sexta-feira, 29 de julho de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 4

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO QUATRO

CENA 1. EMISSORA. ESTÚDIO. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO 3.

BELCHIOR — Ok. Ação!

DIANA — Eu descobri tudo!

MARCO — Eu não queria que fosse assim.

DIANA — Você não tinha esse direito.

MARCO — Não é o que você tá pensando.

DIANA — Você me paga.

MARCO — Pô... To boladão

DIANA — É pra ficar mesmo.

MARCO — Vitória!

DIANA — O que é que foi, Daniel?

ENTRA MÚSICA: “WHEN I LOOK ATE YOU” DE MILEY CYRUS.

MARCO — Eu sei que eu errei. E eu sei que a gente
é muito diferente. O nosso jeito de ver
as coisas, de pensar a vida, de viver o
mundo. Mas é que quando você fala, parece
que alguém apertou o botão de mudo no
mundo. E eu só consigo ouvir a sua voz.
Parece que eu to no alto de uma montanha
russa e o carrinho vai despencar. Ou que
o chão saiu correndo e só ficou você.
Porque é isso que eu quero: Ficar com
você. Eu quero ficar com você, Vitória.
Fica comigo?

DIANA VAI BEIJAR MARCO, E NA HORA DO BEIJO O DIRETOR MANDA:

BELCHIOR — Corta!

MARCO — Corta?

DIANA — Corta???

MARCO — Poxa, mas a cena tava tão... tão...

DIANA INEBRIADA POR MARCO VOLTA A SI E VOLTA A SER MALA.

DIANA — Tão perto de ser estragada.

MARCO — Estragada?

DIANA — Com o beijo.

MARCO — Fala sério, Diana.

DIANA — Eu to falando! Do jeito que você é grosso
era capaz de ter lixa na língua.

MARCO — Ah, para, Diana. A nossa cena foi linda.
Pô, eu senti uma parada... Eu senti!

BELCHIOR SE APROXIMA.

BELCHIOR — Meu amigo a única coisa que dá pra você
sentir num estúdio de TV é azia.

MARTA — Deixa o garoto, Belchior. É a primeira
cena dele.

BELCHIOR — Ótimo! Então vai embora porque é a minha
décima quinta só hoje. Próximos!

CORTA PARA:

CENA 2. RUAS JOVENS E DIVERTIDAS. EXT. DIA
BETA DIANTE DE BRUNINHO.

BETA — Como é que é? Você quer o telefone da
Diana? Pra quê?

BRUNINHO — Pô, a loirinha me deu mó mole aquele dia.

BETA — Deu mole? É mais fácil Miley Cyrus virar
sapatão e engatar num caso com a Taylor
Swift do que a Diana te dar mole.

BRUNINHO — (COM TESÃO) Caraca... A Miley Cyrus com a
Taylor Swift...

BETA — Acorda menino!

BRUNINHO — Foi mal.

BETA — Eu hein.

BRUNINHO — Mas bem que as duas juntinhas iam bater o
maior bolão.

BETA — Eu não tenho que ouvir isso.

E COMEÇA A SAIR.

BRUNINHO — Peraí, peraí. Isso quer dizer que você
não vai me dar o telefone da lourinha?

CENA 3. EMISSORA DE TV. SALA DE ESPERA. INT. DIA
DIANA E MARCO SAINDO DO ESTÚDIO, ACOMPANHADOS DE MARTA.

DIANA — E aí, Marta, você gostou do nosso teste?

MARTA — Bom, como produtora, eu tenho que sorrir,
dizer que vocês foram maravilhosos e que
nós entraremos em contato. Mesmo que o
teste de vocês tenha sido uma bomba como
costuma acontecer.

MARCO — Mas...

MARTA — Mas dessa vez eu vou ser sincera.

MARCO — Ih, lá vem.

MARTA — O teste de vocês foi excelente.

DIANA — Sério?

MARTA — Um dos melhores casais que nós testamos
pra essa temporada.

MARCO — Verdade?

MARTA — Não se anima tanto. Vocês estão longe de
ser um Zack Efron e Vanessa Hudgens. Até
porque pra ser um dos dois vocês iam ter
que nascer de novo e bem mais bonitos.

DIANA — Como você é fofa.
MARTA — Mas a verdade é que vocês dois juntos
funcionam muito bem.

DIANA — Nós dois juntos?

MARTA — Química, já ouviu falar? Vocês têm de
sobra. E formam um belo casal.

MARTA SAI. DIANA FICA ALI SEM GRAÇA OLHANDO PARA MARCO.

CENA 4. RUAS. EXT. DIA
BRUNINHO E BETA.

BETA — Tá bom. Eu vou te dar o telefone da
lourinha sim.

BRUNINHO — Vai?

BETA — Pra falar a verdade eu acho que vocês
formam um belo casal.

BRUNINHO — Sério?

BETA — Óbvio que não. Mas eu vou adorar ver a
cara da Diana quando você ligar pra ela.

BRUNINHO — Ela vai ficar mó feliz, né?

BETA — Tão feliz quanto num show do Paramore.

BRUNINHO — Ih, que maneiro. A Diana também gosta de
Paramore?

BETA — Ela adora! Paramore, Taylor Swift, Zack
Efron. A Diana é muito ligada no mundo
jovem.

BRUNINHO — Vídeo-game?

BETA — Ih, meu filho. É a rainha do Fifa Soccer.

BRUNINHO — Caraca, ela é que nem eu.

BETA — Igualzinha. Eu não te falei que vocês
formam um belo casal?

CENA 5. CASA DE DIANA. SALA. INTERIOR. DIA
DIANA CHEGANDO EM CASA DO TESTE. LÚCIA ARRUMANDO A CASA
FEITO UMA LOUCA.

DIANA — Oi mãe.

LÚCIA — Oi filha. Tira o sapato que eu acabei de
lavar o chão.

DIANA — Ih, caramba, brigou com o papai.

LÚCIA — Como é que você adivinhou?

DIANA — Mãe, sempre que você briga com o papai
você faz a faxina do século.

LÚCIA — Imagina, eu to só dando uma limpadinha.
Me passa esse esfregão de teto.

DIANA — Mãe, eu posso falar com você rapidinho?

LÚCIA — Claro meu amor. Ih gente, não tem mais
água sanitária!

