelha.

BRUNINHO — Tu tá falando sério?

MARCO — A Gabi perdeu a virgindade com quinze
anos.

BRUNINHO — Caraca!

MARCO — Eu não tenho nada contra. Eu acho que
essa parada de sexo não tem idade. O que
me incomoda é como você olha pro sexo,
sacou? Independente da idade.

BRUNINHO — Como assim?

MARCO — Cara, eu já tive várias oportunidades de
perder a virgindade. Inclusive namorando
a Gabi. Aliás a gente terminou porque eu
não queria transar e ela queria.

BRUNINHO — Caraca, se uma mulé que nem a Gabi me
falasse que queria transar comigo eu já
tava pelado antes dela terminar a frase.
(P) Desculpa, continua.

MARCO — É que eu vejo sexo de uma forma
diferente, Bruninho. É claro que é
natural, que não é nenhum bicho de sete
cabeças. Mas é uma parada tão íntima, tão
íntima que eu não me imagino dividindo
com qualquer pessoa.

BRUNINHO — E você imagina dividindo com quem?

MARCO — Eu não sei. Mas eu tenho certeza que
quando eu encontrar essa pessoa eu vou
saber. Quer dizer, eu vou sentir. Você
entende o que eu to falando?

BRUNINHO — Nem a porrada. Eu, se pudesse, trepava o
tempo todo e cada dia com uma garota
diferente. Mas não é porque eu não
entendo que eu não respeito. Cada um com
seu cada um né?

CENA 4. LOCAÇÃO. RESTAURANTE. EXT. NOITE
GABI JÁ ESTÁ SENTADA À MESA. AINDA NÃO VEMOS COM QUEM ELA
ESTÁ FALANDO.

GABI — Aceito.

ALGUÉM SERVE VINHO PARA GABI. A PESSOA BOTA SÓ UM
POUQUINHO.

GABI — Só isso?

A PESSOA BOTA MAIS VINHO.

GABI — Relaxa. Eu sou maior de idade e vacinada.
Eu sei bem o que eu to fazendo. E mais
ainda o que eu quero.

GABI TOMA UM POUCO DE VINHO, SEMPRE INSINUANTE. SONSA E
SENSUAL.

GABI — Então. Eu chamei você pra conversar
porque esses últimos dias têm sido muito
difíceis pra mim. Um tempo atrás eu tomei
uma decisão. Eu decidi me guardar pro meu
namorado. Muita gente diz que eu to
jogando fora uma parte da vida que não
volta mais. Mas eu digo que é o
contrário. Eu fiz uma escolha por amor. E
eu to vivendo a minha escolha. Só que se
esse amor não é correspondido não faz
sentido. Eu não to mais vivendo a minha
escolha. Eu só tô jogando fora. E eu não
sou de se jogar fora, sou?

CENA 5.QUARTO DE MARCO. INTERIOR. NOITE
CONTINUAÇÃO DA CENA 1.

BRUNINHO — Muita mentira, Marquinho. Pra quê tanta
mentira.

MARCO — Mentira?

BRUNINHO — Ficar dizendo que é comedor.

MARCO — Eu nunca disse isso Bruninho.

BRUNINHO — Ah, não?

MARCO — Não. Começou com aquela história da
Nicete.

BRUNINHO — Aquela mulata gostosa que era filha do/

MARCO — Ela merma.

BRUNINHO — Tu não comeu a Nicete!!

MARCO — Mas ela espalhou pra todo mundo que a
gente transou.

BRUNINHO — A Nicete era mó maluca.

MARCO — Daí eu fiquei sem jeito de dizer que não
era verdade. Mas eu nunca contei essa
mentira.

BRUNINHO — Sem jeito por quê?

MARCO — Eu virei o rei da galera da noite pro
dia. Todo mundo falando “Pô, o Marco é
comedor, o Marco é comedor”. Toda mulé
que eu ficava neguinho achava que eu
comia. Mas eu nunca disse nada.

BRUNINHO — Tudo bem. Tu não mentia. Mas também não
desmentia.

MARCO — Pô, Bruninho mó pressão, né? Eu tinha
medo de virarem as costas pra mim. De ser
zoado. Tu sabe como é difícil.

BRUNINHO — Sei, né? O babaca aqui sempre foi o nerd
da galera.

MARCO — Que isso...

BRUNINHO — Nerd, mané, haule, buiu, mongol, peão,
idiota, mocotó e erradinho da estrela.

MARCO — Não foi isso que eu quis dizer.

BRUNINHO — Eu sei, mas foi isso que você disse. E eu
não te culpo não. Posso te confessar: se
eu pudesse fazer qualquer coisa pra ser o
rei da Galera eu faria. Normal.

MARCO — Valeu, moleque. Te amo viu?

BRUNINHO — Eu também. Agora te falar uma parada. Se
tu não come ninguém o que é que tu anota
nesse teu caderninho preto?

MARCO — Calma, Bruninho. Uma novidade de cada
vez.

