terça-feira, 28 de setembro de 2010

COMÉDIA RUSSA


Estréia dia 7 de outubro "Comédia Russa", novo espetáculo dos Fodidos Privilegiados, Thelmo está no elenco.


"Comédia Russa" é o novo espetáculo dos Fodidos Privilegiados que estréia em outubro no Teatro Nelson Rodrigues no Rio de Janeiro. O texto é de Pedro Brício e a direção de João Fonseca. No elenco estão Rodrigo Nogueira, Natália Lage, Thelmo Fernandes, Rose Abdallah, Roberto Lobo, Alex Pinheiro, Daniela Olivert, Cristina Mayrink, Filomena Mancuzo, Ricardo Souzedo e Marcos Correa.

A temporada será de 7 a 24 de outubro.

fonte: http://www.thelmofernandes.com.br/setup/198-comedia.html

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

PRA SEMPRE

Homem: Você não trem o que temer…

Mulher: Hein?

Homem: Você. Você não tem o que tremer.

Mulher: Eu não tenho que tremer?

Homem: Não foi isso que eu disse.

Mulher: Foi sim.

Homem: Foi?

Mulher: E no início ainda falou “trem.”

Homem: Falei?

Mulher: Falou. “Não trem o que temer.”

Homem: Não! Eu disse “não tem o que temer”.

Mulher: Não disse não.

Homem: É claro que eu disse.

Mulher: Nem da segunda vez.

Homem: Segunda vez?

Mulher: Quando eu perguntei “hein” você respondeu “não tem o que tremer”.

Homem: É a mesma coisa.

Mulher: Temer e tremer?

Homem: É. A mesma coisa.

Mulher: Desde quando?

Homem: Quem teme, treme.

Mulher: Mas nem todo mundo que treme teme. Tem gente que treme de frio.

Homem: E daí?

Mulher: Treme, mas não teme.

Homem: Eu não tô entendendo.

Mulher: VOCÊ, não está entendendo?

Homem: Qual o trema dessa conversa.

Mulher: Não tem.

Homem: Hein?

Mulher: Não tem trema. O trema foi abolido na reforma linguística..

Homem: Você não pronunciou o “u” de linguistica.

Mulher: Justamente. O trema foi abolido.

Homem: Mas não na pronúncia.

Mulher: Eu sou assim. Não gusto de fazer diferença entre linguagem escrita e falada.

Homem: Gusto?

Mulher: Tenho lido uns livros em espanhol.

Homem: Júliaaaaaaa!

Mulher: O quê????

(silêncio)

Homem: Eu só queria dizer que você não precisa se preocupar! Por que é que a gente sempre desvirtua assim as nossa conversas?

Mulher: Por que senão seria chato.

ELE ABRE UM SORRISO. OS DOIS SE OLHAM CÚMPLICES.

Mulher: Sobre o que é que eu não preciso me preocupar mesmo?

FIM

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Hoje

Menino: Mãe, eu quero biscoito de leite.

Mãe: Acabou o biscoito, meu filho.

Menino: Não dá pra comprar?

Mãe: Ponto na zona foi fraco ontem, meu filho.

Menino: Mas nem um trocadinho tem?

Mãe: Tive que voltar ajoelhada no ônibus pra pagar a passagem, se é que você me entende.

Menino: É o quê?

Mãe: Deixa pra lá.

Menino: Cadê o Totó?

Mãe: Cinomose.

Menino: E o papai?

Mãe: Cirrose.

Menino: Vamos brincar?

Mãe: Não consigo.

Menino: Por quê?

Mãe: Gonorréia.

Menino: Você tá de piriri, mamãe?

Mãe: Também.

Menino: Comida estragada de novo?

Mãe: Cacofagia com um cliente.

Menino: Quê?

Mãe: Comi merda de um filho da puta.

Menino: Posso brincar na rua então?

Mãe: Fechada.

Menino: Outro acidente?

Mãe: Tiroteio com a milícia.

Menino: Então o Beto ta no bangue-bangue?

Mãe: Não, meu filho.

Menino: Tá onde?

Mãe: Tá morto.

Menino: Morreu?