DIANA — Queria te contar como é que foi.

LÚCIA — Como é que foi o quê?

DIANA OLHA PARA LÚCIA POR UM TEMPO E ELA SE LEMBRA.

LÚCIA — O teste!!!

CORTA PARA:

CENA 6. RUAS DIVERTIDAS. EXT. DIA
BETA ENTREGANDO O TELEFONE DE DIANA NUM PAPEL PARA
BRUNINHO.

BETA — Tá aqui o telefone da sua lourinha.

BRUNINHO — Pô, brigadão. Tu é mó maneira.

BETA — Eu?

BRUNINHO — É. Ajudando a tua amiga a encontrar el
guapito de las chicas.

BETA — É o quê?

BRUNINHO — (PARA SI) Caraca, eu to ficando bom mesmo
no espanhol.

BETA — Sabia que eu admiro gente como você?

BRUNINHO — Gente como?

BETA — Que acredita.

BRUNINHO — Não entendi.

BETA — Tudo bem. Não era pra entender mesmo. Boa
sorte com a Diana.

BRUNINHO — Valeu!

BRUNINHO SAI. BETA FICA ALI RINDO.

CENA 7. CASA DE DIANA. SALA DE DIANA
LÚCIA DIANTE DE DIANA.

LÚCIA — Meu amor, eu me esqueci do seu teste.

DIANA — Tudo bem.

LÚCIA — Desculpa, filhota.

DIANA — Relaxa, mãe. Deve ter sido feia a briga
com o papai.

LÚCIA — Imagina. Insegurança de mulher. Ai, eu
vou te falar, minha filha. Pensa duas
vezes antes de casar com um homem mais
novo. Ainda mais hoje que/ (SE CORTA).
Desculpa de novo.

DIANA — Tem certeza que você não quer falar do
papai?

LÚCIA — Depois a gente fala. Me conta do teste.
Como foi?

DIANA — Bom e ruim ao mesmo tempo.

LÚCIA — Como assim?

DIANA — O teste em si foi muito bom. A gente
sente quando vai bem num teste, né?

LÚCIA — Quando eu era atriz eu acertava todas. Já
saía do teste eu já sabia se tinha
passado. Mas qual foi o lado ruim então?

DIANA — O ator que fez o teste comigo. Melhor
dizendo, não ator.

LÚCIA — Como assim?

DIANA FICA DESPROPOSITADAMENTE IRRITADA.

DIANA — Um idiota. Um ogro. Um surfistinha que
nunca pisou num palco e resolveu que quer
aparecer fazendo teste pra Boladão. É por
causa de gente como ele que dizem que
todo jovem é alienado. Por causa de gente
como ele!

LÚCIA — Nossa, Diana. Quanta raiva. Tem alguma
coisa pro trás disso aí.

DIANA — Alguma coisa por trás?

LÚCIA — Eu te conheço minha filha. Alguma coisa
tá rolando entre você e esse menino. Não
tá?

CENA 8. RUAS JOVENS. EXT. DIA
BRUNINHO JÁ ESTÁ SOZINHO ALI. ELE ESTÁ COM O CELULAR NA MÃO
ENSAIANDO A LIGAÇÃO PARA DIANA.

BRUNINHO — (VOZ GROSSA) Alô, Diana, aqui quem fala é
Bruninho. (DESISTE) Não... (TENTA DE
NOVO/MUITO ANIMADO) Alô, Diana, aqui quem
fala é Bruninho. (DESISTE). Não, meio
over... (SÍLVIO SANTOS) Alo Diana!f
(DESISTE) Nada a ver. (TENTA) Hola Diana!

CORTA DIRETO PARA:

CENA 9. CASA DE DIANA. SALA DE DIANA
LÚCIA DIANTE DE DIANA.

LÚCIA — Me conta Diana. Tem ou não tem alguma
coisa rolando com esse surfistinha?

DIANA — Tem.

LÚCIA — Sabia.

DIANA — Ódio declarado a ogros que não atingiram
a maioridade.

LÚCIA — Diana!

DIANA — Se bem que esse já atingiu. Pior ainda.

LÚCIA — Minha filha.

DIANA — Você nem conheceu esse garoto, mãe.

LÚCIA — Tudo bem, mas do jeito que você fala
parece que ele é...

DIANA — Ele é.

LÚCIA — Você nem sabe o que eu ia falar.

DIANA — Era uma coisa ruim? Então ele é.

LÚCIA — Bom, se você tá dizendo...

DIANA — Chega de falar do ogro. Me fala do papai.

LÚCIA — Ah foi uma bobagem. Você imagina que/

TOCA O TELEFONE DE DIANA. Atenção Sonoplastia: TOQUE DE
TELEFONE

DIANA — Foi mal, mãe. Peraí só um minutinho. (ELA
ATENDE) Alô.

ATENÇÃO. INTERCALAR DIÁLOGOS COM:

CENA 10. RUAS JOVENS. EXT. DIA
BRUNINHO CAMINHANDO E FALANDO AO CEL.

BRUNINHO — Fala lourinha.

DIANA — Quem é?

BRUNINHO — (GALANTE) Já se esqueceu de mim,
chiquita.

DIANA — Hã?

BRUNINHO — É o Bruninho, pô. A gente se conheceu
ontem.

DIANA — Ontem?

BRUNINHO — Meu amigo esbarrou em você. Derrubou teus
Glauber

DIANA — Ah... Sei! O teu amigo.

FECHA EM DIANA IRRITADA.

CENA 11. SHOPPING. EXT. DIA
MARCO ESPERANDO ALGUÉM. GABI CHEGA DO NADA, COMO SEMPRE.
(ELA PODE SURGIR DO CHÃO, DE REPENTE)

GABI — Oi.

MARCO — E aí, Gabi? Nossa nem te vi chegar...

GABI — Como é que você tá?

MARCO — Eu to bem. Fala logo, Gabi. O que é que
você quer comigo?

GABI — Como é que foi o teste?

MARCO — Teste?

GABI — Pra Boladão.

MARCO — Você sabe do teste?

GABI — Eu sou sua namorada. Eu sei de tudo.

MARCO — Eu vou matar o Gastão.

GABI — Por que é que você não me contou do
teste?