CORTA PARA:

CENA 6. LOCAÇÃO. RESTAURANTE. EXT. NOITE
GABI SEGUE CONVERSANDO COM UMA PESSOA QUE NÃO VEMOS QUEM É.

GABI — E é isso que tem acontecido comigo. Eu to
me guardando pra uma pessoa especial. Só
que essa pessoa deixou de ser. E agora eu
quero alguém que seja. Eu quero alguém
que seja. Você entende o que eu to
falando?

CORTA PARA GASTÃO QUE ESTÁ SENTADO À FRENTE DELA.

GASTÃO — Gabi, se tem duas coisas que eu conheço
bem é mulé e prancha. Por isso eu entendo
cada palavra que tu tá falando, minha
loura. Cada letrinha.

GABI — (SINCERA) Que bom. Se você soubesse o
quanto eu sofro sendo quem eu sou.
Buscando a atenção que eu busco. Às vezes
eu acho que eu to correndo parada.
Correndo parada. Sem sair do lugar.

GASTÃO — Eu imagino.

GABI — (PARA SI/MUITO DE VERDADE) É tão difícil
que eu não consigo nem botar em palavra.
(MUDA TOTALMENTE E SEDUZ GASTÃO). Mas
agora eu to disposta. Eu to disposta a me
entregar pra alguém que me entenda. Que
fale a minha língua.

GABI PEGA UM GELO DO COPO D’ÁGUA QUE ESTÁ AO LADO DA TAÇA
DE VINHO E CHUPA.

GASTÃO — E que língua.

PASSAGEM DE TEMPO.
IMAGENS DO RIO AO AMANHECER.

CENA 7. PRAIA. EXT. DIA
IMAGENS DE MARCO SURFANDO. CLIPE RÁPIDO E ÁGIL COM BELAS
IMAGENS DE SURFE E PRAIA. MARCO MANDANDO MUITO BEM. TUDO
MUITO SOLAR. MARCAR SORRISOS DE MARCO. ELE ESTÁ LEVE E PRA
CIMA.

CENA 8. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. DIA
DIANA DANDO UMA GERAL NO SEU QUARTO. ARRUMANDO UNS LIVROS E
CEDÊS. QUARTO DELA PODE ESTAR CHEIO DE COISAS ESPALHADAS
POR CONTA DA ARRUMAÇÃO. ELA TAMBÉM ESTÁ BEM ATIVA. TOCA O
CELULAR DE DIANA. Atenção Sonoplastia: TOQUE DE CELULAR.
ELA ATENDE.

DIANA — Oi amiga.

ATENÇÃO. INTERCALAR DIÁLOGOS COM:

CENA 9. TEATRO. INT. DIA
INTERVALO DO CURSO DE TEATRO. VÁRIOS ALUNOS POR ALI. BETA
AO TELEFONE COM DIANA. DIANA, DO OUTRO LADO DA LINHA SEGUE
ARRUMANDO TUDO.

BETA — Atrasilda!

DIANA — Foi mal, Beta. Eu esqueci de te falar, eu
não vou ao teatro hoje.

BETA — Percebi.

DIANA — Avisa ao Melchior pra mim?

BETA — Aviso sim. A bicha vai virar purpurina.

DIANA — Robertaaaa...

BETA — Foi mal.

DIANA OLHA UM CD QUE ESTÁ ARRUMANDO.

DIANA — Spice Girls?

BETA — Hein?

DIANA — Nada. Memórias soturnas de início de
adolescência.

BETA — Mas me conta: tomou sua decisão?

DIANA — Tomei. Eu vou fazer a série.

BETA — Sério?

DIANA — É por isso que eu não fui hoje, eu tenho
que tar na emissora daqui a pouco pra
assinar o contrato.

BETA — (XUXA) Muito bem.

DIANA — Eu conversei com a minha mãe e achei que
vai ser importante pra mim. Tá na hora de
crescer.

BETA — Crescer? Mas eu achei que você tivesse a
idade mental de uma mulher de 40.

DIANA — Engraçadinha, você.

BETA — Sempre.

DIANA — Boladão vai ser importante pra mim. E não
vai ser um beijo fora de hora que eu dei
no Marco que vai me assustar.

BETA — Beijo no Marco? Que beijo???

FECHA NA CARA DE “PUTZ ME ENTREGUEI” DE DIANA.

CENA 10. PRAIA. EXT. DIA
MARCO JÁ SENTADO NA AREIA OLHANDO O MAR. GASTÃO CHEGA TODO
ESQUISITO.

GASTÃO — Fala Marquito!

MARCO — E aí, Gastão? Te pregaram na cama?

GASTÃO — (ASSUSTADO) Que isso, rapá? Eu não dormi
com ninguém não.

MARCO — Calma, Gastão. Eu só fiz uma piada porque
você chegou atrasado.

GASTÃO — Ah, foi mal.

MARCO — Mas agora que tu falou: você dormiu com
alguém?

GASTÃO — Claro que não!

MARCO — História estranha, hein?

GASTÃO — Não tem história nenhuma.

MARCO — Tá bom. Só acredito porque se você
tivesse realmente dormido com alguém
neguinho já ia tar sabendo lá em Niterói.

