sexta-feira, 22 de julho de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 2

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO DOIS

CENA 1. RUA EXT. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
DIANA E MARCO SE ESBARRARAM. BRUNINHO E BETA ALI. GABI
TAMBÉM.

DIANA — Olha só o que você fez, seu jovenzinho
idiota.

MARCO — Jovenzinho idiota?

GABI CHEGA.

GABI — Idiota sim. E da pior espécie.

BRUNINHO — Aposto que agora você queria tar na
Mongólia.

DIANA — Meu Glauber!

BETA — Gente, quê que tá rolando?

DIANA SE AGACHA PARA PEGAR OS LIVROS.

DIANA — Tá rolando que esse surfistinha “super
maneiro” conseguiu acabar com o meu dia
derrubando os meus livros do Glauber!

BRUNINHO — Glauber?

BETA — Glauber Rocha. A menina é cabeça.

MARCO — Ah, tinha que ser uma cdf que se acha a
última coca-cola do deserto pra falar
comigo dessa maneira.

DIANA — Você derrubou os meus livros!

MARCO — E você derrubou a minha prancha!

DIANA — Quem anda com um troço desse na calçada
tem que prestar atenção!

GABI — Ele não enxerga quem tá na frente dele.

DIANA — Quem é você?

GABI — Eu sou a Gabi, namorada desse mané. Ou
ex-namorada.

DIANA — Sorte a sua.

GABI — Você nem imagina.

MARCO — Quer parar de falar de mim como se eu
fosse um monstro!

GABI — E você não é?

BETA COMEÇA A DANÇAR E CANTAR DO NADA.

BETA — All the single ladies, all the single
ladies!

DIANA — Que isso, Roberta?

BETA — Pra descontrair o ambiente.

DIANA — Eu mereço.

BRUNINHO SE APROXIMA DE DIANA, GALANTE.

BRUNINHO — E você seria...

DIANA — A babaca que tomou um encontrão do seu
amiguinho.

BRUNINHO — E uma linda babaca, devo dizer.

DIANA — Como é que é?

BRUNINHO — E eu sou o Bruninho. Mucho gusto, chica.

DIANA — Mucho gusto?

BRUNINHO — É que eu to aprendendo espanhol.

DIANA — Vambora, Beta. (PARA MARCO) Vambora que
essa ida ao shopping já me deu até dor de
cabeça.

MARCO — Ô garota, você não me conhece pra falar
de mim dessa maneira.

GABI — Ela não, mas eu conheço. E sei muito bem
as dores que você é capaz de causar.

DIANA OLHA PARA MARCO COM UMA EXPRESSÃO DE EU SABIA E SAI
COM BETA.

BRUNINHO — Peraí, lourinha. Eu nem peguei teu
telefone.

GABI — Não dá uma dentro, hein, Marquito.

GABI SAI.

BRUNINHO — Tu viu só? A lourinha me deu mó mole.

MARCO — Ué.

BRUNINHO — Que foi?

MARCO — Cadê a minha quilha?

CENA 2. QUARTO DE DIANA. INTERIOR. DIA
DIANA ESTÁ NA CAMA ENQUANTO BETA ABRE SEU ARMÁRIO E COMEÇA
A TIRAR ROUPAS DE DENTRO.

DIANA — Ai, aquele garoto acabou com o meu dia.

BETA — Relaxa, Diana. A gente acha um modelito
pra você fazer o teste aqui mesmo.

DIANA — Odeio gente que se acha.

BETA — Se bem que com essa velharia que você tem
aqui vai ser difícil.

DIANA — Coitada daquela namorada dele...

BETA — Um xale? Diana você tá dividindo o
guarda-roupa com a tua vó?

DIANA — Beta, quer prestar atenção no que eu to
falando?

BETA — Eu já entendi, gata.

DIANA — Entendeu o quê?

BETA — Você tá irritada com você mesma porque tá
louca de tesão no surfistinha.

DIANA — O quê?

BETA — Ih, gente, eu falei isso em voz alta?
Achei que só tivesse pensado.

CENA 3. CALÇADA. EXTERIOR. DIA
MARCO SENTADO NUMA CALÇADA PERTO DO LUGAR ONDE ROLOU A
TROMBADA. BRUNINHO EM PÉ AO SEU LADO.

BRUNINHO — Vambora, Marco, já faz mais de meia hora
que tu tá aí parado com essa cara de que
perdeu no FIFA Soccer.

