sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 10

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO DEZ

CENA 1. SHOPPING. INT. NOITE

DIANA — E aí? Você passou?

MARCO — Passei.

BRUNINHO — Ah, moleeeeeeeque! Vem cá me dá um
abraço! (BRUNINHO DE SÚBITO MUDA O TOM)
Abraça não que eu ainda to irritado
contigo. Ah, dane-se. Abraça agora depois
eu volto à irritação.

BETA — Parabéns, Marco. Tenho certeza que você
vai fazer um beeeeelo par com a Diana.

DIANA DÁ UM OLHAR PARA BETA E VAI CUMPRIMENTAR MARCO.

DIANA — Que bom que você passou. Eu acho que você
vai fazer muito bem esse personagem.

MARCO — Sério?

DIANA — Sério. Parabéns.

OS DOIS FICAM MEIO SEM JEITO E ROLA UM ABRACINHO MALDOSO.
(DAQUELES QUE QUASE BEIJA NA HORA). GABI SURGE DO NADA E DÁ
UM SUSTINHO NOS DOIS.

GABI — Eu posso saber o que tá acontecendo aqui?

MARCO — Gabi?

BRUNINHO — Caraca, essa mulher sempre aparece do
nada.

MARCO — Eu nem sabia que você vinha.

BRUNINHO — Ninguém nunca sabe, né? A mulé é mó
mestre dos magos...

MARCO — Diana, essa é a minha namorada Gabi.

GABI — (MUITO GROSSA) Oi.

DIANA — Ela vai ser a próxima protagonista de
Boladão.

GABI — (MUITO FOFA) Ah é? Parabéns, que legal,
parabéns,! Que cabelo, gente! Linda, né?
Parabéns!

DIANA — (ESTRANHA) Obrigada.

GABI — (BATE PALMAS) De nada! (P) Mas e o teste
dos meninos amor? Já saiu o resultado?

MARCO — Então, acabei de receber. A Diana tava me
dando os parabéns porque eu passei.

GABI — Jura? Meu amor, você passou? O meu amor
passou no teste de Boladão?

MARCO — (MEIO SEM GRAÇA) Passei.

GABI — Nossa, Marco eu to muito feliz! Eu não
sei nem o que dizer, não sei nem como é
que eu vou te...

GABI PEGA A CABEÇA DE MARCO COM AS DUAS MÃOS E DÁ UM MEGA
BEIJO NELE. DEVE TERMINAR A FRASE ANTERIOR FALANDO DENTRO
DA BOCA DE MARCO. MUITA LÍNGUA, MUITA LÍNGUA. ELES
PRATICAMENTE SE ESPALHAM EM CIMA DE DIANA. MARCAR A REAÇÃO
DE TODOS. BETA, OBVIAMENTE, ACHA AQUILO MUITO INTERESSANTE.
GABI SAI DO BEIJO.

GABI — Parabéns!

BETA — (PARA SI) Gostei dessa garota...

FECHA EM DIANA IRRITADINHA.
PASSAGEM DE TEMPO.
IMAGENS DO RIO AO AMANHECER.

CENA 2. TEATRO. INT. DIA
BETA E DIANA CHEGANDO À AULA.

DIANA — Vê se não vai ficar zombando do Melchior,
hein?

BETA — Nunca que eu vou zombar dele. (P) Já
dizer que eu não vou tirar sarro eu não
posso garantir.

DIANA OLHA PARA ROBERTA REPRIMINDO. MELCHIOR CHAMA DIANA DE
LONGE. ELE ESTÁ APRENDENDO UNS PASSOS COREOGRÁFICOS COM UMA
ALUNA.

MELCHIOR — Diana!

CORTA PARA BETA E DIANA.

BETA — Jesus, o que é que ele tá fazendo?

CORTA PARA MELCHIOR.

MELCHIOR — Vem cá! A Karina tá me ensinando a
coreografia de Single Ladies.

CORTA PARA BETA E DIANA. BETA SE SEGURA PARA NÃO RIR. DIANA
A OLHA REPRIMINDO.

BETA — Eu não disse nada!

AS DUAS SE APROXIMAM DE MELCHIOR.

MELCHIOR — Uffff. Ai, gente, Beyoncé é o máximo, né?

BETA — (SORRISO ESCANCARADO) Adoro!

MELCHIOR — É um cabelo, uma pele, uma bunda... (P)
Ai, desculpa. Vocês aí na minha frente e
eu falando essas coisas de homem...

BETA — Relaxa, Melchi. A gente tá suuuuuper
acostumada.

DIANA — Eu tenho uma novidade pra te contar.

MELCHIOR — Jura! Conta, conta, conta!

SE SEGURANDO PRA NÃO RIR DE NOVO.

BETA — Eu vou deixar vocês dois sozinhos porque
o negócio tá brabo.

BETA SAI.

MELCHIOR — O quê? O quê que tá brabo?

DIANA — Ai, esquece a Beta, Melchior. Ela só fala
besteira.

MELCHIOR — Mas e aí? Que novidade é essa que você
tem pra me contar.

CENA 3. PRAIA. EXT. DIA
IMAGENS DE MARCO SURFANDO. ELE MANDA MUITO BEM. CLIP RÁPIDO
E ÁGIL COM MÚSICA JOVEM. FIM DO CLIPE. MARCO VAI ATÉ A
AREIA ONDE ESTÁ GASTÃO.

GASTÃO — Até que enfim desencantou, hein!

MARCO — Mandei bem hoje?

GASTÃO — Voltou a ser o Marquito que eu conheço:
mostrou pro mar quem é que manda.

MARCO — Eu to me esforçando.

GASTÃO — Aposto que tu deu umas chulapadas na
Virgínia.

MARCO — Hein?

GASTÃO — Pra tar surfando bem desse jeito tu deve
ter dado uma desestressada com a
vagalôra.

MARCO — Que isso, Gastão! Não fala assim da
garota.

GASTÃO — Apaixonou, né?

MARCO — Que me apaixonei, o quê?

GASTÃO — Ah, eu tinha me esquecido: garanhão não
se apaixona. Monta!

E SOLTA UMA RISADA.

GASTÃO — (MEIO SÍLVIO) Boa piada, boa piada!

MARCO — Gastão, esse negócio aí da Virgínia, não
é nada disso que você tá pensando.

GASTÃO — Como assim?

MARCO — Ah, é que...

GASTÃO — Vai me dizer que não comeu?

CORTA DIRETO PARA:

CENA 4. TEATRO. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 2.

DIANA — Eu passei!

MELCHIOR FAZ UMA COMEMORAÇÃO DE VIADO.

MELCHIOR — Aaaaaaaah! Eu não acredito! Que bom, que
bom, que bom. (EMENDA COM UM MOLE) Vai
ser muito bom te ver todo dia dentro da
minha casa.

DIANA — É?

MELCHIOR — Você não faz idéia.

DIANA FICA TOTALMENTE SEM JEITO.

MELCHIOR — Mas me conta! Meu irmão te deu muito
trabalho?

DIANA — Trabalho deve ter dado o primeiro disco
do The Smiths! O seu irmão quase me fez
desistir.

MELCHIOR — Ele é difícil mesmo. Mas por falar em
desistir, Diana, você largou a idéia de
ser diretora de cinema?

DIANA — Nunca! Bicicleta e Melancia, Melchior.

MELCHIOR — Oi?

DIANA — Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Televisão é televisão, cinema é cinema.

MELCHIOR — E teatro é teatro.

DIANA — Exatamente! Mas eu sou muito nova ainda.
Já que surgiu a oportunidade de trabalhar
como atriz em TV eu vou em frente. Quem
sabe não vai me ajudar no futuro.

MELCHIOR — Quem sabe, não. Eu tenho certeza! E vai
me ajudar muito no presente.

DIANA — Eu ser atriz vai ser bom pra você no
presente?

MELCHIOR — Já te falei: vai ser um prazer poder
ligar a televisão todos os dias e te ver
na minha casa. (P) Vamo pra aula?

CENA 5. PRAIA. EXT. DIA
MARCO DIANTE DE GASTÃO.

GASTÃO — Mas e aí? Você catou ou não catou a
Virgínia?

MARCO — Eu prefiro não comentar.

GASTÃO — Tá certo. Aprendeu com os mineirinhos,
né?

MARCO — Vamo mudar de assunto?

GASTÃO — Tranqüilo. Rapaz, ontem apareceu uma
moreninha aqui querendo ter aula/

MARCO — Não, Gastão. Eu to falando mudar mesmo de
assunto. Eu queria te contar uma parada.

GASTÃO — Manda.

MARCO — Eu passei no teste daquela série de TV
que eu fiz.

GASTÃO — Marco, parabéns! Caraca, cara eu to muito
feliz por você.

MARCO — Sério?

GASTÃO — Claro! Agora tu vai comer muito mais
mulé. E de quebra ainda vai trazer umas
piriguetes aqui pro mestre Gastão, dizaê.

CENA 6. TEATRO. INT. DIA
ENTRA “THIS CHARMING MAN” DO THE SMITHS. BETA E DIANA
CONVERSAM ENQUANTO SE AQUECEM PARA A AULA. (CRIAR POSIÇÕES
ENGRAÇADAS).

BETA — E aí? Como é que foi com a amiguinha?

DIANA — Roberta um dia você ainda vai quebrar a
cara com o Melchior.

BETA — Não, meu amor. Quem vai quebrar é você
que é a fim dele!

DIANA — Ah, eu também não sou a fim, a fim. Eu
admiro.

BETA — Diana, você já guardou um recibo do
remédio pra careca que ele comprou na
farmácia.

DIANA — (RI) Ai, Beta, mas isso faz muito tempo.
É sério hoje em dia eu vejo o Melchior
como um cara que eu admiro muito. Gato. E
que um dia eu até poderia ter uma
história.

BETA — No dia em que os gays voltarem a se
interessar por mulher.

DIANA — Ele pode até ser gay como você diz... Mas
que ele tem alguma coisa por mim ele tem.

BETA — Como é que você sabe?

DIANA — Eu sinto, Beta. Eu sou mulher.

FECHA NO RABO DE DIANA (BRINCADEIRINHA...).

CENA 7. PRAIA. EXT. DIA
CONTINUAÇÃO DA 5.

GASTÃO — Já to até imaginando essa praia cheia de
mulezinha louca atrás de tu!

MARCO — Gastão, o que eu queria te dizer é que,
mesmo gravando Boladão, eu não vou
desistir do surfe. Nem do campeonato.

GASTÃO — Eu espero mermo. Tu é minha esperança,
Marco. Quero te ver ganhando essa parada.

MARCO — Você vai ver, mestre. Agora deixa correr
porque eu ainda tenho que passar em casa
antes de ir pra emissora.

BRUNINHO APARECE.

BRUNINHO — Falaê, Marco.

MARCO — Ô, meu velho.

BRUNINHO — Vamo trocar uma idéia?

MARCO — Não posso, Bruninho. Eu sei que eu to te
devendo, mas eu já to super atrasado e
hoje é o dia que eu vou assinar o
contrato.

BRUNINHO — Caraca, Marco.

MARCO — Eu sei que eu to errado, mas depois a
gente conversa valeu?

MARCO SAI.

GASTÃO — É, negão. Vai se acostumando. O moleque
agora é celebridade!

BRUNINHO — To sabendo.

GASTÃO — Daqui a pouco não vai nem ter tempo pras
menininhas que vão ficar atrás dele.

BRUNINHO — Meninas, né? Eu preciso tirar uma
história a limpo. E vai ser agora.

FECHA NA DECISÃO DE BRUNINHO.

CENA 8. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA
DIANA COM FERNANDO. ELES TERMINARAM DE COMER.

DIANA — Ai, pai, to tão feliz que você tem
conseguido vir almoçar com a gente aqui
em casa.

FERNANDO — Enquanto o trabalho vai deixando, né?
(BAIXO PARA DIANA) E a comida da sua mãe
também. Outro dia ela fez um picadinho
que tinha mais sal que no Oceano
Pacífico.

DIANA — (RI) Mas o suflê de hoje tava tranquilo.

FERNANDO — É. As partes dele que não queimaram
realmente tavam muito apetitosas.

DIANA RI, E LÚCIA CHEGA COM A COMIDA.

LÚCIA — Tavam falando de mim?

FERNANDO — (SACANA. NÃO DISFARÇA!) Opa! Comentando
aqui com a Diana sobre como o sol queima
no Oceano Pacífico.