MARCO — Por que? Porque você não é mais a minha
namorada.

GABI — Como é que é?

MARCO — Depois de tudo o que você fez ontem é
muita cara de pau tua achar que a gente
vai continuar junto.

GABI — Pois eu acho que você tá enganado.

MARCO — Quem tá enganada é você.

GABI — Você! Eu pensaria duas vezes antes de
terminar o nosso namoro.

MARCO — E eu posso saber por quê?

CENA 12. CASA DE DIANA. INT. DIA
LÚCIA LIMPANDO A CASA ENQUANTO DIANA CONTINUA AO TELEFONE.

DIANA — Quer dizer que você é o amigo do
surfistinha.

ATENÇÃO: INTERCALAR DIÁLOGOS COM

CENA 13. RUAS JOVENS. EXT. DIA
BRUNINHO SEGUE AO TELEFONE.

BRUNINHO — Em carne, osso e gostosura, porque eu sou
pequenininho, mas eu engano.

DIANA — Que maravilha.

BRUNINHO — Sabia que você ia gostar da minha
ligação.

DIANA — Por falar nisso, como é que você
conseguiu meu telefone.

BRUNINHO — Agradeça à sua amiga Beta.

DIANA — Claro, a Beta. Pode deixar que eu vou
agradecer.

BRUNINHO — E aí. Partiu?

DIANA — Partiu? Partiu pra onde, menino?

BRUNINHO — Eu e tu. Lovezinho maneiro. Eu deixo até
você escolher o lugar.

DIANA — Como é que é?

CENA 14. SHOPPING. EXT. DIA
MARCO DIANTE DE GABI. CONTINUAÇAO DA CENA ANTERIOR.

MARCO — Dá pra você me explicar o que é que te
faz pensar que eu vou continuar namorando
com você?

GABI — A gente nunca transou, né Marquito?

MARCO — Foi uma opção nossa.

GABI — E todo mundo sabe que você é o maior
comedor da praia.

MARCO — Gabi, eu não to entendendo aonde você
quer chegar.

GABI — Tem até essa história do Fly agora.

MARCO — Que história?

GABI — Que você anota no seu caderninho preto as
mulheres que você comeu.

MARCO — (SEM JEITO) Você sabe que isso é invenção
do Fly, né?

GABI — Olha, Marco, você sabe que se eu continuo
com você é por amor. É porque existe uma
coisa muito forte entre a gente que eu
não quero perder.

MARCO — Eu sei disso Gabi. Eu também gosto muito
de você

GABI — “As mulheres que você comeu”. O povo é
muito idiota, né?

MARCO — Gabi, é melhor você ser direta e me dizer
aonde é que você quer chegar.

CORTA DIRETO PARA:

CENA 15. RUAS JOVENS EXT. DIA
BRUNINHO AO TELEFONE.

BRUNINHO — Eu quero me encontrar com você.

ATENÇÃO: INTERCALAR DIÁLOGOS COM

CENA 16. CASA DE DIANA. SALA. INTERIOR. DIA
DIANA AO TEL.

DIANA — Só se for pra entregar a quilha do seu
amiguinho.

BRUNINHO — Quê?

DIANA — A quilha da prancha do seu amiguinho
quebrou e eu peguei sem querer no meio
dos meus livros.

BRUNINHO — Ah, saquei.

DIANA — E agora esse troço tá aqui comigo. Não
quero. Dá azar.

BRUNINHO — Tá se fazendo de difícil?

DIANA — Hein?

BRUNINHO — Tudo bem, tudo bem. Eu me encontro com
você pra você me entregar a “quilha” do
Marco. Hoje ainda?(P) Ótimo. Na praia?
(P) Maravilha.(P) Claro que eu sei onde
é. Formou. Tá marcado. Beso, chica.

ELE DESLIGA.

BRUNINHO — Caraca, a lourinha me quer muito.

ATENÇÃO: CENA 15 PROESSEGUE (SALA DE DIANA)

LÚCIA — Quem era, filha?

DIANA — Ai, mãe. Nem vale a pena explicar. Mas me
conta. O que é que aconteceu entre você e
o papai.

NISSO, FERNANDO ENTRA COM UM ENORME BUQUÊ DE FLORES.

FERNANDO — Dá licença. É aqui que mora a mulher mais
gostosa desse mundo?

DIANA — Acho que eu to sobrando!

CENA 17. SHOPPING. INTERIOR. DIA
MARCO DIANTE DE GABI.

MARCO — E aí, Gabi? Você vai ou não vai me dizer
aonde você quer chegar?

GABI — Eu quero continuar com você. Mesmo que o
nosso namoro não seja lá as mil
maravilhas por causa de escolhas minhas e
suas, eu quero continuar com você.

MARCO — Eu já te disse que isso é impossível.

MARCO SE LEVANTA INDO EMBORA E GABI MANDA:

GABI — Ou você continua comigo, ou então todo
mundo vai saber do seu segredo, do grande
comedor de mulheres. E aí? Qual vai ser?

FECHA EM MARCO ASSUSTADO.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 3

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO TRÊS

CENA 1. EMISSORA. SALA DE ESPERA.INTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLITMA CENA DO CAPÍTULO 2

DIANA — Quem é o ator? Que eu vou ter que beijar?

ELA PEGA A LISTA E COMEÇA A OLHAR.

MARTA — O ator que você vai beijar, o ator que
você vai beijar...

NISSO ENTRA MARCO.

MARCO — Oi Marta. Desculpa o atraso!

MARTA — Olha ele aí.

DIANA — Você?

MARTA — Vocês já se conhecem?

DIANA E MARCO MUITO MEXIDOS UM COM O OUTRO.

DIANA — Já.

MARTA — Ué, mas você me disse que nem era ator.

MARCO — Não era, quer dizer, não sou. A gente se
conhece de...

DIANA — Amigos em comum. Nós temos amigos em
comum.

MARTA — Ah, é?

DIANA — É, a Gabi, namorada dele é minha amiga.

MARCO — É?

MARTA — Bom, eu vou deixar vocês resolverem esse
importantíssimo simpósio juvenil enquanto
eu... enquanto eu não faço nada mesmo que
é mais interessante. Daqui a pouco eu
chamo pro teste.