Mãe: No bangue-bangue hoje de manhã.

Menino: Mas ninguém me falou nada.

Mãe: Quiseram te poupar.

Menino: Poupar?

Mãe: Por causa da tua leucemia.

Menino: Minha o quê, mamãe?

Mãe: Gripe.

Menino: Cê tá desanimada, mamãe?

Mãe: Hepatite.

Menino: Quer ir pro quarto.

Mãe: Quero não.

Menino: Por quê?

Mãe: Lá tem sarna.

Menino: O que é que você quer fazer?

Mãe: Isso.

Menino: Isso o quê?

Mãe: Nada.

Menino: Tá bom. Então eu faço nada com você.

SILÊNCIO

Menino: Mamãe.

Mãe: O quê?

Menino: Eu te amo.

SILÊNCIO

Mãe: Eu também, meu filho. Eu também te amo.

ELA SE LEVANTA RAIVOSA

Menino: Desistiu de fazer nada, mamãe?

Mãe: Desisti.

Menino: Por quê?

Mãe: Me lembrei que eu tenho que fazer o imposto de renda. Hoje é o último dia pra entregar o imposto de renda. Imposto de renda acaba comigo. Que tragédia.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Normal

Mesa de bar. Uma pessoa sentada. De costas para a platéia. Outro aborda.

Homem: Oi. Dá licença. Você tem fogo? (pessoa faz que não) Não? E essa caixinha de fósforo ta fazendo o quê em cima da mesa? (pessoa sentada responde algo que não ouvimos) Ah (fala mais alguma coisa que não ouvimos) Jura? Com um cágado? Que interessante. Bom mas se essa caixinha não é sua então você provavelmente não fuma, acertei? Ah, que ótimo. Então esse é o lugar ideal pra eu me sentar e você a companhia perfeita pra mim. (se sentando e mudando de tom) Não. Desculpa. Eu não quis te passar uma cantada barata, imagina. È que ultimamente eu só tenho me sentado em lugares seguros. Lugares livres da fumaça. Você sabia que um fumante passivo tem a mesma chance de ter câncer de pulmão do que um fumante… ativo? Pois é. Eu percebi que eu estava morrendo aos poucos quando ficava perto dessa gente… Os fumantes. Cada inalada que eu dava na fumaça alheia era uma aumento significativo de chance de ter câncer de pulmão. Fora que é muito anti-higiênico… você respirar uma coisa que já esteve dentro da outra pessoa. Por que é isso que acontece, né? Você inala o resquício do vício da outra pessoa. Você respira o resquício do vício da outra pessoa. Você bota pra dentro do seu corpo o resquício do vício da outra pessoa. Agora pergunta prum fumante se ele aceitaria botar pra dentro o resquício do vício de alguém que bebe cerveja… Claro que não. Claro que não. Porquê? Porque é nojento. Ora, faça me o favor. Beber mijo não pode mas respirar fumaça usada é normal? (quebra) É por isso que eu estou mudando de amigos. Não dava pra continuar com os meus amigos. Todos eles fumam. Uma coisa impressionante. Vão comer num restaurante: fumam. Sentam numa mesa de bar: fumam. Saem do cinema: fumam. Gente! Será que o cigarro é um item tão essencial pra discutir Woody Allen, jogar conversa fora ou digerir um prato de carpaccio! Pra mim não. E quer saber? Eu to me sentindo ótimo. Eu ainda não achei novos amigos, mas só de me livrar dos fumantes já foi um passo e tanto. Eu não posso em sã consciência chamar de amigo quem me mata aos poucos com fumaça de cigarro. Graças a Deus, a minha vida está mudando. Graças a Deus! (Olha pra caixa de fósforo) Um cágado! Mas que curioso… (quebra) Aliás ontem eu decidi que vou mudar de namorada também. Vou mudar de namorada. Namorada. Vou mudar de namorada. E porque não? Foi enorme! Eu tive uma decepção enorme. Quando a gente ta apaixonado a gente fica cego pros defeitos da pessoa. Acaba aceitando umas coisas, umas atitudes que com o passar do tempo vão se repetindo e acabam minando um relacionamento. E ontem eu cheguei à conclusão de que eu já não to mais tão apaixonado assim a ponto de ignorar os defeitos da minha namorada. Ela tem uma fungada lateral. (tenta fazer). Não sei imitar. É uma coisa horrenda. Ela faz um troço com o nariz. Dá até medo. A qualquer momento. No meio de uma conversa, comendo, (falando baixo) até no sexo ela já fez. Lateral. Uma fungada lateral. Esquerda. A diaba só pelo lado esquerdo! Eu comecei perceber que não adianta tapar o sol com a peneira, sabe? Lado esquerdo… Não ia rolar. Eu não podia passar o resto da minha vida com uma pessoa que aquilo. Fora que ela tem as articulações da mão muito maleáveis. Parece de borracha. Tem umas posições que ela faz com mão que me incomodam muito. Encostar os dedos no punho. Sei lá. Também é meio nojento… (Solta uma risada meio solta) Cágado! A caixa de fósforo ta aí por causa… Uma coisa impressionante. Muita coincidência. Um cágado. (pessoa fala algo que não ouvimos) Oi? Terapeuta? Engraçado você perguntar isso porque eu também decidi que vou mudar de terapeuta. É. Ela não tava me ajudando em nada. Terapeuta. A minha terapeuta. Só tava me deixando pior! Primeiro que ela falava “que seje”! Que seje! Gente! Como é que eu posso falar da minha vida, dos meus problemas mais íntimos pra alguém que não sabe conjugar o verbo ser na terceira pessoa do subjuntivo. Não há a menor possibilidade. E ela também usa uma calça da Dimpus semi-baggy em pelo século XXI! Parece até piada. E se eu te falar da cor do esmalte dela então. Você vai cair pra trás. (A pessoa se levanta) Não espera aí… Você já ta indo embora? Fica mais tempo. Vamos conversar. É que como você não fuma eu pensei que você pudesse ser minha amiga. (T) Minha namorada? (T) Minha terapeuta? Volta! (Homem se senta confortável na cadeira olha pra caixa de fósforo e sorri). Um cágado!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A história de Romeu e Julieta