LÚCIA — Hein?

FERNANDO — Deixa pra lá.

LÚCIA — E aí, filha? Tá animada pra hoje?

DIANA — A gente só vai assinar o contrato e fazer
umas leituras.

LÚCIA — A Vânia te ajudou com o contrato?

DIANA — Super. Ela é meio louquinha, né?

LÚCIA — Meu amor ela já era agente de ator na
minha época. Não tem como ela
enlouquecer.

FERNANDO — Bom, gente, eu vou indo. Quer carona pra
TV?

DIANA — Pode ser.

LÚCIA — A que horas que marcaram com você?

DIANA PEGA O CELULAR E VÊ A HORA E SE ASSUSTA.

DIANA — Agora.

CENA 9. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
MARCO ALI PARADO. UMA FIGURAÇÃO JOVEM ALI. MARTA PASSA POR
ELE.

MARTA — Garoto.

MARCO — Oi Marta.

MARTA — O pessoal do jurídico deve tar chegando
com o contrato e o Belchior tá numa
reunião.

MARCO — Tranqüilo.

MARTA — Mas não deve demorar não. Daqui a umas
duas horinhas tá todo mundo aí.

MARCO — Duas horas?

MARTA — Vai se acostumando. Televisão é a arte de
esperar.

MARCO — Beleza...

MARTA VAI SAIR, DÁ UMA MEIA TRAVA E VOLTA.

MARTA — Marco.

MARCO — Fala, Marta.

MARTA — To confiando em você, viu?

MARCO — Eu sei.

MARTA — Não. Eu to confiando mesmo. Eu lutei
muito pra te ter nesse papel.

MARCO — É?

MARTA — A câmera não mente. Eu sei que tem alguma
coisa aí por trás desse surfista carioca
descolado. Alguma coisa muito forte. E eu
quero ver essa força no vídeo.

MARCO — Pode deixar que você vai ver.

MARTA SAI. ALICE SE APROXIMA.

ALICE — Marco?

MARCO — Alice?

FECHA NO SORRISO ENTRE OS DOIS.

CENA 11. SHOPPING. INT. DIA
BRUNINHO NO SHOPPING. ELE ESTÁ MUITO EM ALERTA. OLHANDO
PARA TODOS OS LADOS, MEIO SUSPEITO. PODE ATÉ BOTAR UMA
MÚSICA DE MISTÉRIO.

BRUNINHO — (PRA SI) Cadê você, Gabi? Cadê você que
não cheg...

GABI APARECE POR TRÁS DELE. MEGA SUSTO.

GABI — Oi.

BRUNINHO — ...aaaaahhhhhhhhh. Caraca, menina. Por
que é que tu sempre aparece assim?

GABI — Assim, como?

BRUNINHO — Assim, do nada.

GABI — Não entendi! Vamo sentar?

BRUNINHO — Tu é muito sinistra.

APERTA A BOCHECHA DE BRUNINHO.

GABI — Bonitinho!

BRUNINHO — Aaaaaai.

GABI — E aí? O que é que você queria falar
comigo?

CENA 12. EMISSORA DE TV. ESTÚDIO. INT. DIA
DIANA CHEGA MEIO ESBAFORIDA E VÊ MARCO AO LONGE CONVERSANDO
COM ALICE. SOB O PV DE DIANA, É COMO SE ALICE E MARCO
ESTIVESSEM DANDO MOLE UM PRO OUTRO. DIANA FAZ UMA CARA DE
RAIVA.

DIANA — (PARA SI) Típico surfistinha.

CORTA PARA MARCO E ALICE.

MARCO — Mas e aí? Há quanto tempo que você tá
aqui no Rio?

ALICE — Eu cheguei semana passada.

MARCO — E já rolou um teste?

ALICE — Pra novela das sete, você acredita. Acho
que eu to dando sorte.

MARCO — Sorte nada, você é super talentosa desde
criança.

ALICE — Pára.

MARCO — Caraca, lembra quando a gente era pequeno
que você me fazia ficar latindo de quatro
pra gente brincar de TV Colosso?

ALICE — Lembro! Eu sempre fazia a Priscila.

MARCO — É. E quando você obrigava a fazer Papaquito
quando tu era a Xuxa.

ALICE — Para, Marco, obrigava não. Você adorava
Xuxa. Sabia a coreografia de Ilariê
inteira.

MARCO — (RI) Que mentira!

ALICE — E “Marquei um X no teu coração”? Mandava
melhor que eu!

OS DOIS RIEM MUITO. FECHA EM DIANA ENJOADA.

CENA 13. SHOPPING.INT. DIA
GABI DIANTE DE BRUNINHO.

GABI — Eu sei que eu sou linda, mas você não me
chamou aqui só pra ficar me olhando, né?

BRUNINHO — Hã?

GABI — O que é que você quer comigo, foforucho?

BRUNINHO — Eu quero falar do Marco.

GABI — Sabia.

BRUNINHO — Ele me contou que aquela história toda lá
de gravidez era lorota.

GABI — Claro. Eu sou virgem.

BRUNINHO — Eu sei.

GABI — E não pensa que é fácil pra mim.

BRUNINHO — Ser virgem? Por quê?

GABI — Ah, é uma escolha muito difícil. Na nossa
idade, qualquer escolha sexual que seja
diferente é difícil. Tanto a minha quanto
a do Marco.

BRUNINHO — Que escolha do Marco.

GABI — É uma coisa dele, Bruninho.

BRUNINHO — Mas eu preciso saber.

GABI — Eu prometi que eu não ia contar.

BRUNINHO — Gabi, me responde uma coisa: o Marco é
gay?

CENA 14. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
ABRE A CENA DO PV DE DIANA. MARCO TROCANDO TELEFONE COM
ALICE. ELA IRRITADINHA.

DIANA — É muito cara de pau...

ALICE SAI. MARCO VÊ DIANA E VAI ATÉ ELA.

MARCO — (DOCE) Oi Diana. Você já tá aí há muito
tempo? Nem te vi chegando.

DIANA — Foco é de fato uma coisa muito difícil de
se dividir.

MARCO — Como assim?

DIANA — E o seu tava todo na sua amiguinha.

MARCO — A Alice?

DIANA — Que bom que pelo menos ela tem nome.

MARCO — O quê????

DIANA — Você é muito audaz mesmo, né?

MARCO — Audaz?

DIANA — Trocar telefone com uma menina menos de
vinte e quatro horas depois de ver a sua
namorada.

MARCO — Peraí, Diana...

DIANA — Aliás, coitada da sua namorada.

MARCO — A Alice é minha prima!

DIANA — Rá!

MARCO — A gente não se vê desde garoto quando ela
se mudou pra Ribeirão Preto!

DIANA — Conta outra vai, Marco.

ALICE APARECE.

ALICE — To indo, Marquito. E quando falar com a
tia Vera fala que eu mandei um beijão.
Tchau!

MARCO OLHA PARA DIANA MEIO PUTO.

MARCO — Caso você teja se perguntando, Vera é o
nome da minha mãe.

DIANA — Ai, desculpa.

MARCO — (PAUSINHA) Não.

DIANA — O quê?

MARCO — Não desculpo.

DIANA — Como assim?

MARCO — E pode me chamar de ogro, de surfistinha
e mais um monte de xingamento desses que
você fica aí inventando, mas eu não te
desculpo.

DIANA — Marco eu to admitindo que eu errei.

MARCO — Esse é o seu problema, garota, você
sempre erra.

DIANA — Falou o senhor perfeito. Quê? Prrrrrrrrr.

MARCO — Mas eu não faço essa parada por mal.

DIANA — E eu fiz?

MARCO — É o que tá parecendo.

DIANA — Você tá dizendo que eu sou do mal?

MARCO — Você disse isso no primeiro dia que a
gente se conheceu!

DIANA — Eu nunca disse isso!

MARCO — Disse sim!

DIANA — Eu não sei porque é que eu perco o meu
tempo!

MARCO — E eu não sei porque eu perco o meu!

DIANA — Que ódio que você passou nesse teste.

MARCO — Tem alguma coisa pra você nesse mundo que
não seja ódio?

DIANA — Eu já te pedi desculpas!

MARCO — Mas dessa vez eu não aceito! Você pode me
xingar, pode me cuspir, pode fazer o que
você quiser. Mas não importa o que você
faça eu não te desculpo/

DIANA, DO NADA, TASCA UM BEIJO EM MARCO. ELES SE BEIJAM
LOUCAMENTE. ELA SAI DO BEIJO E OLHA PRA ELE.

MARCO — Hã?

FIM

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 9

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO NOVE

CENA 1. SHOPPING. INT. NOITE

BRUNINHO — Peraí, Marco. Eu não to entendendo mais
nada. Se a Gabi tá te chantageando pra tu
voltar a namorar com ela e essa história
de gravidez é lorota, qual é esse tal
segredo que você não pode me contar?

MARCO — Bruninho.

BRUNINHO — Marco Monte Aquino. Ou você fala essa
parada pra mim agora ou eu vou embora
daqui e nunca mais olho na tua cara. Qual
é o segredo que você tá escondendo de
todo mundo?

MARCO ACUADO. DIANA E BETA APARECEM.

DIANA — Dá licença.

MARCO — Diana???

BRUNINHO — Lourinha???

BETA — E a gorda.

DIANA — Beta!

BETA — Ué, gente. Desde quando ser gorda é ruim?
Eu, hein. E se ninguém nota que eu to
aqui eu mostro. E aí, beleza, como vai,
tudo bem?

DIANA — A gente veio aqui pra... pra dar oi.

MARCO — Oi?

BRUNINHO — Oi?

BETA — Oi! E aí, beleza, como vai, tudo bem?

MARCO — Vocês querem sentar?

DIANA — Não, a gente não quer atrapalhar.

TROCA DE OLHARES ENTRE BRUNINHO E MARCO. BRUNINHO REPREENDE
MARCO.

MARCO — Vocês não tão atrapalhando nada.

DIANA E BETA SE SENTAM.

DIANA — Obrigada.

BETA DÁ UM SORRISO ESCROTO COM SOM SAINDO PELAS NARINAS
(DEU PRA ENTENDER?). FECHA NISSO.

CENA 2. CASA DE DIANA. SALA. INT. NOITE
LÚCIA E FERNANDO ASSISTEM A TELEVISÃO.

FERNANDO — Eu nunca consigo entender esse programa.

LÚCIA — Como não entende, Fernando. É sobre seis
amigos muito engraçados.

FERNANDO — Só isso?

LÚCIA — Precisa de mais?

FERNANDO — Mas quem pega quem?

LÚCIA — Depende da temporada.

FERNANDO — Como assim?

LÚCIA — Tem umas épocas que a loura fica com o
moreno irmão da neurótica. Outras que ela
tá com o ator amigo do piadista.

FERNANDO — Mas e a maluquinha?

LÚCIA — Ela não pega ninguém da série...

FERNANDO — Acho seriado de TV um negócio muito
esquisito.

LÚCIA — Por quê?

FERNANDO — Sei lá. Todo mundo pega todo mundo e as
pessoas sempre tem que ter uma coisa
interessante pra falar.

LÚCIA — Não é verdade.

FERNANDO — É sim. Nunca vi um seriado com uma cena
que as pessoas não falam nada, por
exemplo.

LÚCIA — Ah, deve existir...

CORTA DIRETO PARA:

CENA 3. SHOPPING. INT. NOITE
BETA, DIANA, BRUNINHO E MARCO NUM SILÊNCIO CONSTRANGEDOR NA
MESA. NINGUÉM FALA NADA. MARCO MEIO CONGELADO. DIANA
OLHANDO PARA O NADA. BRUNINHO, NUM DADO MOMENTO TOMA TODO
REFRIGERANTE E FAZ AQUELE BARULHO CHUPANDO DO CANUDO DO
REFRIGERANTE NO FINAL. BETA FAZENDO CARAS ENGRAÇADAS A
TUDO. IDEAL QUE A CENA DURE PELO MENOS 30 SEGUNDOS.

CENA 4. ESTÚDIO DE TV. INT. NOITE
MARTA E BELCHIOR ESCOLHENDO ATORES.

MARTA — Chato pra caramba esse programa.

BELCHIOR — Por quê?

MARTA — Você que vai dirigir.

BELCHIOR — Não vem botar a culpa na direção não que
o texto em si já é um lixo.