MARTA SAI. FECHA NO OLHAR ENTRE MARCO E DIANA.
CORTA PARA:

CENA 2. PRAIA. EXT. DIA
GASTÃO CONVERSANDO COM UM ALUNO (ZITO).

GASTÃO — Presta atenção, Fly. Se tu bater desse
jeito tu perde velocidade.

FLY - Mas eu não bati!

GASTÃO — Bateu sim que eu vi. Mete uma coisa na
tua cabeça: prancha é que nem mulé: tem
que levar na maciota. A diferença que a
prancha sempre obedece.

PASSA UMA GOSTOSA.

GASTÃO — Em compensação mulher tem peito.

GABI SURGE DO NADA.

GABI — Gastão!

GASTÃO — Oi Gabi! Que susto.

GABI — Susto? Susto porquê?

GASTÃO — É que...

GASTÃO OLHA PARA OS PEITOS DELA E DISFARÇA. ZITO OLHA
FIXAMENTE PARA OS PEITOS DE GABI.

GASTÃO — A gente tava falando de você!

GABI — Bem ou mal?

GASTÃO — E tem como falar mal de uma garota que
nem tu?

GABI PERCEBE QUE ZITO NÃO PARA DE OLHAR PROS PEITOS DELA E
FICA UM POUCO DESCONFORTÁVEL.

GASTÃO — Moleque. Comeu cocô? Rala peito, zito.

FLY — (TARADO) Peito? Ralo mesmo.

GASTÃO DÁ UM CASCUDO EM ZITO QUE SAI CORRENDO.

GABI — E aí? Marquito passou aqui?

GASTÃO — Não, ele tinha uma parada hoje. O teste.

GABI — Teste? Ele só me falou que tinha um
compromisso. Que história é essa de
teste?

FECHA NA CARA DE “PUTA, FALEI MERDA” DE GASTÃO.
CORTA PARA:


CENA 3. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INTERIOR. DIA
MARCO DIANTE DE DIANA

DIANA — Eu sabia que eu não tinha que ter vindo
fazer esse teste.

MARCO — Qual o teu problema hein, garota?

DIANA — No momento, você.

MARCO — Você é sempre chatinha assim?

DIANA — Só quando jovens ogros trombam comigo na
rua derrubando o meu Glauber.

MARCO — Quem é esse tal de Glauber que você tanto
fala?

DIANA — Alguém que você definitivamente não
merece conhecer.

MARCO — Você trombou em mim tanto quanto eu em
você.

DIANA — Já vimos que você conhece bem a lei da
reciprocidade.

MARCO — É lei do quê?

DIANA — Você é muito cara de pau, sabia?

MARCO — Se eu te pedir desculpas você me perdoa?

DIANA — Sem falar naquela... (SE CORTA). O quê?

MARCO — (DOCE) Eu perguntei se você me perdoa. Eu
não quero que você fique com raiva de
mim.

DIANA — (NERVOSA) Não quer? Não quer? Por que não
quer?

MARCO — Por quê? Ah... Por que raiva é que nem
chuva em dia de jogo: não devia existir
nunca.

DIANA — Que bonitinho...

MARCO — Hein?

DIANA — Hã?

MARCO — O que é que você falou?

DIANA — Nada. Eu não falei nada.

CORTA PARA:

CENA 4. PRAIA. EXT. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA 2. GASTÃO DIANTE DA PERGUNTA
DE GABI.

GABI — Você vai ou não vai me dizer que história
é essa de teste?

GASTÃO — Pô, eu não posso Gabi.

GABI — Poxa Gastão.

GASTÃO — O Marco vai me matar.

GABI — (DENGOSA) Me ajuda, vai.

GASTÃO — Te ajudar como?

GABI — Eu já sofro tanto com o Marco.

GASTÃO — Tu sofre, né?

GABI — Muito.

GASTÃO — O que é que ele te faz, conta aqui pro
mestre Gastão.

GABI — Ah... Essas pressões de namorado, sabe?

GASTÃO — (RI FORA DE HORA) Hi hi... O Marco é mó
comedor, né não?

GABI — Quê???

GASTÃO — Desculpa. Eu não queria te ofender.

GABI — Então você sabe, né? Pelo que eu to
passando.

GASTÃO — Saber eu não sei não, mas eu imagino.
(OLHA PRA PRÓPRIA MAO E FALA PRA SI) E
como eu imagino.

CENA 6. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INTERIOR. DIA
DIANA SEM GRAÇA DIANTE DE MARCO.

MARCO — Você ainda não me respondeu.

DIANA — Eu já disse que eu não falei nada.

MARCO — Eu to te perguntando sobre o meu pedido
de desculpas.

DIANA — Ah, claro. (SORRI) Pedido aceito.

MARCO — Sério?

DIANA — Claro! E se você quer saber eu também me
arrependo de ter sido um pouquinho grossa
com você.

MARCO — Caraca, se aquilo era pouquinho...

DIANA — (BRINCA) Não força a barra...

MARCO — Tá bom, tá bom.

OS DOIS RIEM.

MARCO — Tá vendo? Nada como um teste pra série de
TV jovem mais popular do país pra
desfazer um mal entendido.

DIANA — Ah, claro. Sempre que eu brigo com alguém
fico louca querendo dizer umas falas de
Boladão.

OS DOIS RIEM MAIS SOLTOS.

MARCO — Eu preciso te contar uma coisa: eu nunca
fiz uma cena antes.

DIANA — Ué. Como é que a produtora te chamou?

MARCO — Ela me viu na praia.

DIANA — O critério de escalação da televisão é
tão aleatório que é quase dadaísta.

MARCO — Hein?

DIANA — Nada não. To sendo chata de novo. Mas
relaxa. Eu tenho certeza que você vai
fazer um bom teste. Que nós vamos fazer
um bom teste.

MARCO — Por falar no teste...

DIANA — O que é que tem?

MARCO — (CONSTRANGIDO) Tem a cena, né...

DIANA — (TAMBÉM) É... Tem...

MARCO — A gente vai ter que se beijar.

DIANA — (DEIXA ESCAPAR) Ô se vai.

CORTA PARA:

CENA 7. PRAIA. EXT. DIA
GABI SEGUE PIRANHANDO COM GASTÃO.

GASTÃO — Tu jura que não vai dizer pro Marco que
eu te contei?