GASTÃO — Que isso, rapá. Sou discreto.

MARCO — Mais discreto que destaque da Mangueira
em dia de desfile.

GASTÃO — Mas e aí? Bora treinar?

MARCO — Já treinei, Gastão. Tu já viu a hora?

GASTÃO — Nem vi. Eu geralmente olho hora no
celular e esqueci meu celular no/ (SE
CORTA) Ônibus.

MARCO — Ônibus? Mas tu nem anda de ônibus.
Gastão, tu tá muito estranho. Quê que tá
pegando?

CENA 11. TEATRO. INT. DIA
BETA AINDA AO TEL. MELCHIOR PASSA POR ELA RAPIDINHO.

BETA — Anda, Diana. Desembucha.

MELCHIOR — Um minutoooo.

BETA DÁ UM SORRISO COM MISTO DE IRRITAÇÃO E IMITAÇÃO DE
VIADAGEM PARA MELCHIOR.

BETA — Quer dizer que você beijou o Marco e não
contou nada pra mim?

INTERCALAR DIÁLOGOS COM:

CENA 12. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. DIA

DIANA — Não tem nada demais. Eu dei um beijo no
Marco ontem lá na emissora. Foi por isso
que eu te liguei toda nervosa.

BETA — E você não me contou ontem por quê?

DIANA — Sei lá... Eu tava com vergonha.

BETA — De mim?

DIANA — Não, de mim. Beta, a gente pode falar
sobre isso pessoalmente?

BETA — A gente vai falar muito sobre isso
pessoalmente. Mas eu preciso de uma
situada.

DIANA — Eu já te falei. Eu dei um beijo no Marco
e só.

BETA — Ah, vocês tavam conversando e aí do nada
você lascou um beijo nele.

DIANA — É. O pior é que foi isso.

BETA — (GOSTA) Sério?

DIANA — Beta, eu tenho que ir senão eu vou me
atrasar de novo. Depois a gente conversa
melhor.

NO TEATRO, MELCHIOR PASSA POR BETA.

MELCHIOR — Já vai começar!

BETA ZOA ELE, UM POUCO IRRITADA, FAZENDO UMA COISA MEIO GAY
DE NOVO.

BETA — Tá. A gente se fala mais tarde então. (P)
Tá bom.(P) Beijo. Tchau.

BETA DESLIGA MEIO IRRITADA. SE VIRA E DÁ DE CARA COM
BRUNINHO.

BRUNINHO — Oi.

BETA — O que é que você tá fazendo aqui?

CORTA DIRETO PARA:

CENA 13. PRAIA. EXT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA DE MARCO E GASTÃO.

GASTÃO — Eu já te falei, moleque. Não tem nada.

MARCO — Tu tá todo esquisito.

GASTÃO — É só porque eu dormi com a Ga/ com a...
com a/ com/ com a porta do banheiro
aberta.

MARCO — E daí?

GASTÃO — Pô, mó onda errada.

MARCO — Por quê?

GASTÃO — Ah, aquela parada de Feng Shui, cara.

MARCO — Tu acredita nessas paradas?

GASTÃO — Eu sou da natureza, né Marquito. Pô.
Geral.

MARCO — Saquei.(P) Bom, eu vou indo, mestre. Eu
tenho hora lá na emissora.

GASTÃO — Vai lá. E ó. Não se esquece de fechar a
porta do banheiro, hein?

MARCO — Tá beleza.

GASTÃO — E a tampa da privada também. Mijou,
fechou.

MARCO — Tá certo. Te mais.

MARCO SAI. GASTÃO ALI.

GASTÃO — Caraca.

CORTA PARA:

CENA 14. TEATRO. INT. DIA
BETA DIANTE DE BRUNINHO.

BRUNINHO — Isso é jeito de falar com um amigo?

BETA — Eu te vi duas vezes na vida, garoto.

BRUNINHO — Você tá rejeitando a minha amizade?

BETA — Ai, tá bom. Desculpa.

BRUNINHO — Você falou aquele dia que você e a Diana
faziam esse curso e eu resolvi dar um
check it out.

BETA — Você não entendeu que a Diana não quer
nada com você?

BRUNINHO — Há muito tempo. Pra te ser sincero ela
nem faz meu tipo: no me gustan las
rubias.

BETA — Hein?

BRUNINHO — Não sou fã de loura. Até pego, mas não
sou fã. Como eu disse: não faz meu tipo.

BETA — (IRÔNICA) Você é uma graça.

BRUNINHO — Obrigado, mas você também não faz o meu
tipo.

BETA — (RI) Dá pra você me dizer o que é que
você veio fazer aqui?

BRUNINHO — Eu vim fazer aula de teatro.

BETA — Pra quê?

BRUNINHO — Pra quê é que se faz aula de teatro,
Beta?

BETA — Eu não sabia que você queria ser ator.

BRUNINHO — Mas eu não quero não.

BETA — Ué. Mas se você não quer ser ator vai
fazer aula de teatro pra quê?