MARTA — Um lixo.

BELCHIOR — Muito pretensioso.

MARTA — Nisso você tem razão.

BELCHIOR — Impressionante a capacidade que algumas
pessoas de televisão têm de escrever mal.

MARTA — É, né?

BELCHIOR — Sem falar no ego! Ainda bem que os
autores são figuras desinteressantes e
não aparecem na TV.

MARTA — Ah, meu filho, mas eles dão um jeito.
Sempre bota um parente, uma comida, uma
amiga encostada...

BELCHIOR — E tem uns que se acham tanto que se
deixassem até se colocar no próprio
programa se colocaria. (P) Ô gentinha,
viu?

MARTA — Vamos voltar à escalação?

CENA 5. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA
LÚCIA E FERNANDO SEGUEM VENDO TV.

FERNANDO — Agora eu me perdi um pouco.

LÚCIA — Se perdeu no quê?

FERNANDO — Eles tão falando deles mesmos?

LÚCIA — Como assim?

FERNANDO — Os personagens tão falando deles mesmos?

LÚCIA — Isso sempre acontece nesse programa.

FERNANDO — To falando que série de televisão é uma
coisa esquisita.

LÚCIA — Nada de esquisito. Você que é careta e
não entende.

FERNANDO — Pô, um negócio que é feito pra fazer a
pessoa se divertir tem que entender?

LÚCIA — Ai, Fernando, francamente. Se a Diana
estivesse aqui ela te matava.

FERNANDO — Por quê?

LÚCIA — Porque é justamente disso que ela fala.
Que as coisas jovens que tem na televisão
são só diversão. O jovem hoje em dia é
rápido, ágil, saca tudo. Te garanto que
ele não tem que fazer esforço nenhum pra
entender.

FERNANDO — Mas peraí? Esse programa é jovem?

CENA 6. SHOPPING. INT. NOITE
ABRE NO SILÊNCIO CONSTRANGEDOR ENTRE OS QUATRO. OUVIMOS UM
LEVE BARULHO DE PEIDO. MARCO E DIANA QUE ATÉ ENTÃO ESTAVAM
CONGELADOS OLHAM PARA BRUNINHO.

BRUNINHO — Que foi?

MARCO — Pô Bruninho.

BETA — Deixa o garoto em paz, gente. Fui eu.

DIANA — Eu não acredito Roberta!

BETA — Alguém tinha que quebrar o silêncio de
alguma forma, né?

DIANA — Que tal falando?

BETA — Assim é mais engraçado. Sem contar o
alívio.

BETA SE LEVANTANDO. MARCO E BRUNINHO ABANAM O CHEIRO.

BETA — Vem aqui comigo rapidinho?

DIANA — Pra quê?

BETA — Comprar uma salada de repolho.

MARCO E BRUNINHO FALAM JUNTOS.

MARCO — Não!

BRUNINHO — Não!

BETA — Remédio pra gases então.

ELAS SAEM. MARCO E BRUNINHO FICAM ALI.

MARCO — Caraca, que sinistro a menina peidando
aqui na frente de todo mundo.

BRUNINHO — Hehehe, eu até que achei maneiro.

MARCO — Gostou né?

BRUNINHO — Não vem não que eu to na nóia contigo.

MARCO — Por quê?

BRUNINHO — Você fica me enrolando pra contar essa
droga desse segredo.

MARCO — A Diana chegou bem na hora.

BRUNINHO — Mas agora ela não tá aqui. E aí? Vai
falar ou não vai?

CENA 7. SHOPPING. INT. NOITE
BETA E DIANA EM OUTRO PONTO CONVERSAM. ELAS ESTÃO NUMA FILA
PARA COMPRAR UM BOLO.

DIANA — Não preciso nem dizer o quanto foi
descabida aquela intervenção flatulenta
da sua parte.

BETA — Eu até que achei divertido.

DIANA — (RI) Cara, você é muito maluca.

BETA — E pela sua risada você também achou.

DIANA — Roberta, você sabe que eu sou sua fã.

BETA — Não só minha, não, nega.

DIANA — Não vai começar falando do Marco.

BETA — Quem tá começando é você!

DIANA — O que é que foi aquele silêncio?

BETA — Tesão enrustido.

DIANA — E voltamos à recorrência Robertiana.

BETA — Diana, olha no meu olho e diz que você
não sente nada por esse garoto.

CENA 8. SHOPPING. INT. DIA
BRUNINHO E MARCO.

BRUNINHO — Mira na minha fuça e diz que você não tá
escondendo nada de mim.

MARCO — Bruninho agora não.

BRUNINHO — Por quê?

MARCO — A Diana e a Beta podem voltar.

BRUNINHO — E daí?

MARCO — Eu não quero que elas saibam da minha
intimidade assim.

BRUNINHO — Intimidade.

MARCO — É.

BRUNINHO — Tem a ver com sexo?

MARCO — Tem...

BRUNINHO — Com as pessoas que você pega.

MARCO — De certa forma.

BRUNINHO — Com as mulheres que você come.

MARCO — Bruninho! (P) Ih, alá. A Diana tá olhando
pra cá.

DIVIDE TELA
INTERCALAR DIÁLOGO COM

CENA 9. SHOPPING. INT. DIA
BETA E DIANA EM OUTRO CANTO.

DIANA — Disfarça, ele tá me vendo.

BETA OLHA.

DIANA — Eu falei pra você disfarçar.

BRUNINHO — Agora a gorda tá olhando também.

MARCO — Bruninho!

BETA — E aquele amigo nerd dele?

BRUNINHO — Será que elas tão falando da gente?

BETA — É o mico em pessoa.

BRUNINHO — Acho que a gorda tá dando mole pra mim.

BETA — Aposto que ele acha que eu to dando mole
pra ele.

BRUNINHO — Com certeza ela tá dando mole pra mim.

MARCO — Eu sempre fico bolado perto dessa Diana.

DIANA — Eu confesso que eu não sei agir muito bem
na companhia do Marco.

BRUNINHO — Hã?

BETA — Você vai querer bolo?

BRUNINHO — Bolado?

BETA — Vou comer um bolo de chocolate.

DIANA — Como assim bolo?

MARCO — Bolado.

BRUNINHO — Bolado, bolado?

BETA — Bolo!

MARCO — Bolado.

DIANA — Bolo.

BRUNINHO — Bolado.

BETA — Isso, Bolo.

FIM DA DIVISÃO DE TELA
ATENÇAO. CENA PROSSEGUE SÓ NA MESA DE MARCO E BRUNINHO.

BRUNINHO — Elas tão comprando bolo.

MARCO — Ah, tá.

BRUNINHO — Isso quer dizer que você ainda tem alguns
segundos antes delas voltarem pra cá pra
me contar essa parada.

MARCO — Bruninho.

BRUNINHO — Tem a ver com sexo, com as pessoas que
você pega que não são as mulheres que
você come.

MARCO — Caraca, mas tu não desiste, né?

BRUNINHO — Marco, eu não to entendendo. Desse jeito
até parece que você é...

AS MENINAS VOLTAM COM O BOLO. BRUNINHO FICA ALI ESPANTADO.

BETA — E aí, galera?

DIANA — A gente comprou bolo, vocês querem?

MARCO — Não obrigado.

BRUNINHO — (DESCONFIADO) Não sei não... To achando
que esse bolo é torta.

CENA 10. ESTÚDIO. INT. NOITE
MARTA E BELCHIOR NO MONITOR.

MARTA — Ai, Belchior, pelo amor de Deus! Eu não
agüento mais esse monte de jovem chato na
minha frente.

BELCHIOR — Quem mandou não estudar e virar produtora
de TV.

ENTRA UM JOVEM.

JOVEM — Oi da licença. O teste pra novela das
sete é aqui.

MARTA — Não é na sala do lado, mas nem se dê ao
trabalho de ir porque você tá reprovado.

JOVEM — Mas por quê???

MARTA — Queridinho lê o aviso pregado nessa
porta.

JOVEM — Teste para novela das sete na sala do
lado.

MARTA — Você ainda quer saber porque você tá
reprovado?

JOVEM — E quem é você pra me reprovar?

MARTA — A produtora!

O JOVEM FICA MUITO ASSUSTADO.

JOVEM — Você vai se arrepender! Eu fiz o
Despertar da Primavera, viu? E não era
coro!

E SAI CHORANDO.

BELCHIOR — Por que é que você fez isso?

MARTA — A menina não sabia ler!

BELCHIOR — E desde quando pra ser ator tem que saber
ler?

CENA 11. SHOPPING. INT. NOITE
BETA COME SEU BOLO, DIANA AO LADO DE MARCO. BRUNINHO AINDA
MEIO... BOLADO.

BETA — Quê? Que história é essa de bolo e torta,
menino?

BRUNINHO — Nada não.

BETA — Quer bolo?

BRUNINHO — Não... Eu to bolado.

MARCO — Mas e aí, Diana? Você teve alguma
resposta do teste?

DIANA — Hum Rum.

MARCO — Sério? Como foi?

BETA — Ela passou.

DIANA — Obrigada, Roberta, mas eu por acaso sei
usar bem o dom da fala.

MARCO — É... Eu que não sei, né?

CLIMINHA ENTRE DIANA E MARCO. DIANA FAZ AQUELA CARA DE QUE
VIU UM CÃO SEM DONO QUE SÓ VITÓRIA SABE FAZER.

DIANA — Desculpa por ter falado daquele jeito com
você na praia.

BRUNINHO — Já que estamos falando em praia, aquele
dia a senhora me deu o maior bolo!

BETA OFERECE O BOLO A BRUNINHO.

BRUNINHO — Não, obrigado. Fiquei horas debaixo do
sol te esperando.

DIANA — Eu cheguei na hora, você que nunca
apareceu.

BRUNINHO — Pode ser que eu tenha me atrasado um
pouquinho, mas é que eu demoro um pouco
pra me arrumar.

DIANA — Tipo duas horas?

BRUNINHO — É... Vocês acham muito?

CENA 12. CASA DE DIANA. SALA. INT. NOITE
FERNANDA E LÚCIA SEGUEM VENDO TV.

FERNANDO — E esse programa da Diana, hein?

LÚCIA — O que é que tem?

FERNANDO — Como é que você acha que vai ser?

LÚCIA — Acho que vai ser legal.

FERNANDO — Eu gosto desse Boladão.

LÚCIA — Eu também. Acho bonitinho.

FERNANDO — Não sei o que é que a Diana tem contra.

LÚCIA — Ela diz que ela não se reconhece nas
histórias.

FERNANDO — Mas a Diana não é uma jovem normal, né?

LÚCIA — E existe algum jovem normal?

FERNANDO — Você tá falando que todo jovem é maluco?

LÚCIA — Não é isso. Mas é que essa fase da vida
tudo é novo. E novo é sempre esquisito.
Não é normal, sabe?

CENA 13. ESTÚDIO DE TV. INT.NOITE
MARTA E BELCHIOR SEGUEM.

MARTA — Você é um anormal.

BELCHIOR — Mas porquê?

MARTA — Você não aceita nenhum nome que eu te
sugiro pra ser o protagonista da série!

BELCHIOR — Marta, você me sugeriu o João Velho!

MARTA — E daí?

BELCHIOR — Uma pessoa que sugere o João Velho pra
protagonista de programa devia ser
proibida de falar.

MARTA — Por quê???

BELCHIOR — Aquele cavanhaque dele... Não consigo.

MARTA — Eu nunca achei que eu fosse dizer isso,
mas você consegue ser mais insuportável
do que eu!

BELCHIOR — Obrigado pela parte que me toca.

MARTA — Gabriel Wainer

BELCHIOR — Muito estranho.

MARTA — Guilherme Winter.

BELCHIOR — Muito velho.

MARTA — Gabrile Braga Nunes.

BELCHIOR — Pra fazer o avô?

MARTA — (GRITA) Belchioooooooooooooooooor

BELCHIOR — Que foi?

MARTA — Como produtora desse programinha
insuportável eu vou bancar essa
escalação, o ator que eu escolher vai
bombar e no fim da temporada você vai
ficar com cara de idiota me dando razão e
puxando o meu saco como sempre acontece!
E se tudo o que eu disse não acontecer eu
prometo que eu peço demissão e vou vender
sacolé na feira de Acari! Estamos
entendidos?

BELCHIOR — Ok.