MARCO — Eu perdi minha quilha, cara!

BRUNINHO — Depois tu compra outra...

MARCO — Não é assim. A minha prancha é como se
fosse parte de mim, sacou?

BRUNINHO — Que viadagem, moleque. (RI) Parece até a
lourinha falando lá dos livros dela...

MARCO LANÇA UM OLHAR DE ÓDIO PRA BRUNINHO.

BRUNINHO — Desculpa.

MARCO — E a Gabi falando daquele jeito de mim?
Não entendi nada.

BRUNINHO — Ela é a namoradinha virgem do maior
comedor do bairro. Ela tem direito de ser
meio chatinha.

MARCO — Hein?

BRUNINHO — Aliás, chatinha e esquisita. Aquela
mulher sempre aparece do nada! Parece até
filme de terror.

MARCO — Bruninho, tu só fala besteira.

BRUNINHO — (RI) Melhor falar besteira do que tomar
na cabeça de duas garotas no mesmo dia.

MARCO — (PUTO) Quê?

BRUNINHO — Bora jogar FIFA Soccer?

CENA 4. QUARTO DE DIANA. INTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIADA DA CENA 2. DIANA INDIGNADA DIANTE DE
BETA. ELA CONTINUA VENDO ROUPAS.

DIANA — O que você disse não tem o menor
cabimento!

BETA MOSTRA UMA CALÇA.

BETA — O que não tem cabimento é essa calça.
Cintura alta em 2010???

DIANA — Eu com tesão naquele... Daniel Radcliff
depois da gripe?

BETA — Tá doidinha nele, amiga.

DIANA — Aquele garoto é exatamente o contrário do
que eu gosto num cara.

BETA — Será? Veste isso aqui.

BETA ENTREGA UMA PEÇA DE ROUPA A DIANA QUE VESTE ENQUANTO
FALA.

DIANA — Ele é clichê do jovem ogro. Grosso, vazio
e...

BETA — Gostoso.

DIANA — Hein?

BETA — Você viu a barriguinha dele?

DIANA — Não, eu vi a arrogância dele.

BETA — Diana, o menino esbarrou em você sem
querer e você tá fazendo esse rebu todo.
Você não acha que tem alguma coisa por
trás disso, não?

TERMINA A CENA COM BETA ENTREGANDO OUTRA PEÇA DE ROUPA PARA
DIANA.
CORTA DIRETO PARA:

CENA 5. RUA. EXTERIOR. DIA
BRUNINHO E MARCO CAMINHAM.

BRUNINHO — Tem certeza que você não quer ir lá pra
casa?

MARCO — Tenho, eu vou passar a tarde com a minha
vó.

BRUNINHO — Essa é a parte ruim de ter os pais
morando na Mongólia.

MARCO — Que isso, Bruninho, eu adoro a minha vó.
Se ela não ficasse aqui comigo nunca que
a minha mãe ia ter me deixado ficar
morando no Brasil.

BRUNINHO — Tá beleza.

MARCO — Eu também preciso estudar pruma parada
que vai rolar amanhã.

BRUNINHO — Que parada?

MARCO — Lembra que eu te falei que eu recebi uma
ligação importante ontem?

BRUNINHO — Lembro. O quê que é?

CENA 6. QUARTO DE DIANA. INTERIOR DIA
DIANA ESTÁ DE COSTAS PARA A CÂMERA. NÃO VEMOS COMO ELA
ESTÁ. BETA TERMINANDO DE VESTIR A AMIGA.

DIANA — E é por isso que essa sua teoria de eu
tar a fim do surfistinha é completamente
furada.

BETA — Furada.

DIANA — Bicicleta e melancia, Roberta. Não é você
que diz? Uma coisa que não tem nada a ver
com a outra? Eu e o surfistinha:
bicicleta e melancia.

BETA — Porque é que você acha que não tem nada a
ver com ele?

DIANA — Já disse: odeio gente que se acha.

BETA — Vindo de você é muito engraçado.

DIANA — Você tá insinuando que eu me acho?

BETA — Não, gata. Eu to afirmando. Mas isso não
é ruim não. Se nessa idade a gente não se
jogar pra cima a gente tá é frita, amiga.

DIANA — Nesse ponto você tem razão. E aí, como é
que ficou o look?

REVELAMOS O LOOK DE DIANA QUE ESTÁ PARECENDO UMA PALHAÇA.

BETA — Ah... Legal.

