quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Madrigal em Processo

ENTREVISTA DE 27 DE OUTUBRO DE 2009 COM RODRIGO NOGUEIRA SOBRE SUA PEÇA "MADRIGAL EM PROCESSO" DA CIA. PEQUENA ORQUESTRA


Rodrigo Nogueira fala sobre "Madrigal em Processo"
Por Joana Rizério

Joana R - Como funciona esse novo experimento, “encenação em tempo real”?

Rodrigo Nogueira -Uma obra é a soma de muitas coisas e não só da visão do artista que a apresenta. A principal soma é: visão do artista + visão da platéia. A encenação em tempo real lida com o “agora” o tempo todo. É claro que temos algo preparado para apresentar, mas devemos levar em conta tudo que está relacionado ao tempo presente da apresentação. Se o dia foi ensolarado, certamente vai ser uma apresentação diferente de uma cujo dia foi chuvoso. Encenamos no agora, no tempo real e temos que levar em conta isso para não cairmos na repetição mecânica. Se a platéia está cheia e animada vai ser diferente de uma platéia mais vazia e reservada. Ou vazia e animada!

Como vocês fazem para que o improviso da “obra aberta” - apresentação em que as cenas podem ser refeitas, cortadas ou trocadas na hora - não afaste o público da narrativa do espetáculo?

Essa é uma questão bem delicada e muito pertinente pro nosso coletivo. Eu sempre digo uma frase de Harold Pinter que mata a charada: uma coisa pode ser ao mesmo tempo verdadeira e falsa. Acho que o teatro é assim, principalmente o que se faz no dia de hoje. Para nós, o ideal é que o público olhe para o palco e veja duas coisas ao mesmo tempo: um ator dizendo um texto e manipulando uma realidade e um personagem dizendo falas e vivendo uma vida. A junção das duas coisas é crucial para que aconteça o espetáculo. Portanto, temos espaço sim para improvisar e lidar com o agora. Mas temos que contar uma história, e para isso temos uma estrutura que não muda. Pelo menos não antes de a peça começar!


O filme Blow Up, além de ter sido uma produção fabulosa, foi transformadora porque trouxe pela primeira vez o nu não-erótico ao grande público. Podemos esperar um conteúdo revolucionário ou polêmico como o do filme em Madrigal em Processo?

O madrigal chama muita atenção de quem vê sim. Mas essa "polêmica" não se relaciona a nudez ou algo do tipo, e sim ao que está acontecendo no palco. O público vai duvidar muitas vezes se o que vê é criação da Pequena Orquestra ou realidade. A peça começa na rua e confunde quem a vê desde então. Tudo que se vê pode, no minuto seguinte, ser revelado como uma ilusão. E essa é a nossa ligação com Blow Up: na hora de tirar as fotos, o fotógrafo do filme não viu nada além de uma mulher que corria pelo parque. Ao revelar as fotos, ele viu a história de um assassinato. Quanto mais ele ampliava as fotos, mais essa história ia se confirmando, mas mais as fotos pareciam borrões e ao mesmo tempo, uma obra de arte. Percebe o paradoxo?

Na peça, contamos duas histórias: a primeira é a de um homem que fotografou um café vazio, e ao revelar o filme, encontrou uma mulher de vermelho, sentada. A outra história é a de uma mulher que estava num café e se apaixonou, mas não sabe por quem. Desde então, ela repete todos os dias os mesmos movimentos até a hora da paixão, para ver se alguém passa e ela descobre por quem está apaixonada (essa é uma história inspirada no livro A Invenção de Morel). Já ele, sai em busca dessa mulher misteriosa de vermelho que não sabe quem é. O que é verdade e o que é ilusão fica a cargo de...


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