NISSO, ABRE A PORTA E APARECE JOÃO VELHO.

JOÃO — Dá licença gente.
BELCHIOR — Grande João, que saudade de você meu
garoto! Bom te ver!

JOÃO — Bom te ver também, Belchior.

BELCHIOR — Cavanhaque tá lindo!

JOÃO — (ESTRANHA) Tá... Desculpa interromper
vocês, mas é aqui que é o teste da novela
das sete?

MARTA — (MUITO IRRITADA) Você não leu o aviso na
porta?

JOÃO — Aviso. Aqui não tem aviso não. Só durex.
Alguém deve ter arrancado.

MARTA — Filha da p/

CORTA DIRETO PARA:

CENA 14. SHOPPING. INT. NOITE
BETA, BRUNINHO, MARCO E DIANA.

MARCO — Pô, mas to muito feliz que você tenha
passado no teste.

DIANA — E você, teve alguma resposta?

MARCO — Eles disseram que iam me ligar hoje. Não
deve ter rolado.

DIANA — Que pena.

BETA — Que pena mesmo...Vocês fariam um belo par
na TV. Bicicleta e Melancia enfim juntos.

MARCO — Bicicleta e Melancia? Já ouvi isso antes.

BETA - (OLHANDO PARA DIANA) Já?

DIANA — (CORTA) Mas essas coisas de televisão são
assim mesmo. Quando você menos espera
surge uma oportunidade.

BRUNINHO — Vocês acham mesmo duas horas muito tempo
pra se arrumar?

TOCA O CELULAR DE MARCO. Atenção Sonoplastia: TOQUE DE
CELULAR. ELE OLHA.

MARCO — Ih, é a minha mãe.

ATENDE.

MARCO — Alô? Mãe, que saudade!

BETA — Saudade?

BRUNINHO — Os pais dele moram na Mongólia.

BETA — Ele mora sozinho?

BRUNINHO — Não, com a vó.

MARCO MURCHA.

MARCO — Ah tá.

BRUNINHO — Aconteceu alguma coisa?

MARCO — Não é que eu pensei... Não tudo bem. Pode
falar. (P) Sério? Você tá falando sério?
(P) Tá. Posso. Não tranqüilo. Tudo bem.
Tchau.

MARCO DESLIGA OO TELEFONE, MUITO BOLADO.

BRUNINHO — Caraca, Marco, o que é que aconteceu com
a tua mãe pra você ficar desse jeito?

MARCO — Não era a minha mãe.

BETA — Não era a sua mãe?

MARCO — Não, eu olhei o número restrito achei que
fosse ligação de fora, mas...

OLHA PARA DIANA.

MARCO — Era da TV. Era a Marta com o resultado do
teste.

DIANA — E aí? Você passou?

MARCO — Passei.

BRUNINHO — Ah, moleeeeeeeque! Vem cá me dá um
abraço! (BRUNINHO DE SÚBITO MUDA O TOM)
Abraça não que eu ainda to irritado
contigo. Ah, dane-se. Abraça agora depois
eu volto à irritação.

BETA — Parabéns, Marco. Tenho certeza que você
vai fazer um beeeeelo par com a Diana.

DIANA DÁ O OLHAR PARA BETA E VAI CUMPRIMENTAR MARCO.

DIANA — Que bom que você passou. Eu acho que você
vai fazer muito bem esse personagem.

MARCO — Sério?

DIANA — Sério. Parabéns.

OS DOIS FICAM MEIO SEM JEITO E ROLA UM ABRACINHO MALDOSO.
(DAQUELES QUE QUASE BEIJA NA HORA). GABI SURGE DO NADA E DÁ
UM SUSTINHO NOS DOIS.

GABI — Eu posso saber o que tá acontecendo aqui?

FIM

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 8

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO OITO

CENA 1. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA

DIANA — Shhhhhhh! Alô?(P) Oi Marta.

BETA — (FALA BAIXO) É a produtora

DIANA — Shhhhhhh!(P) Ah, saiu? Sei. Sei. Tá. Não
tudo bem. Tá. Tá bom.

DIANA DESLIGA.

LÚCIA — E aí, minha filha?

DIANA EM SILÊNCIO.

BETA — Desembucha Diana. Você vai ou na vai ser
a nova protagonista de Boladão?

DIANA — Eu...

LÚCIA — Meu amor, relaxa. Teste é assim mesmo. Se
você não passou não tem porque ficar mal.

DIANA — Eu passei!

LÚCIA DE SÚBITO COMEÇA A GRITAR. BETA TAMBÉM.

LÚCIA — Aaaaaaaaaaaaah! Eu sabia, eu sabia!

BETA — Eu também, eu também.

FERNANDO — Parabéns, filha!

DIANA — (FELIZ) Eu vou ser a próxima protagonista
de Boladão! (CAI EM SI) Eu vou ser a
próxima protagonista de Boladão. Peraí.
(MUDA TUDO) Eu vou ser a próxima
protagonista de Boladão?

LÚCIA E BETA VÃO MURCHANDO.

BETA — Ah, meu pai. Sabia que em algum momento
esse hard drive ia dar pau...

CENA 2. QUARTO DE MARCO. INTERIOR. DIA
MARCO PREOCUPADO DIANTE DE GABI.

GABI — (PUTA) E aí, Marquito? Você já contou pra
sua mãe que ela vai ser vovó ou foi só
pro Bruninho mesmo?

MARCO — Foi mal Gabi.

GABI — Foi mal não, foi péssimo!

MARCO — Eu sei.

GABI — Marco, Marco. Você era um menino tão
bonzinho. Tão comportado. Se você não se
comportar a tia Gabi vai ter que te
punir.

MARCO — Tu tá maluca?

GABI — Completamente. Se você fosse diabético eu
te trancava nesse quarto até você cair de
fome e depois só te daria chocolate.

MARCO — Quê?

GABI — Brincadeirinha. Mas é que você sabe que
eu odeio mentira.

MARCO — Ah, você odeia mentira?

GABI — Se a gente for competir pra ver quem tá
mentindo mais, você ganha de lavada!

MARCO — O que é que você quer comigo, hein?

GABI — Você pode começar dizendo pra mim porque
você contou pro Bruninho que eu to
grávida.

MARCO ACUADO.

CENA 3. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA
DIANA EM CHOQUE DIANTE DE BETA, FERNANDO E LÚCIA.

BETA — Diana, eu juro que se você desistir de
fazer essa série/

DIANA — Eu não vou desistir de fazer a série. Eu
vou aceitar o que o mundo tá me dando.

LÚCIA — Que orgulho, minha filha.

DIANA — Mas é muita informação, gente. De uma
hora pra outra eu vou virar o símbolo de
uma cultura adolescente que eu sempre
rechacei.

BETA — Tecla SAP!

DIANA — Que eu sempre neguei.

LÚCIA — Mas aí é que tá filha. Usa isso pra
mostrar as coisas em que você acredita.

BETA — Eu vivo dizendo isso pra ela.

DIANA — Eu sei, gente. Eu to feliz. Só to
processando os acontecimentos.

FERNANDO — Processa o quanto você quiser, filhona.
Eu to muito feliz com a notícia. Agora
me diz uma coisa: esse negócio aí vai ter
beijo?

LÚCIA — Não começa, Fernando. Você não tinha
ciúmes de mim em cena, vai ter da Diana.

FERNANDO — Ciúme não. Eu to é preocupado com o pobre
coitado que vai ter que encarar essa
fera.

DIANA RI.

DIANA — Para, pai.

BETA — Aliás, quem será o pobre coitado que vai
ter que encarar essa fera? Será que é o
Marco?

FECHA EM DIANA PREOCUPADA.

CENA 4. ESTÚDIO. INT. DIA
BELCHIOR E MARTA DIANTE DE UM MONITOR.

MARTA — Pronto. A mala da Diana já tá sabendo.

BELCHIOR — Avisou que ela tem que vir aqui assinar o
contrato?

MARTA — Não, eu tive uma ausência e comecei a
cantar o Hino do Conrinthians em vez de
avisar.

BELCHIOR — Tá engraçadinha hoje, hein?

MARTA — É que a noite ontem foi muito boa.

BELCHIOR — Ué, mas a gente nem se encontrou ontem de
noite...

MARTA — Entendeu agora porque ela foi tão boa?

BELCHIOR — Bom, vamos seguir adiante.

MARTA — A gente ainda não bateu o martelo sobre o
garoto.

BELCHIOR — Ah, esse garoto. Quem é mermo que a gente
tem de opção?

MARTA — O meu favorito é esse aqui.

CENA 5. QUARTO DE MARCO. INT. DIA
MARCO E GABI.

GABI — Eu to esperando a sua explicação.

MARCO — Eu pirei, Gabi.

GABI — Pirou?

MARCO — Eu pirei. Eu não sabia o que dizer pra
ele.

GABI — Que tal a verdade?

MARCO — Você sabe que eu não posso fazer isso.

GABI — Sei? Achei que eu fosse só uma maluca.

MARCO — Gabi, vamo deixar isso quieto, eu explico
tudo pro Bruninho e digo que você não tá
grávida, tá legal?

GABI — (DOCE) Bem melhor assim. Mas e a outra
parte?

MARCO — Que parte.

GABI — Você ainda não disse se a gente vai
reatar o nosso namoro.

MARCO — Gabi...

GABI — Diz que sim, Marquito. Eu te amo tanto.
(ESQUISITINHA) Eu te amo tanto que dói.

CENA 6. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 4.

FERNANDO — Quem é esse tal de Marco?

BETA — Um carinha aí que a Diana tá querendo
pegar.

DIANA — Não comecem!

LÚCIA — Eu não falei nada.

FERNANDO — Você também conhece esse rapaz?

LÚCIA — Nunca vi mais gordo.

BETA — Mas aposto que já ouviu falar muito dele.

DIANA — Por favor, não vamos estragar o momento.

FERNANDO — Eu só perguntei quem é o ator que vai
contracenar contigo.

DIANA — Eu ainda não sei. A Marta disse que eles
não decidiram.

BETA — Tomara que não seja o Marco, né?

DIANA — Tomara mesmo.

BETA — Ou que seja! Aí você vai ser obrigada a
conviver com o garoto e admitir que tá a
fim dele logo de uma vez.

LÚCIA DEIXA ESCAPAR UMA RISADA.

LÚCIA — Desculpa. Desculpa.

CENA 7. QUARTO DE MARCO. INT. DIA
CONTINUAÇAO DA CENA 5

MARCO — Eu aceito, Gabi. Eu aceito voltar a
namorar com você.

GABI — Meu amor. Você não sabe o quanto você me
faz feliz.

GABI VAI ABRAÇAR MARCO QUE SE DESVENCILHA DELA.

MARCO — Gabriela. Você sabe porque eu to
aceitando esse namoro, né?

GABI — Porque você me ama?

MARCO — Porque você tá me chantageando/

GABI — (FORTE) Porque você me ama?

MARCO — É, Gabi. É porque eu te amo.

GABI — Eu também, Marco. Muito.

GABI VAI BEIJAR MARCO. ELE UM POUCO DESCONFORTÁVEL. NA HORA
DO BEIJO O TELEFONE DE MARCO TOCA. ELE ATENDE.

MARCO — Alô. (P) Oi Marta. Claro, claro, posso
falar sim. E aí, saiu o resultado do
teste?

MARCAR GABI MUITO INTERESSADA.

MARCO — Tá. Tudo bem. Entendi. Beleza, pode
deixar. Outro, Marta.

GABI — E aí, meu lindo? Passou no teste?

MARCO FICA EM SILÊNCIO.

GABI — A gente já pode comemorar?

MARCO — Ainda não. Eles me ligaram dizendo que já
escolheram a menina, mas tão na dúvida
sobre o cara. Eu sou um dos finalistas.

GABI — E quando é que sai o resultado?

MARCO — Parece que hoje ainda.

GABI — Ai, que lindo, Marquito! Eu tenho muito
orgulho do meu namorado. Muito, muito,
muito. (P) Orgulho rosa, sabe?

MARCO — Orgulho rosa?

GABI — É.

MARCO — Como assim?

GABI FAZ UM GESTO MEIO SOLTO COMO SE ABRISSE OS BRAÇOS
FOFAMENTE PARA O NADA.
PASSAGEM DE TEMPO.
IMAGENS DO RIO AO ANOITECER.