OUVIMOS LÚCIA DE FORA.

LÚCIA — (OFF) Posso entrar?

DIANA — Não conta do teste pra minha mãe.

BETA — Por quê?

DIANA — Depois eu te explico.(T) Entra mãe!

NISSO ENTRA LÚCIA COM UMA BANDEJA DE LANCHES.

LÚCIA — Oi meninas, eu trouxe um lanchinho pra/
Que isso?

BETA — Look novo da Diana, gostou?

LÚCIA — É... Bem diferente dela, né?

BETA — É talvez eu tenha exagerado um pouco.

DIANA SE OLHA NO ESPELHO.

DIANA — Se você acha que eu vou sair de casa
vestida assim você tá redondamente
enganada.

BETA — Depois a gente conversa sobre isso,
Diana.

LÚCIA — Bom. Vamos lanchar?

DIANA — Vamo! To morrendo de fome.

BETA — Não quero não, Lúcia, obrigada. To de
dieta.

LÚCIA — Dieta?

BETA — Vou ficar tão magra que a Dakota Fanning
vai parecer uma baleia do meu lado.

DIANA — Sério, Beta?

BETA — Claro que não! Eu fazendo dieta? Passa
esse lanche pra cá porque comida de graça
e beijo na boca não se negam nunca!

ELAS RIEM.
PASSAGEM DE TEMPO. IMAGENS CLIPADAS DO RIO AO ANOITECER

CENA 7. CASA DE MARCO. QUARTO INT. NOITE
MARCO DEITADO ESTUDANDO. BATEM À PORTA DO QUARTO.

MARCO — Pode entrar.

BRUNINHO — E aí, Marquito?

MARCO — Demorou, hein?

BRUNINHO — Cheguei faz meia hora, pô.

MARCO — E ficou fazendo o quê?

BRUNINHO — Ouvindo a tua vó contando todos os
momentos felizes que ela teve com o Tob.

MARCO — O cachorro dela que morreu?

BRUNINHO — Ela cismou que eu sou parecido com ele.

MARCO DÁ UMA RISADA.

MARCO — Caraca, pode crer. Tu é igualzinho ao
vira-lata. Cara de um, focinho de outro!

BRUNINHO — Dãaaaaa. (T) Como é que tão os estudos?

MARCO — Maneiro.

BRUNINHO — Te falar uma parada. Fiquei na nóia com
aquela lourinha.

MARCO — É?

BRUNINHO — Até agora não acredito que eu não peguei
o telefone dela.

MARCO — Bruninho tu viu a menina durante trinta
segundos.

BRUNINHO — Tempo suficiente pra ela analisar o
conteúdo do garotão e ficar bem
interessada.

MARCO — Tu acha mermo que ela ficou a fim de tu?

BRUNINHO — Eu tenho certeza meu amigo. E eu vou te
dizer uma coisa. Eu não me importaria de
encontrar com ela de novo.

MARCO — Pois eu me importaria. (DÚBIO) Muito.

CENA 8. CASA DE DIANA. SALA INTERIOR. NOITE
FERNANDO E DIANA SENTADOS À MESA. ELES ESTÃO NUM ÓTIMO
CLIMA, RINDO E ALGUMA COISA. LÚCIA ENTRA COM UMA TRAVESSA.

LÚCIA — Olha o rango!(T) Vocês tão rindo de quê?

DIANA — Confundiram a gente na rua hoje de novo.

LÚCIA — Confundiram?

FERNANDO — Acharam que a gente era namorado.

DIANA — Adoro quando isso acontece!

FERNANDO — Claro! Quem é que não gostaria de ter um
namorado gato que nem eu?

LÚCIA — Ih, convencido. Se você quer saber as
pessoas vivem achando que a gente é irmã.

FERNANDO — Mas disso eu não tenho dúvida. Quem diria
que uma gostosa que nem você ia ser mãe
de uma garota dessas.

E AGARRA LÚCIA.

LÚCIA — Fernando!

DIANA — Ih, mãe. Relaxa. Já disse que eu fico
feliz de ver vocês desse jeito. Estranho
seria se você tivessem uma vida sexual
inativa nessa idade.

FERNANDO — Adoro a sua objetividade, filha.

LÚCIA — Mas o que é que vocês tavam fazendo na
rua?

FERNANDO — Eu cheguei em casa e resolvi levar a
Diana pra dar um rolé.

LÚCIA — Deve ter sido um rolé bem animado.