BRUNINHO — Pegar mulher!

MELCHIOR APARECE.

MELCHIOR — Então, gente. Vamos começar?

CORTA PARA:

CENA 15. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
DIANA LÁ SENTADA. MARTA SE APROXIMA.

MARTA — Diana.

DIANA — Oi Marta.

MARTA — Pegou o recado da minha assistente ontem?

DIANA VAI RESPONDER, MARTA CORTA EMENDANDO.

MARTA — Óbvio que você pegou, senão você não
estaria aqui, não é mesmo. Acordei meio
idiota hoje. Mas e aí? Melhorou da
cólica?

DIANA — Cólica?

MARTA — O Marco disse ontem que você foi embora
correndo porque tava mal de cólica.

DIANA — Ah ele disse isso, foi?

MARTA — Disse, por quê? Era mentira.

DIANA — Não, não. Eu tava com cólica mesmo.

MARTA — Vocês dois são muito esquisitos.

DIANA — Esquisitos.

MARTA — Mas é bom. Essa tensão sexual entre vocês
vai ser ótima pros personagens.

DIANA — Imagina, não tem tensão sexual nenhuma
entre a gente.

MARTA — Queridinha, quando você tava indo com
Orkut eu já tava voltando com Facebook.
Eu enxergo tudo, amor.

NISSO MARCO CHEGA.

MARCO — Oi gente.

DIANA COM AFLIÇÃO.

DIANA — Oi Marco.

MARTA — Preciso dizer mais?

CORTA PARA:

CENA 16. TEATRO. INT. DIA
AULA JÁ EM ANDAMENTO. ELES ESTÃO ALONGANDO. BRUNINHO TODO
ATRAPALHADO. BETA DO LADO DELE.

MELCHIOR — Agora estica lá em cima como se você
quisesse encostar com a mão no teto... E
solta.

TODOS SOLTAM O CORPO À FRENTE. BRUNINHO OLHA PARA A BUNDA
DE UMA GAROTA QUE ESTÁ À SUA FRENTE. BETA O REPREENDE COM O
OLHAR.

MELCHIOR — Mais uma vez. Estica, estica, estica,
estica. E quem quiser soltar fazendo som
é bom. Solta!

TODO MUNDO SOLTA FAZENDO UM AHHHH. BRUNINHO OLHA PARA A
BUNDA DA GAROTA E FAZ UM SOM ATRASADO, COMO SE FOSSE UM
GEMIDO DE PRAZER.

BRUNINHO — Ahhhhhhh.

CORTA PARA:

CENA 17. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
MARCO, DIANA E MARTA. CONTINUAÇÃO DA CENA 15.

MARCO — Precisa falar o quê?

DIANA — Nada não.

MARTA — A gente tava falando de você.

MARCO — De mim?

MARTA — Tem algum outro você aqui nessa rodinha.

MARCO — O que é que vocês tavam falando?

MARTA — Nada que você não saiba. Bom, daqui a
pouco a gente vai assinar os contratos,
mas o pessoal do jurídico ainda não
chegou.

DIANA — A gente vai ensaiar as cenas hoje?

MARTA — Nós já fizemos isso ontem quando você
tava com a sua... cólica. Hoje vocês vão
conhecer os atores que vão fazer os seus
pais.

DIANA — Sério?

MARTA — Vocês certamente já conhecem os dois.

MARCO — Ah, eles são famosos?

MARTA — Muito. Alguma cara conhecida tem que ter
nesse programa, né?

DIANA — Nossa! Dois atores famosos vão fazer os
meus pais.

MARTA — Foi o que eu acabei de dizer.

MARCO — E quem são eles?

MARTA — Ih, acabaram de chegar.

MARTA APONTA PARA A PORTA. NÃO VEMOS QUEM SÃO OS ATORES
CHEGANDO.

MARCO — Caraca!

FECHA NA EXPRESSÃO DE SURPRESA DE MARCO E DIANA.

FIM

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 11

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO ONZE

CENA 1. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO 10.

DIANA — Que ódio que você passou nesse teste.

MARCO — Tem alguma coisa pra você nesse mundo que
não seja ódio?

DIANA — Eu já te pedi desculpas!

MARCO — Mas dessa vez eu não aceito! Você pode me
xingar, pode me cuspir, pode fazer o que
você quiser. Mas não importa o que você
faça eu não te desculpo/

DIANA, DO NADA, TASCA UM BEIJO EM MARCO. ELES SE BEIJAM

LOUCAMENTE. ELA SAI DO BEIJO E OLHA PRA ELE.

MARCO — Hã?

DIANA ASSUSTADA COM SUA PRÓPRIA ATITUDE. MARCO
BOLADAAAAAAAÇO. ELES FICAM SE OLHANDO POR UM TEMPO.

MARCO — Por que é que você fez isso?

DIANA — O quê? Eu fiz o quê?

MARCO — Diana, você me beijou.

DIANA — Beijei?

MARCO — Ou foi isso ou botaram alguma parada
muito louca no meu açaí porque até onde
eu sei...