CENA 9. CASA DE DIANA. SALA. INT. NOITE.
LÚCIA E FERNANDO LENDO NA SALA.

LÚCIA — Amor, eu tava aqui pensando...

FERNANDO — Fala.

LÚCIA — No lugar que você conseguiu a roupa de
faz-tudo, tem de Papai Noel?

FERNANDO — Papai Noel?!?!

LÚCIA — Ah... Pode ser interessante.

FERNANDO — A Beta tem razão.

LÚCIA — A Beta.

FERNANDO — Você é muito safadinha mesmo.

DIANA ENTRA PENDURANDO BRINCOS NA ORELHA.

LÚCIA — Vai sair, filha?

DIANA — Combinei de encontrar com a Beta. Ela
quer comemorar a história do teste.

LÚCIA — Já tá muito tarde Diana.

DIANA — Mãe eu prometo que eu não vou demorar. E
nem dá pra desmarcar porque a Beta já tá
indo pro shopping.

FERNANDO — Shopping? Vocês vão comemorar no
shopping?

DIANA — Qual o probelma?
LÚCIA — Diana, minha filha. A última vez que eu
te vi num shopping...

DIANA — Foi em mil novecentos e noventa e oito,
eu sei. Bom, deixa eu ir senão eu vou me
atrasar mais ainda. Beijo.

ELA SAI.

FERNANDO — Caramba, Lúcia... Sua filha tá mudada.

LÚCIA — (ESPANTADA) Até brinco ela tá usando!

CENA 10. SHOPPING. INT. NOITE
MARCO SENTADO NUMA MESA. BRUNINHO CHEGA.

MARCO — Fala, moleque.

BRUNINHO — Fala, Marco.

MARCO — E aí, como é que tu tá?

BRUNINHO — Como é que tu tá? E desde quando você me
pergunta “como é que tu tá?”

MARCO — Ah, só to perguntando, ué. Não posso me
preocupar com o meu melhor amigo?

BRUNINHO — Quê?

MARCO — Eu perguntei se eu não podia me preocupar
com o meu amigo?

BRUNINHO — Agora tu se entregou. Tem alguma coisa
errada.

MARCO — Por quê?

BRUNINHO — Eu falei “quê” e tu não fez “prrrrr”. Até
repetiu o que eu não entendi. Caraca,
Marco o que é que tá acontecendo?

CENA 11. SHOPPING. INT. NOITE
NUM OUTRO PONTO DO SHOPPING, CHEGAM BETA E DIANA.

BETA — To chocada.

DIANA — Chocada?

BETA — Mais chocada que com o final de Lua Nova.

DIANA — Como assim?

BETA — Você num shopping?

DIANA — Foi você que convidou!

BETA — Mas foi em tom de piada, né Diana. Nunca
que eu imaginei que você fosse aceitar.

DIANA — Ai, Beta, qual o problema, também não é
nada demais.

BETA — Gata, é a maior novidade desde que o Zac
Efron assumiu que é gay.

DIANA — O Zac Efron assumiu que é gay!??!?

BETA — Ainda não. Pra você ver o tamanho da
novidade!

DIANA RI.

CENA 12. CASA DE DIANA. SALA. INT. NOITE
FERNANDO E LÚCIA LENDO. LÚCIA DO NADA COMEÇA A FALAR.

LÚCIA — Não tem a ver só com a idade.

FERNANDO — Idade, que idade?

LÚCIA — É mais que um simples amadurecimento,
sabe?

FERNANDO — Mais que amadurecimento.

LÚCIA — Mudança mesmo, eu acho.

FERNANDO — Do que é que você tá falando?

LÚCIA — Como do que eu to falando, Fernando, da
Diana.

FERNANDO — Vinte anos de casado e eu ainda não
aprendi a adivinhar o tema de um assunto
que você puxa do nada.

LÚCIA — De uns tempos pra cá a Diana tá passando
por uma mudança que não tem a ver só com
a idade. É mais que um simples
amadurecimento.

FERNANDO — Agora que você juntou as frases na ordem
certa fica bem mais fácil de entender.

LÚCIA — Eu to falando sério, Fernando!

FERNANDO — Eu também. E se você quer saber eu fico
muito feliz com essa mudança da Diana.

LÚCIA — É né?

FERNANDO — Vamos combinar que a personalidade forte
da Diana nunca foi mel na sopa.

LÚCIA — É verdade.

FERNANDO — Uma jovem que não gosta de ser jovem é no
mínimo muito chato.

LÚCIA — Você tá chamando a nossa filha de chata?

CENA 13. SHOPPING. INT. NOITE
MARCO E BRUNINHO SEGUEM BATENDO PAPO.

BRUNINHO — Desembucha logo, Marco. O que é que tá
rolando?

MARCO — Não, Bruninho é que...

BRUNINHO — Puuutz. Já sei, meu amigo. Eu pisei na
bola, né?

MARCO — Pisou na bola?

BRUNINHO — Eu disse pra Gabi que tu me contou que
ela tá grávida.

MARCO — Pois é.

BRUNINHO — Cara, tu sabe que eu sou discreto.

MARCO — Eu sei...

BRUNINHO — E eu não queria, mas escapou, sabe? Tipo
peido de feijão?

MARCO — Peido de feijão?

BRUNINHO — É, cara. Peido de feijão é fogo: escapa!

MARCO — Mas não é disso que eu quero falar.

BRUNINHO — Ah, não?

MARCO — Quer dizer é, mas não é.

BRUNINHO — É mas não é?

MARCO — É.

BRUNINHO — Tu não acha que eu pisei na bola contando
pra Gabi que você me disse que ela tava
grávida?

MARCO — Não...

BRUNINHO — Pô, agora eu não to entendendo mais nada.

MARCO — (GRITA) Quer deixar eu falar?

CENA 14. SHOPPING.INT. DIA
BETA E DIANA, NO OUTRO CANTO DO SHOPPING, JÁ SENTADAS.

BETA — Ih, alá. Já viu que tá aí?

DIANA — Quem?

BETA — Seu ogro barra surfistinha barra paixão
da tua vida que você não admite querer
nem sob tortura.

DIANA — Ai, era tudo o que eu precisava.

BETA — Tira a ironia dessa frase e terás uma
verdade.

DIANA — Roberta...

BETA — Ai, Diana, pelo menos ir lá falar com o
garoto você tem que ir.

DIANA — Claro que não!

BETA — Diana, vai dizer que você não tá nem um
pouquinho curiosa pra saber se ele passou
no teste?

DIANA — To, mas...

BETA — Então você tem que ir lá.

FECHA EM DIANA PENSATIVA.

CENA 15. CASA DE DIANA. SALA. INT. NOITE
LÚCIA E FERNANDO SEGUEM CONVERSANDO

LÚCIA — Eu não acredito que você chamou a sua
filha de chata.

FERNANDO — Lúcia, eu acho a Diana uma das pessoas
mais carismáticas que eu conheço, como é
que eu vou dizer que ela é chata?

LÚCIA — Ah, bom.

FERNANDO — Aliás, ela se parece muito com uma pessoa
na idade dela.

LÚCIA — Ah, é? Que pessoa é essa?

FERNANDO — Uma pessoa que eu vai ser agarrada dentro
de três segundos.

LÚCIA — Três?

FERNANDO — Dois, um...

FERNANDO AGARRA LÚCIA.

CENA 16. SHOPPING. INT. NOITE
MARCO E BRUNINHO SEGUEM CONVERSANDO.

BRUNINHO — Eu to esperando, Marco. O que é que você
quer me contar.

MARCO — Lembra que eu te falei que a Gabi tá me
chantageando com uma parada?

BRUNINHO — Lembro.

MARCO — E eu disse que ela tava grávida?

BRUNINHO — Sim.

MARCO — A verdade é que a Gabi não tá grávida.

BRUNINHO — Não? Então por que é que tu falou que ela
tava?

MARCO — Na verdade eu não falei, quem falou foi
você. E eu... não disse que sim nem que
não...

BRUNINHO — Peraí, Marco. Eu não to entendendo mais
nada. Se a Gabi tá te chantageando pra tu
voltar a namorar com ela e essa história
de gravidez é lorota, qual é esse tal
segredo que você não pode me contar?

MARCO — Bruninho.

BRUNINHO — Marco Monte Aquino. Ou você fala essa
parada pra mim agora ou eu vou embora
daqui e nunca mais olho na tua cara. Qual
é o segredo que você tá escondendo de
todo mundo?

FIM

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 7

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO SETE

CENA 1. QUARTO DE MARCO. INT. DIA
BRUNINHO E MARCO.

MARCO — A Gabi tá me chantageando.

BRUNINHO — Chantageando?

MARCO — Ela quer me obrigar a namorar com ela.

BRUNINHO — Hã?

MARCO — Ela disse que ou eu volto a namorar com
ela ou ela conta pra todo mundo que eu...

BRUNINHO — Ela conta pra todo mundo o quê?

MARCO NÃO RESPONDE.

BRUNINHO — Fala Marco! Que segredo é esse que só a
Gabi sabe?

MARCO — Eu não vou conseguir dizer, moleque.

BRUNINHO — Mas porquê?

MARCO — É uma parada que pode mudar quem eu sou.

BRUNINHO — Mudar quem você é?

MARCO — É. Quer dizer, não. Quer dizer, sei lá.

BRUNINHO — Marco, tá difícil de entender, viu
parceiro?

MARCO — É que não vai mudar só quem eu sou. Vai
mudar como as pessoas me vêem, entendeu?
Vai mudar a minha vida.

BRUNINHO — Deixa eu reformular: Ta impossível de te
entender.

MARCO — (PARA SI) Eu disse que eu não sou muito
bom com palavra.

BRUNINHO — Disse? Disse pra quem.

MARCO — Pra Diana, hoje mais cedo.

BRUNINHO — Diana?

MARCO — É aquela lourinha que/

BRUNINHO — A lourinha? Tu encontrou com a lourinha?

MARCO — Encontrei. Quer dizer esbarrei.

BRUNINHO — Pô, tinha marcado com ela na praia, mas
ela me deu mó bolo.

MARCO — Você marcou com ela na praia?

BRUNINHO — Então, é isso. Tu catou antes de mim.

MARCO — Não, Bruninho, eu não quero nada com ela
não.

BRUNINHO — Não, tranquilão, tranquilão. Caminho
livre. Pra te dizer a verdade ela nem faz
muito o meu tipo. Mas que me deu mole
deu...

CENA 2. SALA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 16 DO CAPÍTULO 6. BETA COM O TEXTO NA
MÃO, DIANA DISTANTE.

BETA — Alô. Diana. Tá com essa cara por quê? Não
vai me dizer que você trombou hoje na rua
com um profundo conhecedor de Shakespeare
que recita versos de Romeu e Julieta em
vez de pedir desculpas.

DIANA — (DISFARÇA) Claro que não, Roberta. De
onde você tirou um negócio desses?

BETA — Ah, é só mais uma dessas coisas absurdas
que eu vivo falando.

DIANA — (RI) O mais engraçado é que você
reconhece que as coisas que você fala são
absurdas.

BETA — São mesmo, fazer o quê?

DIANA — Bom, vamo voltar a ensaiar?

BETA — Você só pode tar brincando, né?

DIANA — Por quê?

CENA 3. QUARTO DE MARCO. INT. DIA
MARCO E BRUNINHO.

BRUNINHO — Bom, agora que a gente já falou da
lourinha, vamo falar da lourinha.

MARCO — Quê?

BRUNINHO — Da outra lourinha. A Gabi.

MARCO — Ah, tá.

BRUNINHO — Qual é essa parada que ela tá ameaçando
falar?

MARCO — Como eu te disse Bruninho é uma parada
difícil de dizer.

BRUNINHO — Marco não volta com a frescura.

MARCO — Não é frescura.

BRUNINHO — Vai mudar a tua vida, tem que ser segredo
e você não consegue dizer. (P) Já sei!!!

MARCO — (ASSUSTADO) O quê?

BRUNINHO — A Gabi tá grávida!

CENA 4. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. DIA
DIANA E BETA FAZENDO UMA AÇÃO COISA GENIAL.

BETA — Agora você fala: “vamo ensaiar?”

DIANA — Qual o problema?

BETA — É o que eu to tentando fazer há mais de
uma hora. Mas você vive interrompendo pra
falar do Marco.

DIANA — Beta, não começa você.