GABI — Juro.

GASTÃO — Ele foi chamado pra fazer um teste pra
Boladão.

GABI — O Marco! Em Boladão, eu não acredito!!

GASTÃO — A produtora veio aqui atrás de uns
surfistas, viu ele e chamou.

GABI — O meu namorado vai fazer um teste pra
Boladão!

GASTÃO — Mas vocês não tinham terminado?

GABI — Ai, que máximo. Nossa eu to muito
feliz... por ele.

GASTÃO — Que bom.

GABI — E a gente não terminou não. A gente só
deu um tempo.

GASTÃO — Saquei.

GABI — E você?

GASTÃO — Eu o quê?

GABI — Tá sem namorada?

GASTÃO — Pô, to na maior seca, aê. Mijou sentando
e não é sapo eu to comendo. Desculpa, eu
to sendo indelicado de novo.

GABI — Não... Imagina... Eu gosto do seu jeito.
Bom, vou indo. Minha mãe tá me esperando
pra almoçar.

E SAI.

CENA 8. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
ABRE A CENA COM DIANA E MARCO SE ADMIRANDO. MARTA APARECE E
MANDA:

MARTA — Vocês são os próximos a fazer o teste,
fulanos.

E PASSA.

MARCO — Essa Marta é mó figura.

DIANA — Fulanos...

MARCO — Por falar nisso você ainda não me disse o
seu nome.

DIANA — Oi?

MARCO — Eu ainda não sei o seu nome. E nem você
sabe o meu.

DIANA — É verdade.

MARCO — Não dá pra beijar alguém que eu nem sei o
nome, né?

DIANA — É... Não dá.

MARCO — Marco Monte Aquino. Muito prazer.

DIANA — Monte Aquino? Nossa, Monte Aquino é quase
Montecchio.

MARCO — Montecchio?

DIANA — O sobrenome do Romeu. De Romeu e Julieta
eu to estudando no curso de teatro.

MARCO — Pô, maneiro.

DIANA — O meu é Diana.

MARCO — Deusa da guerra.

DIANA — Como é que você sabe?

MARCO — Porque eu não sou só um jovem ogro que
fica derrubando o Glauber de meninas
lindas por aí.

DIANA — Meninas lindas?

MARCO FICA MUITO SEM JEITO.

MARCO — É... De venaquírias.

DIANA — Hã?

MARCO — Prrrrrrrrrrr.

DIANA — Eu não acredito que você fez essa
brincadeira comigo.

MARCO — Foi mal. É que eu fiquei ronronson.

DIANA — Quê?

MARCO — Prrrrrrrrrrr.

DIANA — Marco!

CENA 9. RUAS JOVENS E DIVERTIDAS. EXT. DIA
BETA CANTANDO “PARTY IN THE U.S.A” DE MILEY CYRUS. ELA ANDA
PELAS RUAS COM O IPOD E CANTA MUITO ALTO, MEIO SOLTA,
PODENDO ATÉ FAZER UMAS COREOGRAFIAS ENQUANTO ANDA.

CENA 10. EMISSORA. SALA DE ESPERA. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA 8. DIANA PASSADA DIANTE DE MARCO. ELA
AINDA NÃO ESTÁ PUTA.

DIANA — Eu não acredito que você fez isso.

MARCO — Isso o quê?

DIANA — Essa brincadeira que até meu primo de
oito anos de idade acha infantil.

MARCO — Ah, qualé, Diana.

DIANA — Qualé?

MARCO — Não vai me dizer que tu vai voltar a ser
aquela babaca que tu foi ontem.

DIANA OLHA PARA MARCO COM UMA CARA DE SENTIDA. DETALHAR A
CARA DE CADELA ABANDONADA QUE SÓ A VITÓRIA SABE FAZER.

MARCO — Caraca, foi mal, eu não queria ter falado
isso.

AGORA ELA TÁ PUTA.

DIANA — Você é um ogro mesmo. Bicicleta e
Melancia, eu falei pra Beta. Não tem
jeito.

MARCO — Que?

DIANA - Esquece, você não vai entender, mesmo.

MARCO — Diana, desculpa/

ELE ENCOSTA NELA.

DIANA — Não me toca, surfistinha!

MARCO — Ah, não pode tocar na dondoca?

DIANA — Gente como você devia ser proibido de
tocar até campainha.

MARCO — E gente como você devia ser que nem raiva
e chuva.

DIANA — Hã?

MARCO — Não devia existir!

DIANA — Ai, como você é nojento.

MARCO — Você é que é nojenta.

DIANA — Eu tenho nojo de você!

MARCO — E eu de você!

MARTA APARECE.

MARTA — E aí, pombinhos? Já tão se amando pra
fazer bonito na cena do beijo? Chegou a
hora do teste.

CENA 11. RUA JOVEM E COLORIDA. EXTERIOR. DIA
BRUNINHO QUE ESTÁ CONVERSANDO COM UM GAROTO.

BRUNINHO — To te falando, Fly. O Facebook tá mó
pegação! Ó. Já comi três!

FLY — Tu é mó caozeiro.

ELE VÊ BETA PASSANDO.

BRUNINHO — A amiga da loirinha!

FLY — Que loirinha?

BRUNINHO — Uma loirinha gostosa que ficou me dando o
maior mole. Será que ela tá indo
encontrar com ela? Deixa eu ir pra
descobrir essa parada.

BETA SEGUE ANDANDO E CANTANDO ALTO. BRUNINHO VAI ATRÁS
DELA.

CENA 12. ESTÚDIO. INTERIOR. DIA
DIANA E MARCO DIANTE DE MARTA.

MARTA — Vamo, gente, não tem o dia inteiro não.
Televisão é assim. Fica quatro horas
esperando, mas na hora de gravar não pode
atrasar meio minuto, vai se acostumando.

MARTA SAI.

DIANA — Vamos, surfistinha.

MARCO — Com todo prazer, sua maletinha.

CENA 13. EMISSORA. ESTÚDIO. INTERIOR. DIA
MARTA ENTRA NO ESTÚDIO. DIANA E MARCO A SEGUEM. O DIRETOR
ESTÁ DE COSTAS.

MARTA — Meninos esse é o diretor. Esses são o
Marco e a Diana.