DIANA — Beijei. Beijei? Beijei. Não sei. Não sei
porque eu beijei.

MARCO — Peraí, Diana vamo conversar...

DIANA SAI EM DISPARADA. SUPER NOVELÃO:

MARCO — Diana! Diana!

MARTA APARECE.

MARTA — Nem começou a gravar e já tá louco
falando sozinho?

MARCO — Não, eu tava só chamando a... Diana.

MARTA — E cadê aquela garotinha tão simpática?

CENA 2 SHOPPING. INT. DIA.
GABI E BRUNINHO SEGUEM CONVERSANDO.

BRUNINHO — E aí, Gabi? Eu to esperando. Me responde.
O Marco é gay?

GABI EXTREMAMENTE DÚBIA. NÃO SABEMOS SE ELA ESTÁ
CONSTRANGIDA DE VERDADE OU SÓ FINGINDO CONSTRANGIMENTO.
(TIPO GLÓRIA PIRES QUANDO FAZIA A RUTH SE PASSANDO PELA
RAQUEL). GRANDE OPORTUNIDADE PARA SOPHIA ABRAÃO MOSTRAR SEU
IMENSO TALENTO.

GABI — Ai, Bruninho. Porque você tá me
perguntando isso?

BRUNINHO — Você sabe.

GABI — Sei?

BRUNINHO — O Marco tá todo esquisito. Primeiro ele
diz que você tá grávida. Depois ele fala
que é mentira. Daí vem com uma história
de que você tá/ (COMO SE FOSSE FALAR
CHANTAGEANDO ELE)

GABI — (FORTE) De que eu to o quê??

PERCEBE QUE IA FALAR MERDA.

BRUNINHO — De que você tá toda frágil por causa de
uma parada que tá rolando com ele.

GABI — (DOCE) É, eu to mesmo.

BRUNINHO — E eu quero saber que parada é essa. Pelo
pouco que ele me contou eu to achando que
ele é gay.

GABI — E se ele for?

BRUNINHO — Hein?

GABI — To te perguntando. Como é que você
reagiria se descobrisse que o seu melhor
amigo é gay?

FECHA EM BRUNINHO ATERRADO.

CENA 3. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
MARCO BOLADÃO, QUER DIZER, BOLADAÇO DIANTE DE MARTA.

MARTA — E aí, garoto? Cadê a sua namoradinha?

MARCO — (SUSTO) Namoradinha?

MARTA — A Diana.

MARCO — Ela não é minha namoradinha!

MARTA — Caguei. Cadê a garota? Você não disse que
tava chamando ela?

MARCO — Tava, mas... A Diana teve que ir embora.

MARTA — Por quê?

MARCO — Cólica.

MARTA — Cólica?

MARCO — É. Cólica, ué. Toda mulher tem.

MARTA — Eu não.

MARCO — Você não tem cólica?

MARTA — Olha pra mima cara. Você acha que eu sou
mulher de cólica?

MARCO — Foi mal, aí. Mas a Diana tem. Ela pediu
desculpas, teve que sair apressada.

MARTA — Muito estranha essa história.

MARCO — Estranha? Estranha por quê?

MARTA — Hoje é o dia de assinar o contrato. Só me
falta essa valise desistir de fazer a
série e deixar a gente não mão. Eu não
vou sair viva de mais uma reunião com o
Belchior pra escolher outra protagonista.

MARCO — Não, fica tranqüila que ela não vai sair
não. (MEIO QUE PRA SI) Eu não vou deixar.

MARTA — Bom, então vamo a gente, né? A bicha já
tá esperando.

MARCO — Bicha?

MARTA — O Belchior!

MARCO — O Belchior é gay?

MARTA — Não, mas na televisão todo homem é bicha.
Todo homem é bicha e toda mulher é
vagabunda. É meio que um código,
entendeu?

CENA 4. SHOPPING. INTERIOR. DIA
GABI E BRUNINHO SEGUEM NA LENGA-LENGA.

BRUNINHO — Eu não sei como eu reagiria se eu
descobrisse que o Marco é gay.

GABI — Claro que sabe.

BRUNINHO — Gabi, o Marco é meu melhor amigo. Eu
conheço ele desde que eu tenho cinco anos
de idade. Ele é uma das pessoas que eu
mais amo no mundo, cara. Só perde pro meu
pai e pra minha mãe.

GABI — Nossa.

BRUNINHO — Eu gosto dele até mais do que do Coringa.

GABI — Coringa?

BRUNINHO — Meu lagarto de estimação. E olha que eu
me amarro no Coringa.

GABI — Afff.

BRUNINHO — É claro que se eu descobrir que o
Marquito é gay vai ser esquisito. Eu vou
ficar meio estranho no início. Mas a
gente é que nem irmão. Não muda muita
coisa, sabe?

GABI — Será?

BRUNINHO — Gabi. Tem umas paradas na vida que a
gente sabe que vão ser diferente, mas vão
ser sempre igual.

GABI — Como assim?