BETA — Meu amor, por mim já terminou. Porque,
diferente da sua mãe, eu sei que você tá
louca de tesão no garoto mas não vai dar
o braço a torcer nem que eu vire a Demi
Lovato e cante “Here we go again” inteira
na sua sua frente. Então, pra quê perder
tempo falando desse assunto.

DIANA — Ai Beta!

BETA — Como eu disse, por mim já terminou. Agora
vamo ensaiar o raio da cena porque amanhã
o dia vai ser tenso.

DIANA — Tenso?

BETA — Você não se tocou? O resultado do teste
de Boladão sai amanhã!

DIANA — Caramba eu tinha esquecido!

BETA — Mas eu não, gata. Tá anotadinho na minha
agenda. To louca pra minha melhor amiga
virar estrela e me levar de graça pra
tudo quanto é show do Jonas Brothers.

DIANA — Be/

BETA — (CORTA) Vamos ensaiar?

CENA 5. QUARTO DE MARCO. INT. DIA
MARCO BOLADÃO DIANTE DE BRUNINHO

BRUNINHO — A Gabi tá ou não tá grávida? Eu acertei
ou não acertei?

MARCO — (DÚBIO) Acertou, Bruninho.

BRUNINHO — Caraca, sabia!(P) Ué. Mas peraí. Como é
que ela tá grávida se ela é virgem

ELE OLHA PRA MARCO E MARCO FICA MUDO.

BRUNINHO — Já sei. Ela não é mais virgem! Aaaaaah
moleque. Sabia que el comedor não ia
perdoar.

MARCO — Não, Bruninho, que isso!? Eu não/

BRUNINHO — (CORTA) Já entendi tudo. Foi numa
brincadeirinha, né, safadão?

MARCO — Brincadeirinha?

BRUNINHO — É. Essas coisas que a gente faz com as
meninas que elas acham que não vai
engravidar mas que, se não toma cuidado,
engravida.

MARCO — É...

BRUNINHO — Caraca, Marco. Que barra. Então que dizer
que a Gabi tá grávida de tu por causa de
uma brincadeirinha? Agora eu entendo
porque é que foi tão difícil pra você
falar isso tudo pra mim.

MARCO — Entende né?

FECHA EM MARCO, SOFRENDO.
PASSAGEM DE TEMPO. IMAGENS DO RIO AO AMANHECER.

CENA 6. ESCOLA DE TEATRO. INT. DIA
ALUNOS CHEGANDO PARA A AULA. MELCHIOR CONVERSANDO COM UM
GRUPO. DIANA O OBSERVA. BETA SE APROXIMA.

BETA — E aí? Vai contar pra bicha que conheceu o
irmão dele.

DIANA — Beta!

BETA — Desculpa... Irmão dela.

DIANA — Você quer para de chamar o Melchior de
bicha. Ele te adora!

BETA — E eu também adoro ele, mas isso não faz
dele menos bicha.

DIANA — Quando é que você vai entender que o
Melchior não é gay?

MELCHIOR SE APROXIMA.

MELCHIOR — E aí, meninas? Vocês viram que o Robert
Pattinson vai lançar filme novo?

SE VIRA PARA DIANA, BETA COMEÇA A FAZER TREJEITOS DE BICHA
POR TRÁS DE MELCHIOR.

MELCHIOR — Diana, eu sei que você é super cinéfila.
Eu também a-do-ro Glauber, sem falar no
Truffaut, no Godard e toda essa turminha
da nouvele vague. Mas eu confesso que eu
não resisto a uma pipoca.

BETA TOMA UM SUSTO.

BETA — Não resiste ao quê, meu filho?

MELCHIOR — Pipoca! Filme comercial.

BETA — Ah, pipoca. Achei que você tivesse falado
outra coisa.

MELCHIOR — Não entendi.

BETA — Não era pra entender. Bom, eu vou
entrando. Até lá, Melchi! Amuá, amuá!

BETA SAI.

MELCHIOR — Quê que deu nela gente?

DIANA — Deixa a Beta pra lá. Melchior, eu tenho
uma novidade pra te contar.

CENA 7. PRAIA. EXT. DIA
MARCO VOLTANDO DA ÁGUA. GASTÃO ALI ESPERANDO.

MARCO — E aí, mestre?

GASTÃO — Eu é que te pergunto, e aí?

MARCO — Tá difícil, né?

GASTÃO — Difícil é filho de mãe solteira se chamar
júnior. Tá é impossível. Tu tá mandando
muito mal.

MARCO — É, eu sei.

GASTÃO — O campeonato é daqui a pouco tempo, cara.
Se tu continuar surfando assim, bau bau.

MARCO — Eu vou melhorar. É que eu to com muita
coisa na cabeça, mas eu vou melhorar.

CENA 8. ESCOLA DE TEATRO. INT. DIA
MELCHIOR E DIANA SEGUEM CONVERSANDO

DIANA — Eu conheci o seu irmão.

MELCHIOR — O Belchior?

DIANA — Eu fiz um teste pra Boladão.

MELCHIOR — Eu sei!

DIANA — Sabe?

MELCHIOR — Eu te indiquei pra Marta.

DIANA — Vocês são amigos?

MELCHIOR — Pode-se dizer que sim. Parece que o
resultado sai hoje, né?

DIANA — Como é que você sabe?

MELCHIOR — A Marta comentou comigo hoje de manhã.

DIANA — De manhã? Vocês tipo, dormiram juntos?

MELCHIOR — Não sei. Mas o que é que você achou do
meu irmão?

DIANA — Bicicleta e Melancia, né Melchior?.

MELCHIOR — Oi?

DIANA — Bicicleta e Melancia. Um não tem nada a
ver com o outro.

MELCHIOR — É né? Mas ele é boa gente. É que esse
povo de televisão é tudo meio assim,
sabe?

DIANA — Eu percebi.

MELCHIOR — Mas desencana quanto ao teste. Já dizia a
mestra Xuxa: o que tiver que ser será.

DIANA — (WTF) É, né?

MELCHIOR — Relaxa.

SE ATRAPALHA FAZENDO ALGUMA COISA.

DIANA — To super relaxada.

MELCHIOR — E se depender das minhas boas energias
você já passou!

CORTA DIRETO PARA:

CENA 10. ESTÚDIO DE TV. INT. DIA
MARTA E BELCHIOR DIANTE DE UM MONITOR

BELCHIOR — Se depender da minha praga essa diaba
morre!

MARTA — Belchior a Junia Carlo tem dezesseis
anos.

BELCHIOR — Mas é péssima. Péssimo nome e péssima
atriz. E ator ruim não merece viver.

MARTA — Diretor burro então nem se fala...

BELCHIOR — Atuar é a profissão mais idiota do mundo.
É só ler, decorar e falar. Não tem que
ficar fazendo gesto e buscando entonação.

MARTA — Ah, claro, não tem.

BELCHIOR — Só atrapalha.

MARTA — Será que dá pra você parar com esse
ataque de bicha e voltar ao trabalho.

BELCHIOR — Bicha? Tá me confundindo com o meu irmão?

MARTA — De bicha aquele lá não tem nada, meu
amigo.

BELCHIOR — Quê?

MARTA — Deixa pra lá: as atrizes!

BELCHIOR — Já disse. Não preciso ver mais nenhuma.
Essas três são muito boas.

MARTA — Júlia Bernat, Lua Blanco e a Diana
Fortes.

BELCHIOR — É. Agora só preciso decidir qual.

MARTA — E os rapazes?

BELCHIOR — Aí, tá mais complicado...

CENA 11. PRAIA. EXT. DIA
MARCO E GASTÃO.

GASTÃO — Complicadíssimo, brother. Se você não
resolver esse teu problema tu vai ficar
de fora do Super Surfe.

MARCO — Eu vou resolver, cara. Eu vou resolver.

GASTÃO — Vai sim. E a ajuda tá chegando.

MARCO — Hein?

NISSO SE APROXIMA VIRGÍNIA. UMA GOSTOSA.

GASTÃO — Isso aí é mais atirada que pau no gato.

MARCO — Gastão, você me arranjou uma mulher. Eu
já te disse que eu não preciso de/

GASTÃO — Grande Virgínia.

VIRGÍNIA — Oi Gastão.

GASTÃO — Esse aqui é o Marco que eu queria te
apresentar.

VIRGÍNIA — Legal... O Gastão falou que você surfa.

MARCO — Surfo.

VIRGÍNIA — Legal. (P) E tem uma parada de televisão
aí...

MARCO — Foi só um teste.

VIRGÍNIA — Legal.

GASTÃO — Bom, eu vou deixar vocês dois sozinhos.
Vocês têm muito o que conversar.

GASTÃO SAI. FICA UM CERTO SILÊNCIO ENTRE VIRGÍNIA E MARCO.

VIRGÍNIA — Pô, tu tem mó cara de que gosta de praia.

MARCO — É... Eu surfo né?

VIRGÍNIA — Então tu gosta de praia?

MARCO — Gosto.

VIRGÍNIA — Eu também!

OS DOIS FALAM JUNTOS.

VIRGÍNIA — Legal!

MARCO — Legal!

VIRGÍNIA RI.

MARCO — É... Muito legal.

FECHA EM MARCO CONSTRANGIDO.

CENA 12. SHOPPING. INTERIOR. DIA
BRUNINHO ANDANDO NO SHOPPING VÊ UMA MULHER GATA PASSANDO.

BRUNINHO — Aê! Quer me pegar pra criar?

MULHER PASSA IRRITADA.

BRUNINHO — Eu sou pequenininho. Dou trabalho não,
hehehe.

QUANDO ELE SE VIRA DÁ DE CARA COM GABI E TOMA UM MEGA
SUSTO.

GABI — Oi!

BRUNINHO — Caraca, garota. Tu é muito sinistra...

GABI — Por quê?

BRUNINHO — Nada não... E aí, como é que você tá?

GABI — Eu to bem!

BRUNINHO — Pô... O Marco me contou.

GABI — Contou? O que é que o Marco te contou?

CENA 13. ESCOLA DE TEATRO. INT. DIA
MELCHIOR COM OS ALUNOS EM TÉRMINO DE AULA.

MELCHIOR — Inspira. (P) Expira.

MARCA BETA E DIANA INSPIRANDO E EXPIRANDO LADO A LADO.

MELCHIOR — Agora pela última vez inspira e leva tudo
pro peito, como se fosse uma laminha toda
apertadinha...

CORTA PARA BETA QUE FAZ UMA CARA PRA DIANA.

BETA — Laminha apertadinha???

DIANA — Beta!

CORTA PARA MELCHIOR.

MELCHIOR — E expira soltando tudo e jogando pro
mundo como se fosse... purpurina roxa.

BETA SOLTA UMA RISADA E DIANA DÁ UM TAPA NELA.

MELCHIOR — É isso aí, pessoal. Linda aula. Parabéns.

E BATE PALMAS PARA TODOS.

MELCHIOR — Ah, gente. Hoje não vai rolar de entrar
no chat do face. Tem um especial da
Mariah que eu não perco por nada!

BETA — Tem aluna que é cega...

BETA SAI. MELCHIOR SE APROXIMA DE DIANA.

MELCHIOR — E Diana, boa sorte com o Boladão.

DIANA — Obrigada, professor.

MELCHIOR — Tomara que você passe. Eu vou adorar te
ver todo dia dentro da minha casa.

E SAI. DIANA FICA ALI MEIO SEM ENTENDER.

CENA 14. SHOPPING. INT. DIA
GABI PASSADA DIANTE DE BRUNINHO.

GABI — O Marco disse que eu to grávida?

BRUNINHO — Ih, foi mal, não era pra explanar.

GABI — Eu não to acreditando nisso.

BRUNINHO — Calma, Gabi. Eu juro que eu não conto pra
ninguém.

GABI — Ah, mas ele vai se ver comigo.

BRUNINHO — Eu sou mó discreto, tu sabe né?

GABI — Eu não vou deixar isso barato mesmo!

BRUNINHO — Relaxa, gata. Soy yo..

GABI — O quê?

BRUNINHO — El Bruniiito.

BRUNINHO FALA FECHANDO OS OLHOS E GABI SAI VOADA. QUANDO
ELE ABRE GABI NÃO ESTÁ MAIS LÁ.

BRUNINHO — Gabi! Gabi! (PARA SI) Caraca, a mulé
aparece e desaparece. Mó doideira, aê.