O DIRETOR SE VIRA. ELE É IGUAL A MELCHIOR.

DIANA — Melchior?

BELCHIOR — Belchior. (PARA MARTA) Você não sabe que
eu odeio fazer teste com as aluninhas do
meu irmão?

MARTA — (SORRINDO) Claro que eu sei. Justamente
por isso eu sempre chamo gente de lá.

BELCHIOR — Você também é aluno do Melchior?

MARCO — Não, não.

DIANA — Ele nem é ator.

BELCHIOR — Ótimo! Bem melhor assim. Sem vício.

DIANA — Você é irmão do Melchior?

BELCHIOR — Deu pra notar?

DIANA — Vocês são gêmeos?

BELCHIOR — Mais ou menos. Prepara o set!

DIANA — Mais ou menos? Não entendi.

BELCHIOR — Televisão é assim, garota. Tem muita
coisa que falam e a gente não entende,
mas finge que entende pra não criar
confusão, entendeu?

DIANA — Hã?

BELCHIOR — (PARA ALGUÉM) Vamo logo, doença!

E SAI. DIANA FICA COM CARA DE TACHO. MARTA SORRI
SADICAMENTE PARA DIANA.

MARTA — Boa sorte.

CENA 14. RUAS ALEGRES. EXT. DIA
BETA SEGUE ANDANDO E CANTANDO. BRUNINHO VAI ATRÁS DELA MEIO
SORRATEIRO. ESTÁ SEGUINDO BETA E NÃO QUER SER VISTO. CRIAR
SITUAÇÕES ENGRAÇADAS COMO BRUNINHO ESBARRANDO EM PESSOAS.
SE AGACHANDO QUANDO BETA SE VIRA. ENTRANDO DEBAIXO DE UMA
MESA. DEPOIS DEBAIXO DA SAIA DE UMA MULHER. TUDO PARA NÃO
SER VISTO. BETA SEGUE ANDANDO. E CANTANDO.

CENA 15. EMISSORA. ESTÚDIO. INTERIOR. DIA
BELCHIOR FAZENDO ANOTAÇOES NO TEXTO. DIANA SE APROXIMA
EMPOLGADA. MARCO E MARTA ATRÁS DELA.

DIANA — Cara eu adoro o seu irmão.

BELCHIOR — Que bom pra você, eu acho ele um mala.

DIANA — Melchior e Belchior. Aposto que tem uma
história engraçada por trás disso.

BELCHIOR — Tem: a minha mãe era uma bêbada.

DIANA — Sério?

BELCHIOR — Não sei. Garota, vamo ao que interessa.
Vocês bateram o texto?

MARCO — Bateram o texto?

DIANA — Ele nem sabe o que é isso.

BELCHIOR — Ótimo. Mas se errar uma vez tá fora. Sem
paciência pra iniciante.

MARTA — Já falei pra você não fazer a Suzana.

MARCO — Quem é Suzana?

MARTA — Uma faxineira que trabalhava aqui e dava
muito problema.

BELCHIOR — Vamo gravar?

DIANA — Mas como é que é a cena?

BELCHIOR — (PARA MARTA) Você não explicou pra eles?

DIANA — Ela só falou: “Você tá sentada, o guri
chega, papinho, texto, papinho, beijo na
boca e fim de cena.” Eu queria saber,
como diretor, como você visualizou tudo.

BELCHIOR — Você tá sentada, o guri chega, papinho,
texto, papinho, beijo na boca e fim de
cena.

DIANA — Você definitivamente é muito diferente do
seu irmão.

BELCHIOR — Graças a Deus! Vamo gravar?

CENA 16. RUAS JOVENS. EXT. DIA
BRUNINHO ESTÁ ATRÁS DE ALGUMA COISA PROCURANDO BETA, QUE
SUMIU.

BRUNINHO — (PRA SI) Ué, cadê a gorda?

BETA SURGE DE TRÁS DELE E O PUXA PELA ORELHA.

BETA — Gorda vai ficar a tua orelha depois que
eu estraçalhar a coitada.

BRUNINHO — Ai, ai. Desculpa, eu não queria te
ofender.

BETA — Pra quê que você tá me seguindo, garoto?

BRUNINHO — Eu sou o Bruninho.

BETA — Bruninho?

BRUNINHO — Amigo do Marco. Que esbarrou na tua amiga
aquele dia, lembra?

BETA LARGA A ORELHA DE BRUNINHO.

BETA — E o que é que você quer comigo?

BRUNINHO — Contigo nada. Mas com a loirinha eu quero
muita coisa. Será que dá pra você me dar
o telefone dela?

CORTA PARA:

CENA 17. EMISSORA. ESTÚDIO. INT. DIA
MARCO E DIANA JÁ POSICIONADOS NA CENA. MARTA E BELCHIOR
ATRÁS DE UM MONITOR.

MARTA — Ok, todo mundo pronto?

BELCHIOR — Quer me deixar fazer o meu trabalho? (T)
Ok, todo mundo pronto?

MARCO — Só um minutinho, Belchior.

MARCO ESTÁ MUITO TENSO.

MARCO — Caraca, eu to muito nervoso.

DIANA — Quando você me chamou de babaca você
parecia tão à vontade...

MARCO OLHA PRA ELA IRRITADO.

MARCO — Acho que o meu nervosismo passou.

DIANA — Ah é?

MARCO — Deu lugar à raiva. Aquela que não devia
existir.

BELCHIOR — Dá pra ser ou tá difícil?

MARCO — Vamo lá.

BELCHIOR — Ok. Ação!

DIANA — Eu descobri tudo!

MARCO — Descobriu o quê?

DIANA — Tudo!

MARCO — Não é nada disso que você tá pensando.

DIANA — Você não tinha esse direito.

MARCO — .

DIANA — Eu não quero te ver .

MARCO — Pô... Demorou.

DIANA — .

MARCO — Vitória!

DIANA — O que é que foi, Daniel?

ENTRA MÚSICA: “WHEN I LOOK ATE YOU” DE MILEY CYRUS.