BRUNINHO — Eu sei que eu vou sempre ter esse cabelo
toin oin oin, mesmo que um dia ele fique
branco. Que eu vou sempre pirar quando o
Botafogo fizer um gol, mesmo que eu não
grite mais tanto. E que eu vou sempre ter
o Marquito do meu lado. Mesmo que de
outra forma. Porque o Marquito vai ser
sempre o Marquito, sacou?

GABI — Saquei.

BRUNINHO — Sacou, mas tu ainda não me disse: O meu
amigo é ou não é boiola?

CENA 5. EMISSORA. ESTÚDIO. INT. DIA
MARTA ENTRANDO COM MARCO NO ESTÚDIO.

MARTA — Chegamos. (P) Ué, cadê o pessoal do
jurídico.

BELCHIOR — Foi embora, cadê a garota?

MARTA — Foi embora.

BELCHIOR — Que ótimo. Tomara que eles se encontrem
no bar da esquina e tomem um suquinho de
cajá.

MARTA — E a assinatura do contrato?

BELCHIOR — Passou pra amanhã.

MARTA — Como eu adoro esse trabalho. Bom, Marco,
então a gente se vê amanhã no mesmo
horário?

BELCHIOR — Amanhã por quê?

MARTA — A gente ia assinar os contratos e ensaiar
com a Diana. Não tem contrato e não tem
Diana.

BELCHIOR — Mas tem Marco. A gente pode manter o
ensaio.

MARTA — Ah é? E quem vai dar as falas da garota?

FECHA EM BELCHIOR SORRINDO ESCROTAMENTE PARA MARTA.

CENA 6. RUAS JOVENS E DIVERTIDAS. EXT. DIA
BETA PARADA ESPERANDO DIANA. ELA OUVE SEU IPOD. ESTÁ
DANÇANDO ALGUMA MÚSICA JOVEM (PODE SER FLY ON THE WALL, DA
MILEY CYRUS). ALGUÉM PASSA E ELA DISFARÇA, COMO SE
ESTIVESSE ESPREGUIÇANDO. DIANA CHEGA.

DIANA — E aí, amiga?

BETA — Fala, gata. Demorou pra quem tava com
pressa, hein?

DIANA — O que foi?

BETA — Você me ligando toda esbaforida dizendo
que precisava me encontrar urgente.

DIANA — Ah, foi mal. Eu peguei trânsito.

BETA — Mas o que é que aconteceu pra você
precisar me ver assim com tanta urgência?

DIANA DISFARÇA. (DISFARÇA DIREITO, HEIN, VITÓRIA).

DIANA — Nada demais.

BETA — Nada demais? Diana, no telefone parecia
que você tinha descoberto que o vocalista
do The Smiths tinha morrido.

DIANA — O Morrissey morreu?!?!

BETA — Claro que não. Mas você tava tão
assustada que.

DIANA — Sabe o quê que é, Beta? Esse negócio de
Boladão.

BETA — De novo esse assunto, Diana? Você já não
tinha decidido que ia fazer a série?

DIANA — Tinha.

BETA — Que tava aceitando o que a vida tava te
oferecendo?

DIANA — Eu sei.

BETA — Então qual é o problema Diana? O que é
que aconteceu lá hoje que tá fazendo você
dar pra trás?

CORTA DIRETO PARA:

CENA 7. SHOPPING. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 4.

BRUNINHO — Eu to esperando a sua resposta, Gabi.

GABI — Se você quer tanto saber se o Marco é
gay, porque é que você não pergunta pra
ele.

BRUNINHO — Por quê? Ah, por quê é muito esquisito...

GABI — Esquisito?

BRUNINHO — Não é a coisa mais normal do mundo tu
chegar pro teu parceiro e perguntar: e
aí, tu é chegado numa barba.

GABI — Ai...

BRUNINHO — É sério.

GABI — E você quer que eu fale por ele?

BRUNINHO — Não é isso...

GABI — É isso! Eu sou namorada do Marco,
Bruninho. Como você, eu também amo ele
muito. As mesmas coisas que você falou eu
repito. Menos a história do cabelo toin
oin oin, porque graças a Deus eu sou
linda e loura.

BRUNINHO — Você tá me dizendo que não vai me contar?

GABI — É óbvio que eu não vou te contar. Se você
quer saber, pergunta pra ele.

BRUNINHO — Quer saber? É isso que eu vou fazer. Eu
vou perguntar pra ele.

FECHA NA DETERMINAÇÃO DE BRUNINHO.

CENA 8. EMISSORA. ESTÚDIO DE TV. INT. DIA
ABRE A CENA EM MARTA, MAIS MAU HUMORADA DO QUE NUNCA
DIZENDO O SEGUINTE TEXTO. ESTAMOS FECHADOS NO ROSTO DE
MARTA.

MARTA — Pô. Eu queria muito ficar aqui
abraçadinha contigo. Mas nem rola. Amanhã
eu tenho aula cedinho e se eu chegar
tarde em casa a minha mãe me mata. Bora
no show do Fiuk nesse finde?

BELCHIOR SOLTA UMA RISADA. ABRE O QUADRO E VEMOS QUE MARTA
ESTÁ DIANTE DE MARCO COM O TEXTO NA MÃO.