CENA 15. CASA DE DIANA. SALA DE DIANA. INT DIA
DIANA E BETA ENTRANDO NA SALA. FERNANDO SENTADO À MESA E
LÚCIA LEVANDO UMA TRAVESSA.

DIANA — Chegamos!

BETA — Todo mundo decente?

DIANA — Beta!

FERNANDO — Que tipo de pergunta é essa, Beta?

BETA — Do tipo que se faz ao entrar no
apartamento do casal que adora furunfar
no meio do dia.

LÚCIA — Roberta!

FERNANDO — Ela é das minhas!

BETA — Sou mesmo, adoro furunfar.

FERNANDO — Eu tava querendo dizer que você é bem
direta.

LÚCIA — Bom, direta ou indireta, vocês chegaram
bem na hora. A comida acabou de sair.

DIANA — Eba!

FERNANDO — Como é que foi o teatro hoje?

DIANA — Foi legal.

BETA — Fala do teste!

DIANA — Beta.

LÚCIA — O resultado? Saiu o resultado?

DIANA — Não.

FERNANDO — E quando é que sai?

DIANA VAI FALAR E BETA INTERROMPE.

BETA — Hoje! A qualquer momento.

CENA 16. QUARTO DE MARCO. INT. DIA
MARCO AO TELEFONE.

MARCO — To mãezinha, tá tudo bem. E quando é que
vocês vêm? Caraca, mãe só? Não, tá. Tá
tudo certo sim, você sabe que eu me dou
super bem com a vovó. Pô, é que é
diferente, né? Eu sei, eu sei que é uma
escolha minha. Mas é que eu sinto tanta
falta de você e do papai. (PARA SI/SE
EMOCIONA) E às vezes nem o choro da
conta. (P) Não foi nada não mãe.

GABI ENTRA NO QUARTO.

GABI — Marco Monte Aquino, desliga essa porcaria
agora senão eu não respondo por mim.

MARCO — Mãe, eu tenho que desligar, a Gabi chegou
aqui. Tá, mando sim. Beijo.

MARCO DESLIGA E FICA SEM JEITO.

MARCO — Minha mãe te mandou um beijo.

GABI — Que ótimo. E você também já contou pra
ela que ela vai ser vovó???

FECHA EM MARCO ACUADO.

CENA 17. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA
LÚCIA, FERNANDO, BETA E DIANA SEGUEM ALMOÇANDO.

BETA — Purê de inhame tá show, Lúcia.

LÚCIA — Quer mais?

BETA — Sempre.

FERNANDO — Então quer dizer que o resultado sai
hoje?

DIANA — Pois é.

FERNANDO — Tá nervosa?

DIANA — Nem um pouco.

BETA — Comeu três pacotes de biscoito de
chocolate só no intervalo da aula.

DIANA — Isso não é verdade, Roberta.

BETA — Não é mesmo. Um era de morango.

LÚCIA E FERNANDO RIEM.

DIANA — Engraçadinha.

TOCA O TELEFONE DE DIANA. Atenção Sonoplastia: TOQUE DE
TELEFONE. TODOS TOMAM UM SUSTO. CONGELAM. O TELEFONE SEGUE
TOCANDO.

LÚCIA — Você não vai atender, filha?

BETA OLHA O CELULAR E FICA MEGA NERVOSA.

BETA — Número restrito. Ah, meu pai, é da TV! É
da TV, gente, é da TV!

FERNANDO — A gente entendeu que é da TV.

DIANA — Shhhhhhh! Alô?(P) Oi Marta.

BETA — (FALA BAIXO) É a produtora

DIANA — Shhhhhhh!(P) Ah, saiu? Sei. Sei. Tá. Não
tudo bem. Tá. Tá bom.

DIANA DESLIGA E OLHA PRA ELES MEIO ZERADA.

LÚCIA — E aí, minha filha?

DIANA EM SILÊNCIO.

BETA — Desembucha Diana. Você vai ou na vai ser
a nova protagonsita de Boladão?

FECHA EM DIANA COM CARA ZERADA.
FIM

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 6

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO SEIS

CENA 1. CALÇADÃO. EXT. DIA
REPETIÇÃO DA DIVISÃO DE TELA DO CAPÍTULO UM. VEMOS DE UM
LADO, DIANA CAMINHANDO SOZINHA DA ESQUERDA PARA A DIREITA.
DO OUTRO, MARCO (DA DIREITA PARA A ESQUERDA) CAMINHA. “USE
SOMEBODY” AO FUNDO. ELES CAMINHAM OLHANDO MEIO QUE PARA O
CHÃO E PARA O LONGE. E SE TROMBAM NOVAMENTE. SÓ QUE DESSA
VEZ, MARCO ESTÁ SEM A PRANCHA. NA TROMBADA DIANA MEIO QUE
VAI CAIR E MARCO A SEGURA EM SEUS BRAÇOS (OH, QUE LINDO).
DIANA — (COMPLETAMENTE BOBA) Você? De novo?
OS DOIS MUITO PRÓXIMOS UM DO OUTRO.

MARCO — Desculpa.

DIANA — Desculpa por quê?

MARCO — Pela trombada.

DIANA — Não, tudo bem. Eu também não tava olhando
direito.

MARCO — Parece que o destino fica conspirando pra
gente se encontrar o tempo todo, né?

DIANA — Ou é isso ou a gente tá num seriado de
televisão e não tá sabendo.

MARCO — Tipo Show de Truman?

DIANA — Você conhece Show de Truman?

MARCO — Me amarro nesse filme.

DIANA — Eu também.

MARCO — Por falar em seriado de televisão, eu
queria muito te pedir desculpas por
aquele dia lá no teste.

DIANA — Tranqüilo, já passou. E eu às vezes sou
mais esquentada que sol de meio-dia.

MARCO — (DEIXA ESCAPAR) Surge, formoso sol, e
mata a lua cheia de inveja por ter visto
que, como serva, és mais formosa que ela.

(HAHAHAHHA. DEIXA ESCAPAR ESSA, DANIEL.)

DIANA — Hein?

MARCO SEM SABER O QUE FAZER COMPLETAMENTE SEM JEITO.

MARCO — É... É... Prrrrrrrr.

DIANA — Marco, diz que você não fez isso.

MARCO — Eu não fiz isso.

FECHA NA IRRITAÇÃO DE DIANA.

CENA 2. LOCAÇÃO. QUARTO DE BRUNINHO. INT. DIA
BRUNINHO FINALMENTE TERMINA DE SE ARRUMAR. ELE ESTÁ DE
BERMUDA COM MEIAS PRETAS ATÉ O JOELHO E UMA CAMISA MUITO
SEM NOÇÃO COMO AQUELAS ESCRITAS: “INSTRUTOR SEXUAL,
PRIMEIRA AULA GRÁTIS” OU ALGO DO TIPO.

BRUNINHO — Agora sim. La chiquita va a se quedar
looooca. Lourinha. Aqui vou eu!

CENA 3. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA
LÚCIA LAVANDO LOUÇA FAZENDO ALGUMA AÇÃO NA CASA ENQUANTO
TOCA A CAMPAINHA. Atenção Sonoplastia: TOQUE DE CAMPAINHA.

LÚCIA — Já vai.

ELA VAI ATENDER. QUANDO ABRE A PORTA, VEMOS FERNANDO COM UM
MACACÃO E SERROTE.

FERNANDO — Foi daqui que chamaram o faz-tudo?

LÚCIA — Fernando!

CENA 4. CALÇADÃO. EXT. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA 1. DIANA FURIOSA DIANTE DE
MARCO.

DIANA — Eu não to acreditando!

MARCO — Eu já falei! Eu não fiz isso. Eu não fiz
prrrrrrr. (PAUSA/PERCEBE)) Ai, desculpa,
cuspi na tua cara?

DIANA — Quando eu acho que pode ter alguma coisa
por trás desse ogro que você é...

MARCO — Mas tem. Eu não sou ogro,

DIANA — Você zomba de mim com uma brincadeira
idiota até pra quem tem oito anos, cospe
na minha cara e depois diz que não é
ogro?

MARCO — É que eu não sei. Eu não consigo. Eu não
sei.

DIANA — Não saber é definitivamente um termo que
define a sua falta de noção.

MARCO — Eu fico meio esquisito do teu lado.

DIANA — Que bom que você percebeu. E pra evitar
futuros conflitos é bom a gente manter
distância.

DIANA COMEÇA A SAIR. MARCO A SEGUE.

MARCO — Você não tá entendendo.

DIANA — Eu não to entendendo?

MARCO — Ou eu não to sabendo explicar.

DIANA — Inteligência realmente não parece ser o
seu forte.

MARCO — Caraca, até você?

DIANA — Até eu o quê?

CENA 5. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA
LÚCIA DIANTE DE FERNANDO DE ENCANADOR.

LÚCIA — Fernando, você pirou?

FERNANDO — Faz parte do pedido de desculpas pela
nossa briga.

LÚCIA — Mas as flores que você me deu hoje de
manhã já foram o suficiente.

VAI AGARRANDO LÚCIA.

FERNANDO — Flor é bonito, mas o máximo de ação que
uma rosa vai te conseguir é um espirro.

LÚCIA — E essa roupa de faz-tudo?

FERNANDO — Eu to esperando conseguir um outro tipo
de ação com ela.

LÚCIA — Ah é?

FERNANDO — E fazer tudo.

LÚCIA — Nossa.

FERNANDO — Mas se você não gostou, eu posso tirar.

LÚCIA — Não. Eu tenho uma idéia melhor.

FECHA EM LÚCIA SACANA.

CENA 6. CALÇADÃO. EXT. DIA
DIANA SEGUE QUERENDO IR EMBORA E MARCO TENTANDO IMPEDIR OU
CAMINHANDO AO SEU LADO.

MARCO — Você nem me conhece direito pra falar que
“inteligência não é o meu forte”.

DIANA — Vamos combinar que você não tem lá muita
destreza pra usar o dom da fala.

MARCO — É porque eu tenho dificuldade de
expressar o que eu to sentindo falando.

DIANA — Pena que a humanidade ainda não
desenvolveu o dom da telepatia.

MARCO — Eu quero te explicar porque que eu fiz
essa brincadeira de novo.

DIANA — Sou toda ouvidos.

MARCO — Eu falei uma parada daí fiquei meio
bolado e fiz esse parada pra disfarçar
esse bolado, sacou?

DIANA — Não. Melhor tentar a telepatia.

MARCO — Eu só to querendo te dizer que eu...

DIANA — Olha, vamos fazer uma coisa? A gente não
precisa nunca mais se ver a não ser que
os dois passem praquele maldito teste.
Como essa é uma chance muito remota,
vamos torcer pra que ela não aconteça e
cada um segue o seu caminho, combinado?

MARCO — Caraca, menina. Eu não te entendo, sabia?
Às vezes eu acho que... Deixa pra lá.
Você tem razão. Melhor mesmo desistir.

MARCO SAI. DIANA FICA ALI PARADA BALANÇADA. ELA ABRE A
BOLSA RAPIDAMENTE E FALA ALTO.

DIANA — Peraí, eu não te devolvi a sua... (BAIXO)
quilha.

MARCO NÃO OUVE. SEGUE ANDANDO. DIANA FICA ALI PARADA
OLHANDO PRA QUILHA PENSATIVA NUM MISTO DE DOR, DESEJO,
PAIXÃO, DIFICULDADE DE EXPRESSAR OS SENTIMENTOS E FOME.

CENA 7. CASA DE DIANA. ENTRADA. INT DIA
DIANA CHEGA EM CASA E OUVE OS PAIS DENTRO DA CASA. ELA FICA
PARADA NA PORTA MEIO SEM ENTENDER.
(OBS: PODEMOS FAZER A CENA DE DENTRO DA SALA COM UM PLANO
PARADO NA PORTA SEM REVELAR O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA SALA
E DE REPENTE A PORTA SE ABRE E É DIANA).

LÚCIA — (OFF) Vai rápido, Fernando. A Diana vai
chegar.

FERNANDO — (OFF/OFEGANTE) Peraí, meu amor, eu também
não sou máquina, né?

LÚCIA — (OFF) Vaim tá quase lá, tá quase lá.

FERNANDO — (OFF) Me ajuda então pra acelerar o
processo.

LÚCIA — (OFF) Vai pra direita.

FERNANDO — (OFF) Aaaaaaaaai, tá difícil.