MARCO — Eu sei que eu errei. E eu sei que a gente
é muito diferente. O nosso jeito de ver
as coisas, de pensar a vida, de viver o
mundo. Mas é que quando você fala, parece
que alguém apertou o botão de mudo no
mundo e eu só consigo ouvir a sua voz.
Parece que eu to no alto de uma montanha
russa e o carrinho vai despencar. Ou que
o chão saiu correndo e só ficou você.
Porque é isso que eu quero: Ficar com
você. E quero ficar com você, Vitória.
Fica comigo?

DIANA, EXTREMAMENTE MEXIDA. FECHA EM DIANA MEXIDA.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Bicicleta&Melancia – episódio 2

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

CAPÍTULO DOIS

CENA 1. RUA EXT. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
DIANA E MARCO SE ESBARRARAM. BRUNINHO E BETA ALI. GABI
TAMBÉM.

DIANA — Olha só o que você fez, seu jovenzinho
idiota.

MARCO — Jovenzinho idiota?

GABI CHEGA.

GABI — Idiota sim. E da pior espécie.

BRUNINHO — Aposto que agora você queria tar na
Mongólia.

DIANA — Meu Glauber!

BETA — Gente, quê que tá rolando?

DIANA SE AGACHA PARA PEGAR OS LIVROS.

DIANA — Tá rolando que esse surfistinha “super
maneiro” conseguiu acabar com o meu dia
derrubando os meus livros do Glauber!

BRUNINHO — Glauber?

BETA — Glauber Rocha. A menina é cabeça.

MARCO — Ah, tinha que ser uma cdf que se acha a
última coca-cola do deserto pra falar
comigo dessa maneira.

DIANA — Você derrubou os meus livros!

MARCO — E você derrubou a minha prancha!

DIANA — Quem anda com um troço desse na calçada
tem que prestar atenção!

GABI — Ele não enxerga quem tá na frente dele.

DIANA — Quem é você?

GABI — Eu sou a Gabi, namorada desse mané. Ou
ex-namorada.

DIANA — Sorte a sua.

GABI — Você nem imagina.

MARCO — Quer parar de falar de mim como se eu
fosse um monstro!

GABI — E você não é?

BETA COMEÇA A DANÇAR E CANTAR DO NADA.

BETA — All the single ladies, all the single
ladies!

DIANA — Que isso, Roberta?

BETA — Pra descontrair o ambiente.

DIANA — Eu mereço.

BRUNINHO SE APROXIMA DE DIANA, GALANTE.

BRUNINHO — E você seria...

DIANA — A babaca que tomou um encontrão do seu
amiguinho.

BRUNINHO — E uma linda babaca, devo dizer.

DIANA — Como é que é?

BRUNINHO — E eu sou o Bruninho. Mucho gusto, chica.

DIANA — Mucho gusto?

BRUNINHO — É que eu to aprendendo espanhol.

DIANA — Vambora, Beta. (PARA MARCO) Vambora que
essa ida ao shopping já me deu até dor de
cabeça.

MARCO — Ô garota, você não me conhece pra falar
de mim dessa maneira.

GABI — Ela não, mas eu conheço. E sei muito bem
as dores que você é capaz de causar.

DIANA OLHA PARA MARCO COM UMA EXPRESSÃO DE EU SABIA E SAI
COM BETA.

BRUNINHO — Peraí, lourinha. Eu nem peguei teu
telefone.

GABI — Não dá uma dentro, hein, Marquito.

GABI SAI.

BRUNINHO — Tu viu só? A lourinha me deu mó mole.

MARCO — Ué.

BRUNINHO — Que foi?

MARCO — Cadê a minha quilha?

CENA 2. QUARTO DE DIANA. INTERIOR. DIA
DIANA ESTÁ NA CAMA ENQUANTO BETA ABRE SEU ARMÁRIO E COMEÇA
A TIRAR ROUPAS DE DENTRO.

DIANA — Ai, aquele garoto acabou com o meu dia.

BETA — Relaxa, Diana. A gente acha um modelito
pra você fazer o teste aqui mesmo.

DIANA — Odeio gente que se acha.

BETA — Se bem que com essa velharia que você tem
aqui vai ser difícil.

DIANA — Coitada daquela namorada dele...

BETA — Um xale? Diana você tá dividindo o
guarda-roupa com a tua vó?

DIANA — Beta, quer prestar atenção no que eu to
falando?

BETA — Eu já entendi, gata.

DIANA — Entendeu o quê?

BETA — Você tá irritada com você mesma porque tá
louca de tesão no surfistinha.

DIANA — O quê?

BETA — Ih, gente, eu falei isso em voz alta?
Achei que só tivesse pensado.

CENA 3. CALÇADA. EXTERIOR. DIA
MARCO SENTADO NUMA CALÇADA PERTO DO LUGAR ONDE ROLOU A
TROMBADA. BRUNINHO EM PÉ AO SEU LADO.

BRUNINHO — Vambora, Marco, já faz mais de meia hora
que tu tá aí parado com essa cara de que
perdeu no FIFA Soccer.

MARCO — Eu perdi minha quilha, cara!

BRUNINHO — Depois tu compra outra...

MARCO — Não é assim. A minha prancha é como se
fosse parte de mim, sacou?

BRUNINHO — Que viadagem, moleque. (RI) Parece até a
lourinha falando lá dos livros dela...

MARCO LANÇA UM OLHAR DE ÓDIO PRA BRUNINHO.

BRUNINHO — Desculpa.

MARCO — E a Gabi falando daquele jeito de mim?
Não entendi nada.

BRUNINHO — Ela é a namoradinha virgem do maior
comedor do bairro. Ela tem direito de ser
meio chatinha.

MARCO — Hein?

BRUNINHO — Aliás, chatinha e esquisita. Aquela
mulher sempre aparece do nada! Parece até
filme de terror.

MARCO — Bruninho, tu só fala besteira.

BRUNINHO — (RI) Melhor falar besteira do que tomar
na cabeça de duas garotas no mesmo dia.

MARCO — (PUTO) Quê?

BRUNINHO — Bora jogar FIFA Soccer?

CENA 4. QUARTO DE DIANA. INTERIOR. DIA
CONTINUAÇÃO IMEDIADA DA CENA 2. DIANA INDIGNADA DIANTE DE
BETA. ELA CONTINUA VENDO ROUPAS.

DIANA — O que você disse não tem o menor
cabimento!

BETA MOSTRA UMA CALÇA.

BETA — O que não tem cabimento é essa calça.
Cintura alta em 2010???