Personagens: Avó – mulher, 56 anos
Suzane v.H. – menina, 5 anos

Suzane V.: Como assim, vovó?

Avó: Você já me fez essa pergunta.

Suzane V.: O quê?

Avó: Outra pergunta.

Suzane V.: Hein?

Avó: Faz outra pergunta.

Suzane V.: Mas eu quero fazer essa.

Avó: Ta bem. Qual é a pergunta?

Suzane V.: Hoje entrou uma menina nova lá na escolinha. Daí, a tia Aldene falou que o nome dela é Julieta..

Avó: Cadê a pergunta? Até agora você só fez 2 afirmações.

Suzane V.: Como é que o nome dela pode ser Julieta?

Avó: Cadê meu rivotril?

Suzane V.: Como é que o nome dela é Julieta?

Avó: Isso é rivotril ou ruipinol?

Suzane V.: Responde vovó.

Avó: Diabo de vista cansada.

Suzane V.: Responde.

Avó: Qual é a pergunta, meu Deus?

Suzane V.: Como é que o nome da menina é Julieta? Julieta não é aquela coisa vermelha que eu como junto com Romeu de sobremesa?

Avó: Não, Suzane. Aquela coisa vermelha é goiabada. Que você come junto com queijo. Os nomes são goiabada e queijo. Romeu e Julieta são outra coisa.

Suzane V.: Não to entendendo, vovó.

Avó: Graças a deus. Ocadil ainda tem.

Suzane V.: Como é que aquela coisa vermelha é isso daí que você falou e aquela coisa branca é queijo se a mamãe sempre fala que é Romeu e Julieta?

Avó: Não me irrita Suzane. Não me irrita que hoje só tem Ocadil. E a sua mãe fala muitas coisas.

Suzane V.: Então a mamãe mente?

Avó: Claro que ela mente. Ela e o resto do mundo.

Suzane V.: Não to entendendo, vovó. Não to entendendo.

Avó: Todo mundo mente. O mundo mente. Mente.