MARTA — Chega, Belchior, eu não vou ficar fazendo
esse papel ridículo.

BELCHIOR — Opa, opa, opa. Eu sou o diretor e to aqui
pra ensaiar as cenas antes do começo das
gravações. O Marco, ator, também
disponível. Se você, como produtora, não
sabe do paradeiro da sua atriz, o mínimo
que você pode fazer é ensaiar no lugar
dela.

MARCO — Não, Belchior, tá tranqüilo. A gente
ensaia amanhã, eu não me importo não.

BELCHIOR — Mas eu sim. Vamos passar agora a cena 2,
capítulo 3. (LÊ) Vitória acaba de ver
Daniel beijando Manu. Ela está aos
prantos.

MARTA, DE MAU HUMOR, LÊ O TEXTO.

MARTA — Você não podia ter feito isso comigo. Eu
não to pronta pra ter o coração
despedaçado.

MARCO — Mas eu não te traí!

MARTA — Traiu sim, eu vi. E você sempre soube de
mim. Você sempre soube que eu era virgem!

BELCHIOR — Marta! (P) Aos prantos...

CENA 9. RUAS JOVENS E DIVERTIDAS. EXT. DIA
BETA E DIANA SEGUEM CONVERSANDO.

BETA — Tem certeza que é só isso?

DIANA — Tenho, ué?

BETA — “Insegurança trepidante diante dos novos
fatos que se configuram”? Foi isso que te
fez me ligar?

DIANA — É, Roberta. Fiquei insegura, nervosa, foi
isso.

BETA — E não rolou mais nada naquele estúdio de
televisão?

DIANA — Não.

BETA — Nenhuma briga sua com o Marco?

DIANA — Não. Quer dizer, rolou. Mas isso também
já não me abala nem mais um pouco.

BETA — Eu to vendo.

DIANA — Beta o fato de ter dúvidas sobre fazer
Boladão não tem a ver com o Marco e ponto
final.

BETA — Tá tudo bem, não tá mais aqui quem falou.

DIANA — Obrigada.

BETA — Mas afinal de contas? Você vai ou não vai
assinar o contrato. Você vai ou não vai
fazer Boladão?

CENA 10. EMISSORA.ESTÚDIO.INT. DIA
MARCO E MARTA ENSAIANDO. BELCHIOR ASSISTINDO A TUDO ACHANDO
MUITA GRAÇA. MARTA DÁ O TEXTO NO MÁXIMO DO MAU HUMOR.

MARCO — Acredita em mim, Vitória.

MARTA — Eu quero muito, mas fica difícil de
acreditar

MARCO — Você tá dizendo que não confia mais em
mim?

MARTA OLHA O TEXTO E MANDA:

MARTA — (SECA) É.

MARCO — Peraí, Marta, tem uma fala enorme aí você
só disse/

MARTA — (SEM SACO) Depois do que eu vi ontem fica
muito difícil pra mim, te olhar e não
lembrar daquela cena de você com a Manu.
Corta o meu coração, cara. E é por isso
que mesmo me doendo muito e me machucando
fundo eu não confio mais em você.
(QUEBRA) Satisfeito?

MARCO — Eu quero te dizer que confiando ou não
confiando eu vou lutar até a morte pra
ter você de volta. Por que eu não vivo
mais sem o seu beijo, Vitória. Eu preciso
dele pra viver.

OS DOIS CONGELAM UM TEMPO. MARTA OLHA PARA BELCHIOR. CORTA
PARA BELCHIOR QUE ESTÁ SORRINDO, SACANA.

BELCHIOR — O beijo! Não vai rolar o beijo?

MARTA SAI PUTA.

BELCHIOR — (PARA MARCO) Sorte a tua. Ela tem bafo.

PASSAGEM DE TEMPO
IMAGENS DO RIO DE JANEIRO AO ANOITECER

CENA 11. CASA DE DIANA. SALA.INT.NOITE
LÚCIA VENDO UM FILME NA TV. E FERNANDO NO SOFÁ LENDO. DIANA
APARECE.

DIANA — Gente, vim dar boa noite.

FERNANDO — Já vai dormir?

DIANA — É, amanhã eu acordo cedo.

LÚCIA — Boa noite, filha.

FERNANDO — Dorme bem.

DIANA SAI. FERNANDO SEGUE LENDO UMA REVISTA.

LÚCIA — Fernando.

FERNANDO — Oi.

LÚCIA — Que será que aconteceu, hein?

FERNANDO — Ah, coisa do fundo monetário.

LÚCIA — Hein?

FERNANDO — O FMI, Lúcia. Ajustou taxa de juros e
babou geral. Foi isso que aconteceu.

LÚCIA — Eu to falando da Diana!

FERNANDO — Ah, tem alguma coisa de errado com ela?

LÚCIA — Tem, né!

FERNANDO — Ué. O que será que aconteceu?

LÚCIA REVIRA OS OLHOS.

CENA 12. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA
LÚCIA ENTRANDO NO QUARTO DE DIANA.