LÚCIA — (OFF) Não para, não para que tá ótimo.

FERNANDO — (OFF) To indo.

LÚCIA — (OFF) Isso, só mais um pouquinho, vai,
vai, vai!

DIANA ABRE A PORTA E ENTRA.

CENA 8. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA
CONTINUAÇAO IMEDIATA DA CENA 7. DIANA ENTRA NA SALA. VEMOS
FERNANDO DE MACACÃO CARREGANDO UM GIGANTESCO QUADRO E
LÚCIA, TOTALMENTE VESTIDA, EM PÉ ATRÁS DELE GUIANDO-O. ELE
OFEGANTE POR CAUSA DO PESO DO QUADRO, FINALMENTE CONSEGUE
PENDURÁ-LO.

LÚCIA — Filha, chegou bem na hora!

FERNANDO — Mais um pouquinho o papai morria.

DIANA — Que é que vocês tavam fazendo?

LÚCIA — Seu pai tá me ajudando a pendurar esse
quadro.

FERNANDO — Ah, eu que tava te ajudando.

DIANA — E pra quê essa roupa?

LÚCIA — (SEM GRAÇA) Como pra quê? Pra não sujar a
roupa dele, ué. Mas e aí? Você gostou?

DIANA — É seu?

LÚCIA — É, eu voltei a pintar.

FERNANDO — Só falta aproveitar o embalo da filha e
voltar a atuar, agora.

LÚCIA — Para, Fernando. Pintar já tá de bom
tamanho.

DIANA — O quadro é lindo, mãe. Como é que é o
nome dele?

LÚCIA — Diana.

DIANA — É pra mim?

LÚCIA FAZ QUE SIM.

LÚCIA — Eu fiquei tão orgulhosa com sua decisão
de fazer o teste pra Boladão. Tão feliz
que eu resolvi colocar na tela.

DIANA — É lindo. Eu não tenho nem palavra pra
dizer o que eu to sentindo olhando esse
quadro.

FERNANDO — Nossa, Diana. Perdeu o dom da fala?

DIANA — Não é que a fala muitas vezes... (PARA/
SE LEMBRA DE MARCO) não dá conta.

LÚCIA — Mas um abraço dá.

LÚCIA E DIANA SE ABRAÇAM.

FERNANDO — Também quero!

FERNANDO SE JUNTA A ELAS.

LÚCIA — Mas e aí, filha? Como é que foi lá na
praia?

DIANA — Na praia?

LÚCIA — É. Você não ia encontrar com o tal de
Bruninho pra entregar sei lá o quê?

CORTA DIRETO PARA:

CENA 9. CALÇADÃO. EXT. DIA
BRUNINHO PARADO COM UM IMENSO BUQUÊ DE FLORES, TODO
ARRUMADO ESPERANDO DIANA.

BRUNINHO — Ué... Cadê a lourinha?

CENA 10. PRAIA. EXT. DIA
MARCO SURFANDO. CLIPE JOVEM E RÁPIDO DE MARCO MANDANDO
MUITO BEM NO SURFE. ELE SAI DA ÁGUA E VAI ATÉ GASTÃO QUE
ESTÁ POR ALI.

GASTÃO — Achei que tu não tava com cabeça pra
surfar hoje.

MARCO — É não tava. Mas aí eu fui andar no
calçadão aconteceu uma parada. Só a água
pra curar.

GASTÃO — Aposto que tem mulé na parada.

MARCO — Acertou em cheio.

GASTÃO — O que é que tá rolando? Conta aqui pro
tio Gastão.

CENA 11. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA
DIANA E LÚCIA LANCHANDO NA SALA.

LÚCIA — Me explica direito, filha. Conta aqui
pra sua mãe.

DIANA — Não tá acontecendo nada. Só que eu to
morrendo de medo de passar nesse teste e
ter que fazer par romântico com o
surfistinha.

LÚCIA — Diana, você já parou pra pensar o que é
que te dá tanta raiva com esse garoto?

DIANA — Não. Eu não perco tempo com bobagens.

LÚCIA — Você é tão madura pra algumas coisas, mas
pra outras...

DIANA — Ih, mãe vai ficar me passando sermão
agora?

LÚCIA — Não é isso, meu amor. Eu to tentando te
ajudar.

DIANA — Ajudar?

LÚCIA — Você é fera Glauber Rocha, ouve
Rachmaninov, e lê James Joyce. Mas pra
alguns aspectos você ainda é uma menina.
E é normal.

DIANA — Ah é?

LÚCIA — Muito. E eu to tentando fazer você
enxergar.

DIANA — Enxergar o quê?

CENA 12. PRAIA. EXT. DIA
GASTÃO DIANTE DE MARCO.

GASTÃO — Que tu tá a fim dessa carne nova.

MARCO — A Diana? Não, eu só não sei direito agir
perto dela.

GASTÃO — Tu sabe como é o nome disso: tesão
entubado.

MARCO — Que isso, Gastão?

GASTÃO — Tá no osso porque a Gabi é virgem e ficou
maluquinho com a atriz do teste.

MARCO — Não tem nada a ver...

GASTÃO — Já falei que se tu quiser tenho os meus
filminhos. Vi um ontem que tu vai adorar:
“Metrix”.

CENA 13. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA
DIANA E LÚCIA SEGUEM CONVERSANDO.

DIANA — Eu não to entendendo o que você quer que
eu enxergue.

FERNANDO VEM DE DENTRO COM UMA SACOLA E JÁ COM ROUPA DE
TRABALHO (TERNO E GRAVATA)

FERNANDO — Bom, gente, eu vou voltar pro trabalho.

LÚCIA — Peraí, o que é que você tá levando na
sacola?

FERNANDO — O macacão. Vou devolver.

LÚCIA — (LASCIVA) Não devolve não. Tem mais uns
quadros pra pendurar...

FERNANDO — Tá certo. A gente se vê de noite.

FERNANDO SAI.

DIANA — Dá pra você me dizer o que é que você
quer que eu enxergue?

CENA 14. PRAIA. EXT. DIA
MARCO E GASTÃO.

MARCO — Bom, mestre. Eu vou puxar.

GASTÃO — Vai pela sombra. E pensa no que eu te
falei.

MARCO — Não, eu to legal dos filmes.

GASTÃO — Não é dos filmes. É da atriz.

MARCO — O que é que tem?

GASTÃO — Investe nessa tal de Diana. Tu dá uns
cato nela pra desafogar a pressão e
mantém a Gabizinha dentro do coração.
Caraca, to poeta hoje.

MARCO — É...

GASTÃO — Ouve o que eu to falando, rapá. Namorada
virgem é raridade hoje em dia.

MARCO — Tá beleza. Te mais.

MARCO SAI.

CENA 15. CASA DE DIANA. SALA. INT. DIA
DIANA DIANTE DA MÃE.

LÚCIA — Você tá apaixonada por esse Marco, pronto
falei.

DIANA — O quê?

LÚCIA — Minha filha, tá escrito na tua testa.

DIANA — Bicicleta e Melancia mãe.

LÚCIA — Como assim?

DIANA — A gente é muito diferente.

LÚCIA — Tem certeza.

DIANA — Ele me irrita.

LÚCIA — Quer indício maior de paixão?

DIANA — Se você quer saber eu até achei que
tivesse alguma coisa por trás dele que
escondesse um cara mais sensível.

LÚCIA — Mas...

DIANA — Mas eu vi que eu tava errada!

LÚCIA — Segue a sua intuição.

DIANA — A minha intuição diz que eu tava errada.

LÚCIA — Diana, para um pouco e se escuta. Você
não é dona da verdade.

DIANA — E você não me entende o tanto quanto você
acha!

DIANA SAI IRRITADA PRO QUARTO.

LÚCIA — (PARA SI) Aí é que você se engana, minha
filha. Aí é que você se engana.

PASSAGEM DE TEMPO. IMAGENS DO RIO DE JANEIRO AO ANOITECER

CENA 16. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. NOITE
DIANA E BETA PASSANDO TEXTO. BETA COM O TEXTO NA MÃO.

DIANA — Ai de mim. O que acontece? (QUEBRA). A
minha mãe só pode tar pirando.

BETA — Quer voltar pro texto Diana?

DIANA — Ai de mim. O que acontece? Dizer que eu
to apaixonada pelo surfistinha?

BETA — Se você não focar no ensaio amanhã você
vai tar mais canastra que Lindsay Lohan.

DIANA — Ai de mim. O que acontece? Será realmente
que eu to ficando louca.

BETA — Louca vou ficar eu se você não terminar a
droga da fala!

DIANA — Ai de mim. O que acontece? Por que me
olhas dessa maneira.

BETA — (LENDO NO TEXTO) Porque é assim que um
olha quando olha para o sol. E tu és o
sol. Surge, formoso sol, e mata a lua
cheia de inveja por ter visto que, como
serva, és mais formosa que ela.

DIANA FICA PASSADA AO RECONHECER A FALA.

BETA — Diana, sua vez de dizer o texto.

DIANA — Quê que é isso que você falou agora?

BETA — A fala do Romeu. O que é que foi?
Aconteceu alguma coisa?

CORTA DIRETO PARA:

CENA 17. QUARTO DE MARCO. INT. DIA
MARCO E BRUNINHO CONVERSAM.

MARCO — Não aconteceu nada Bruninho.

BRUNINHO — Eu venho até aqui pra gente jogar FIFA
Soccer e você me diz que não tá com
cabeça?

MARCO — Eu to cansado, só isso.

BRUNINHO — Tem alguma coisa rolando aí.

MARCO — Tem. A tua chatice.

BRUNINHO — Você não me engana.

MARCO — E você não me dá paz.

BRUNINHO — Fala logo o que é que tá te deixando
bolado.

MARCO — Eu já disse: nada.

BRUNINHO — Eu te conheço Marco Monte Aquino.

CENA 18. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. DIA
DIANA E BETA.

BETA — Romeu Montecchio. Personagem da peça que
a gente tá estudando.

DIANA — Eu sei Beta.

BETA — Então por quê o espanto? Essa é uma fala
do Romeu.

DIANA — É que eu achei que eu tivesse ouvido essa
fala hoje mais cedo.

BETA — Você ensaiou com outra pessoa?

DIANA — Não.

BETA — Viu o filme com o Leo DiCaprio?

DIANA — Não.

BETA — Andou espionando as outras aulas do
Melchior.

DIANA — Claro que não.

BETA — Então acho difícil você ter ouvido. A não
ser que você tenha trombado na rua com um
profundo conhecedor de Shakespeare que
recita versos de Romeu e Julieta em vez
de pedir desculpas.

CENA 19. QUARTO DE MARCO. INT. DIA
BRUNINHO E MARCO.

MARCO — Desculpa, mas eu não to muito bem.

BRUNINHO — Tem a ver com a Gabi?

MARCO — Mais ou menos.

BRUNINHO — Ela tá metida com macumba, né?

MARCO — Hã?

BRUNINHO — É por isso que ela fica aparecendo do
nada. Morro de medo dessa mulé.

MARCO — Bruninho...

BRUNINHO — Conta pra mim, cara eu sou teu amigo.

MARCO — É que eu não me sinto à vontade.

BRUNINHO — Tu fez cocô na cama quando a gente tinha
oito anos de idade!

MARCO — E daí?

BRUNINHO — E daí que foi na minha cama. Tu tava
dormindo do meu lado lá em casa, lembra?
Mais intimidade do que isso só se/

MARCO — Tá bom Bruninho.

BRUNINHO — Você vai contar?

MARCO — Conto.

CENA 20. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. NOITE
DIANA PASSADA DIANTE DE BETA.

DIANA — Ele dizendo Shakespeare? Será?

BETA — Diana. Alôooooooo!

CENA 20. QUARTO DE MARCO. INT. NOITE

BRUNINHO — Então diz. O que é que tá pegando?

MARCO — A Gabi tá me chantageando.

BRUNINHO — Chantageando?

MARCO — Ela quer me obrigar a namorar com ela.

BRUNINHO — Hã?

MARCO — Ela disse que ou eu volto a namorar com
ela ou ela conta pra todo mundo que eu...

BRUNINHO — Ela conta pra todo mundo o quê?

MARCO NÃO RESPONDE.

BRUNINHO — Fala Marco! Que segredo é esse que tu tem
que só a Gabi sabe?

FECHA EM MARCO RETICENTE.
FIM