Suzane V.: Vovó. Não to entendo, vóvó. Não to mesmo.

Avó: Ah, não ta? Então senta aqui que a vovó vai te explicar. As pessoas são loucas, minha neta. Loucas. Elas dizem uma coisa e querem dizer outra. Elas dizem uma coisa e querem dizer outra. Elas dizem uma coisa e querem dizer outra.

Suzane V.: Você já falou isso, vovó.

Avó: Elas dizem uma coisa e querem dizer outra.

Suzane V.: Mas, vovó. Você já falou isso.

Avó: Fica quieta! Pelo menos eu estou dizendo uma coisa que eu quero dizer. As pessoas não. As pessoas. As pessoas dizem uma coisa e querem dizer outra.

Suzane V.: Ta bom, vovó.

Avó: Elas dizem que são normais, mas compram revistas com fotos dos outros mostrando seus banheiros. Elas dizem que são equilibradas, mas pagam pra ter uma toxina que mata carrapato de boi injetada no canto dos olhos. Elas dizem que são honestas, mas só vendem pacotes com doze salsichas e oito pães de cachorro quente!

Suzane V.: Não to entendento vovó.

Avó: Sempre sobram quatro salsichas!

Suzane V.: Salsicha é tão gostoso.

Avó: As pessoas mentem, minha neta. Elas mentem!

Suzane V.: Então quer dizer que a minha sobremesa preferida não é Romeu e Julieta?

Avó: Não.

Suzane V.: É gobada com queijo.

Avó: Goiabada, analfabeta.

Suzane V.: Que que é analfabeta, vovó?

Avó: Você.

Suzane V.: Por que que eu sou isso aí que você falou, vovó?

Avó: Porque você não sabe ler, analfabeta. Nem escrever.

Suzane V.: Mas eu só tenho cinco anos.

Avó: A culpa não é minha. Você continua sendo analfabeta.

Suzane V.: Vovó, me explica uma coisa.

Avó: Ai, meu deus, de novo.

Suzane V.: Se a minha sobremesa preferida não é Romeu e Julieta… o que é Romeu e Julieta, vovó?

Avó: Um casal de namorados que – impedidos de se amar pelas famílias – acabou se matando. Ela com veneno, ele com uma facada. Ou um tiro na cabeça se você levar em conta a refilmagem do Baz Lhurman.

Suzane V.: Romeu e Julieta são dois mortos?

Avó: Exatamente.

Suzane V.: Romeu e Julieta… são… um menino… e uma menina… e eles… estão…mortos?

Avó: Ficou surda agora?

Suzane V.: Buáaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.

Avó: Se controla Suzane. Se controla que hoje só tem Ocadil.

Suzane V.: A minha sobremesa preferida são dois mortos. Buáaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.

Avó: Suzane.

Suzane: Buáaaaaaaaaaa.

Avó: Suzane!

Suzane: Buáaaaaaaaaaa.

Avó: SUZANE!

Suzane silencia.

Avó: Eles não morreram de verdade.

Suzane V.: Mas você disse que eles morreram.

Avó: Eles não existiram.

Suzane V.: Como é que eles não existiram, vovó? Eles têm até nome.

Avó: Eu sei, minha neta. Mas eles são personagens.

Suzane V.: Personagens?

Avó: De ficção.

Suzane V.: O que é que é ficção, vovó?

Avó: Tudo que é de mentirinha.

Suzane V.: Mas você disse que todo mundo mente, vovó.

Avó: É verdade.

Suzane V.: Então todo mundo é de ficção, vovó?

Avó: Exatamente, minha neta. É tudo ficção.

Mãe grita de dentro.

Mãe: Suzane, vem almoçar senão vai ficar sem sobremesa.

Suzane sai correndo.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Estreia de "Madrigal em Processo"

Nesse momento está acontecendo a estreia da peça "Madrigal em Processo" da Cia. Pequena Orquestra.


01 SET. - 16 SET

QUARTAS E QUINTAS 21H

TEATRO SÉRGIO PORTO



Madrigal trata-se de um espetáculo em construção, que fala sobre a fabricação da realidade e o embate entre verdade e ficção. Criado a partir das obras "A invensão de Morel" de Adolf oBioy Casares e "Blow up" de Michelangelo Antonioni.