FERNANDO — Super! Ela nem tá mais esquentando a
cabeça com o tal teste.

LÚCIA — Teste? Que teste?

FERNANDO FAZ UMA CARA DE QUE DEIXOU ESCAPAR ALGO. DIANA
FICA PUTA.

DIANA — Você prometeu que não ia contar!

ELA SAI IRRITADA PRO QUARTO.

CENA 9. QUARTO DE MARCO. INT. NOITE
BRUNINHO VÊ UM CADERNO PRETO NA MESINHA DE CABECEIRA DE
MARCO. TIPO UM MOLESKINE. BRUNINHO PEGA.

BRUNINHO — Olha, o famoso caderninho dando sopa.

MARCO PEGA DE VOLTA.

MARCO — Bruninho já te falei que eu não gosto que
você fique mexendo nesse meu caderno.

BRUNINHO — Você prometeu que ia contar.

MARCO — Contar o quê?

BRUNINHO — O que você escreve aí.

MARCO — Nunca te prometi isso na vida!

BRUNINHO — Tudo bem. Todo mundo já sabe mesmo.

MARCO — Sabe?

BRUNINHO — O Fly já espalhou pra geral.

MARCO — Desde quando o Fly sabe o que eu escrevo
aqui?

BRUNINHO — Como ele descobriu eu não sei. Mas tá
todo mundo sabendo que é aí que você
anota o nome das mulheres que você come.

MARCO — Ué, mas como é que...

BRUNINHO — Qualé, Marco. Ficar fazendo segredinho
pra mim?

MARCO — Eu não to fazendo segredinho.

BRUNINHO PEGA O CADERNINHO DE MARCO. MARCO TENTA PEGAR

BRUNINHO — Vamo ver quem já caiu na tua lábia.

MARCO — Devolve isso aqui Bruninho.

BRUNINHO — Deixa eu ver!

MARCO — Bruninho devolve.

BRUNINHO ENFIA O CADERNINHO NA CUECA.

BRUNINHO — Então vem pegar.

MARCO — Que nojo Bruninho, agora eu vou ter que
desinfetar isso aí.

BRUNINHO — Ué, porque? Eu sou tão cheirosinho. Em
todas as partes do corpo.

TOCA O TELEFONE DE MARCO. ATENÇÃO SONOPLASTIA: TOQUE DE
CELULAR. ELE OLHA O VISOR.

MARCO — Eu não acredito.

CENA 11. CASA DE DIANA. QUARTO. INTERIOR. NOITE
DIANA NA CAMA RECOLHIDA. LÚCIA ENTRA.

LÚCIA — Posso entrar? Filha...

DIANA — Foi bobagem, mãe. Eu não te contei do
teste por bobagem.

LÚCIA — Entende uma coisa, filha: não é porque eu
fui atriz que eu vou querer que você siga
essa carreira!

DIANA — Você largou o papel da sua vida por minha
causa.

LÚCIA — (FORTE) Eu não larguei nada! Eu peguei.

DIANA — Quê?

LÚCIA — Diana, eu vou te contar uma coisa: quando
eu engravidei... eu não queria ter o
filho.

DIANA — Você não queria me ter?

LÚCIA — Não. Eu tinha a sua idade e seu pai era
ainda mais novo!

DIANA — Você pensou em abortar?

CENA 11. QUARTO DE MARCO. INT. NOITE
CONTINUAÇÃO DA CENA 9. O CELULAR SEGUE TOCANDO.

BRUNINHO — Quem é?

MARCO — A Gabi.

BRUNINHO — Não atende!

MARCO — Se você ler o que tá nesse caderninho eu
não sou mais teu amigo!

BRUNINHO — Bichona.

ATENÇÃO. DIVIDIR TELA COM:

CENA 11. LOCAÇÃO. EXT. NOITE
PLANO FECHADO DE GABI AO TELEFONE.

GABI — Oi, Marco.

MARCO — Porque é que você tá me ligando, Gabi?

GABI — Eu preciso te encontrar amanhã.

MARCO — Eu não tenho mais nada pra te dizer.

GABI — Mas eu tenho. Uma coisa muito importante
e garanto que você vai querer saber.

MARCO — Tem a ver com o Fly?

GABI — Como Fly???

MARCO — Deixa pra lá. Amanhã eu não posso Gabi eu
tenho um compromisso.

GABI — O dia inteiro?