LÚCIA — Oi filha, posso entrar?

DIANA — Entra mãe.

LÚCIA — Eu vim saber como você tá.

DIANA — To bem, ué, por quê?

LÚCIA — Diana são oito e meia da noite e você
disse que tava indo dormir.

DIANA — Ah, mãe, to cansada.

LÚCIA — Tava passando Deus e o Diabo na Terra do
Sol quando você apareceu na sala e você
não comentou nada.

DIANA — O Glauber me entregou, né?

LÚCIA — Se tá passando um filme do Glauber Rocha
e você não comenta é porque a coisa é
séria.

DIANA — É que eu fui assinar o contrato hoje lá
na emissora.

LÚCIA — E...

DIANA — E aconteceu uma coisa muito estranha.

LÚCIA — Uma coisa estranha? O quê?

CENA 13. QUARTO DE MARCO.INT.NOITE
MARCO NA CAMA ESCREVENDO NO CADERNINHO. BRUNINHO ENTRA E
NÃO FALA NADA. MARCO SE ASSUSTA UM POUCO.

MARCO — Bruninho? O que é que tu ta fazendo aqui,
cara? Minha vó deixou você entrar?

BRUNINHO — Eu subi pela árvore de trás e pulei a
janela da cozinha.

MARCO — Que isso Bruninho?

BRUNINHO — Claro que a tua vó me deixou entrar, tu
acha que eu sou maluco?

MARCO — Foi mal, cara. Eu ia te ligar depois que
eu saí da TV hoje, mas...

BRUNINHO — Mas tu tá fugindo de mim.

MARCO — Claro que não, Bruninho.

BRUNINHO — Marco. Você pode até não querer me contar
esse segredo idiota, mas mentir pra mim
na cara dura não dá. Eu te conheço. Eu
sei que você tá fugindo de mim.

MARCO COM CARA DE PÁSSARO ASSUSTADO.

CENA 14. CASA DE DIANA. SALA.INT.NOITE
DIANA E LÚCIA SEGUEM CONVERSANDO.

DIANA — É que hoje, lá no estúdio, eu tive uma
discussão com o Marco. O menino que
passou no teste/

LÚCIA — Eu sei quem é o Marco.

DIANA — E a gente tava brigando, batendo boca. Aí
no meio da briga eu...

LÚCIA — Você.

DIANA — Eu...

DIANA FICA COM OS OLHOS CHEIOS D’ÁGUA.

DIANA — Eu não consigo falar.

LÚCIA — Não consegue?

DIANA FAZ QUE NÃO.

DIANA — Eu tenho vergonha.

LÚCIA — Diana, sou eu. Sua mãe. Peraí, deixa eu
reformular a frase: Diana, sou eu, sua
mãe gata, descolada e só dezoito anos
mais velha que você! Pode me contar.

DIANA — É que eu não to com vergonha de você,
mãe.

LÚCIA — Não?

DIANA — Eu to com vergonha de mim. Com vergonha
de admitir pra mim mesma uma coisa que tá
na minha cara.

LÚCIA — Como assim?

DIANA — Você tem razão. Eu sempre fui meio dona
da verdade. Sempre tive a sensação de
que, por ser assim, um pouco diferente
dos jovens da minha idade, eu sabia um
pouquinho mais, sabe?

LÚCIA — Sei.

DIANA — E agora eu to percebendo que eu não sei
tanto assim. Pelo menos não tanto o
quanto eu acho. E dói.

ELA CHORA.

LÚCIA — Dói. Mas a dor passa. Eu garanto que ela
passa.

AS DUAS ABRAÇADAS.

LÚCIA — Filha. Vamos fazer uma coisa? Eu to vendo
que você tá muito angustiada. Dorme.
Esquece que o mundo existe. Mergulha num
livro ou vê um filme bem idiota. Amanhã
olha pra essa angústia de novo. Eu
garanto que você vai tá bem melhor.

AS DUAS SE ABRAÇAM.

CENA 15. QUARTO DE MARCO.INT.NOITE
MARCO E BRUNINHO, UM DIANTE DO OUTRO.

MARCO — Bruninho, desculpa, cara. É que eu to
passando por uma parada muito difícil. Eu
to tendo que enfrentar o momento mais
barra pesada da minha vida.
BRUNINHO — E você não pode dividir isso com o teu
melhor amigo. Pô, Marquito. Sou eu, cara.

MARCO — É difícil, Bruninho. Eu até queria mas/

BRUNINHO — Se você não fala então eu vou falar.
Marco, tu é gay?

MARCO — Hein?

BRUNINHO — Marquito não tem o menor problema se tu
for.

MARCO — Bruninho...

BRUNINHO — Eu te amo, irmão.

MARCO — Eu sei.

BRUNINHO — Se você for gay eu vou continuar te vendo
como sempre. Vai ser estranho, mas.

MARCO — Bruninho eu não sou gay!

BRUNINHO — Não?

MARCO — Não. Eu sou virgem.

BRUNINHO — Como é que é???

FIM