Criação: Fabricio Belsoft, Fernanda Félix, Joana Lerner, Keli Freitas, Michel Blois, Pedro Henrique Monteiro, Rodrigo Nogueira, Thiare Maia.
Atores convidados: Aline Fanju, Bianca Joy, Eleonore Guisnet, João Velho, Paulo Vertings.

Madrigal em Processo

ENTREVISTA DE 27 DE OUTUBRO DE 2009 COM RODRIGO NOGUEIRA SOBRE SUA PEÇA "MADRIGAL EM PROCESSO" DA CIA. PEQUENA ORQUESTRA


Rodrigo Nogueira fala sobre "Madrigal em Processo"
Por Joana Rizério

Joana R - Como funciona esse novo experimento, “encenação em tempo real”?

Rodrigo Nogueira -Uma obra é a soma de muitas coisas e não só da visão do artista que a apresenta. A principal soma é: visão do artista + visão da platéia. A encenação em tempo real lida com o “agora” o tempo todo. É claro que temos algo preparado para apresentar, mas devemos levar em conta tudo que está relacionado ao tempo presente da apresentação. Se o dia foi ensolarado, certamente vai ser uma apresentação diferente de uma cujo dia foi chuvoso. Encenamos no agora, no tempo real e temos que levar em conta isso para não cairmos na repetição mecânica. Se a platéia está cheia e animada vai ser diferente de uma platéia mais vazia e reservada. Ou vazia e animada!

Como vocês fazem para que o improviso da “obra aberta” - apresentação em que as cenas podem ser refeitas, cortadas ou trocadas na hora - não afaste o público da narrativa do espetáculo?

Essa é uma questão bem delicada e muito pertinente pro nosso coletivo. Eu sempre digo uma frase de Harold Pinter que mata a charada: uma coisa pode ser ao mesmo tempo verdadeira e falsa. Acho que o teatro é assim, principalmente o que se faz no dia de hoje. Para nós, o ideal é que o público olhe para o palco e veja duas coisas ao mesmo tempo: um ator dizendo um texto e manipulando uma realidade e um personagem dizendo falas e vivendo uma vida. A junção das duas coisas é crucial para que aconteça o espetáculo. Portanto, temos espaço sim para improvisar e lidar com o agora. Mas temos que contar uma história, e para isso temos uma estrutura que não muda. Pelo menos não antes de a peça começar!


O filme Blow Up, além de ter sido uma produção fabulosa, foi transformadora porque trouxe pela primeira vez o nu não-erótico ao grande público. Podemos esperar um conteúdo revolucionário ou polêmico como o do filme em Madrigal em Processo?

O madrigal chama muita atenção de quem vê sim. Mas essa "polêmica" não se relaciona a nudez ou algo do tipo, e sim ao que está acontecendo no palco. O público vai duvidar muitas vezes se o que vê é criação da Pequena Orquestra ou realidade. A peça começa na rua e confunde quem a vê desde então. Tudo que se vê pode, no minuto seguinte, ser revelado como uma ilusão. E essa é a nossa ligação com Blow Up: na hora de tirar as fotos, o fotógrafo do filme não viu nada além de uma mulher que corria pelo parque. Ao revelar as fotos, ele viu a história de um assassinato. Quanto mais ele ampliava as fotos, mais essa história ia se confirmando, mas mais as fotos pareciam borrões e ao mesmo tempo, uma obra de arte. Percebe o paradoxo?

Na peça, contamos duas histórias: a primeira é a de um homem que fotografou um café vazio, e ao revelar o filme, encontrou uma mulher de vermelho, sentada. A outra história é a de uma mulher que estava num café e se apaixonou, mas não sabe por quem. Desde então, ela repete todos os dias os mesmos movimentos até a hora da paixão, para ver se alguém passa e ela descobre por quem está apaixonada (essa é uma história inspirada no livro A Invenção de Morel). Já ele, sai em busca dessa mulher misteriosa de vermelho que não sabe quem é. O que é verdade e o que é ilusão fica a cargo de...