MARCO — Gabi, vamo esfriar a cabeça/

GABI — Marco, o que eu tenho pra te contar não
pode esperar. Me liga amanha. Quando você
sair do seu compromisso.

MARCO — Tá bom, Gabi. Tá bom.

ATENÇAO. A CENA PROSSEGUE SÓ NO QUARTO DE MARCO.
MARCO DESLIGA. ELE OLHA PARA BRUNINHO QUE ESTÁ CHEIRANDO O
CADERNINHO.

CENA 12. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INTERIOR. NOITE
LÚCIA DIANTE DE DIANA.

DIANA — Responde, mãe. Você pensou em abortar
quando tava grávida de mim.

TEMPO.

LÚCIA — Pensei, Diana. Mas foi quando eu resolvi.
Eu resolvi que eu ia pegar o que a vida
tava me dando. E tive você.

DIANA — Foi quando você perdeu a sua carreira de
atriz, né?

LÚCIA — Não, meu amor. Foi quando eu ganhei uma
vida nova. Uma vida que eu amo. Naquela
época eu nunca ia imaginar que eu ia ser
feliz como uma mãe de família. E hoje eu
não me imagino vivendo de outro jeito.

DIANA — É que eu quero ser diretora de cinema!

LÚCIA — E eu acho lindo! Eu te garanto que eu não
sou dessas mães que querem se realizar
pela filha. Até porque eu sou realizada!

DIANA — Eu sei...

LÚCIA — Mas deixa a vida te surpreender. Faz o
teste, não faz o teste. Não importa. Só
não perde a capacidade de deixar a vida
te surpreender.

LÚCIA DÁ UM BEIJO EM DIANA E SAI. DIANA OLHA PARA SEUS
LIVROS E OS PEGA. ELA PERCEBE QUE TEM UMA QUILHA QUEBRADA
NO MEIO DELES. ESTRANHA PRIMEIRO. E DEPOIS DÁ UM SORRISINHO
MAROTO.
PASSAGEM DE TEMPO. IMAGENS CLIPADAS DO RIO AO AMANHECER

CENA 12. ESTÚDIO DE TV. INTERIOR. DIA
MARTA ESTÁ COM UMA FICHA NAS MÃOS FALANDO DISPLISCENTEMENTE
COM CANDIDATOS AO TESTE ENQUANTO ANDA.

MARTA — Queridinho, vamo botar um pouquinho de
maquiagem porque espinha no vídeo não é
legal.

ELA PASSA POR OUTRA (PARTICIPAÇÃO).

MARTA — Amor, o teste pra prostituta jovem é só
amanhã.

MENINA — Mas eu não vim fazer teste pra prostituta
jovem. Eu vim pro papel principal.

MARTA — Ah, que graça. (PARA SI) Os produtores de
elenco são realmente muito bem humorados.

NISSO, ENTRA DIANA.

DIANA — Marta.

MARTA — Diana! Que surpresa você por aqui.

DIANA — Ué, mas eu falei pra produtora de elenco
que eu vinha. A sua assistente me passou
o número dela.

MARTA — Eu sei, mas com o seu temperamento eu
fiquei com medo que você mandasse um
grupo de jovens manifestantes no seu
lugar pra quebrar o estúdio.

DIANA — Bom, eu to aqui. Eu só queria saber como
é que é a cena.

MARTA — Basicamente como tá escrito no papel. Não
tem muito mistério. Você tá sentada, o
guri chega, papinho, texto, papinho,
beijo na boca e fim de cena.

DIANA — Beijo na boca?!? Mas isso não tava no
roteiro que a produtora de elenco me
passou!

MARTA — Eu sei, mas o diretor pediu, né? A bicha
hoje tá romântica.

DIANA — Ai, eu não acredito.

MARTA — Ih, já vi tudo. Não gostou da surpresinha
e vai desistir do teste.

DIANA — É que essa surpresinha/

DIANA SE CORTA. PENSA UM POUCO. PASSA NO OLHAR
IMAGENS
DA CENA ANTERIOR.

DIANA — Essa surpresinha não me incomoda nenhum
pouco. Quem é o ator? Que eu vou ter que
beijar?

ELA PEGA A LISTA E COMEÇA A OLHAR.

MARTA — O ator que você vai beijar, o ator que
você vai beijar...

NISSO ENTRA MARCO.

MARCO — Oi Marta. Desculpa o atraso!

MARTA — Olha ele aí.

DIANA — Você?

FECHA NA SUPRESA DE DIANA.

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