DIANA — Eu com tesão naquele... Daniel Radcliff
depois da gripe?

BETA — Tá doidinha nele, amiga.

DIANA — Aquele garoto é exatamente o contrário do
que eu gosto num cara.

BETA — Será? Veste isso aqui.

BETA ENTREGA UMA PEÇA DE ROUPA A DIANA QUE VESTE ENQUANTO
FALA.

DIANA — Ele é clichê do jovem ogro. Grosso, vazio
e...

BETA — Gostoso.

DIANA — Hein?

BETA — Você viu a barriguinha dele?

DIANA — Não, eu vi a arrogância dele.

BETA — Diana, o menino esbarrou em você sem
querer e você tá fazendo esse rebu todo.
Você não acha que tem alguma coisa por
trás disso, não?

TERMINA A CENA COM BETA ENTREGANDO OUTRA PEÇA DE ROUPA PARA
DIANA.
CORTA DIRETO PARA:

CENA 5. RUA. EXTERIOR. DIA
BRUNINHO E MARCO CAMINHAM.

BRUNINHO — Tem certeza que você não quer ir lá pra
casa?

MARCO — Tenho, eu vou passar a tarde com a minha
vó.

BRUNINHO — Essa é a parte ruim de ter os pais
morando na Mongólia.

MARCO — Que isso, Bruninho, eu adoro a minha vó.
Se ela não ficasse aqui comigo nunca que
a minha mãe ia ter me deixado ficar
morando no Brasil.

BRUNINHO — Tá beleza.

MARCO — Eu também preciso estudar pruma parada
que vai rolar amanhã.

BRUNINHO — Que parada?

MARCO — Lembra que eu te falei que eu recebi uma
ligação importante ontem?

BRUNINHO — Lembro. O quê que é?

CENA 6. QUARTO DE DIANA. INTERIOR DIA
DIANA ESTÁ DE COSTAS PARA A CÂMERA. NÃO VEMOS COMO ELA
ESTÁ. BETA TERMINANDO DE VESTIR A AMIGA.

DIANA — E é por isso que essa sua teoria de eu
tar a fim do surfistinha é completamente
furada.

BETA — Furada.

DIANA — Bicicleta e melancia, Roberta. Não é você
que diz? Uma coisa que não tem nada a ver
com a outra? Eu e o surfistinha:
bicicleta e melancia.

BETA — Porque é que você acha que não tem nada a
ver com ele?

DIANA — Já disse: odeio gente que se acha.

BETA — Vindo de você é muito engraçado.

DIANA — Você tá insinuando que eu me acho?

BETA — Não, gata. Eu to afirmando. Mas isso não
é ruim não. Se nessa idade a gente não se
jogar pra cima a gente tá é frita, amiga.

DIANA — Nesse ponto você tem razão. E aí, como é
que ficou o look?

REVELAMOS O LOOK DE DIANA QUE ESTÁ PARECENDO UMA PALHAÇA.

BETA — Ah... Legal.

OUVIMOS LÚCIA DE FORA.

LÚCIA — (OFF) Posso entrar?

DIANA — Não conta do teste pra minha mãe.

BETA — Por quê?

DIANA — Depois eu te explico.(T) Entra mãe!

NISSO ENTRA LÚCIA COM UMA BANDEJA DE LANCHES.

LÚCIA — Oi meninas, eu trouxe um lanchinho pra/
Que isso?

BETA — Look novo da Diana, gostou?

LÚCIA — É... Bem diferente dela, né?

BETA — É talvez eu tenha exagerado um pouco.

DIANA SE OLHA NO ESPELHO.

DIANA — Se você acha que eu vou sair de casa
vestida assim você tá redondamente
enganada.

BETA — Depois a gente conversa sobre isso,
Diana.

LÚCIA — Bom. Vamos lanchar?

DIANA — Vamo! To morrendo de fome.

BETA — Não quero não, Lúcia, obrigada. To de
dieta.

LÚCIA — Dieta?

BETA — Vou ficar tão magra que a Dakota Fanning
vai parecer uma baleia do meu lado.

DIANA — Sério, Beta?

BETA — Claro que não! Eu fazendo dieta? Passa
esse lanche pra cá porque comida de graça
e beijo na boca não se negam nunca!

ELAS RIEM.
PASSAGEM DE TEMPO. IMAGENS CLIPADAS DO RIO AO ANOITECER

CENA 7. CASA DE MARCO. QUARTO INT. NOITE
MARCO DEITADO ESTUDANDO. BATEM À PORTA DO QUARTO.

MARCO — Pode entrar.

BRUNINHO — E aí, Marquito?

MARCO — Demorou, hein?

BRUNINHO — Cheguei faz meia hora, pô.

MARCO — E ficou fazendo o quê?

BRUNINHO — Ouvindo a tua vó contando todos os
momentos felizes que ela teve com o Tob.

MARCO — O cachorro dela que morreu?

BRUNINHO — Ela cismou que eu sou parecido com ele.

MARCO DÁ UMA RISADA.

MARCO — Caraca, pode crer. Tu é igualzinho ao
vira-lata. Cara de um, focinho de outro!

BRUNINHO — Dãaaaaa. (T) Como é que tão os estudos?

MARCO — Maneiro.

BRUNINHO — Te falar uma parada. Fiquei na nóia com
aquela lourinha.

MARCO — É?

BRUNINHO — Até agora não acredito que eu não peguei
o telefone dela.

MARCO — Bruninho tu viu a menina durante trinta
segundos.

BRUNINHO — Tempo suficiente pra ela analisar o
conteúdo do garotão e ficar bem
interessada.

MARCO — Tu acha mermo que ela ficou a fim de tu?

BRUNINHO — Eu tenho certeza meu amigo. E eu vou te
dizer uma coisa. Eu não me importaria de
encontrar com ela de novo.

MARCO — Pois eu me importaria. (DÚBIO) Muito.

CENA 8. CASA DE DIANA. SALA INTERIOR. NOITE
FERNANDO E DIANA SENTADOS À MESA. ELES ESTÃO NUM ÓTIMO
CLIMA, RINDO E ALGUMA COISA. LÚCIA ENTRA COM UMA TRAVESSA.

LÚCIA — Olha o rango!(T) Vocês tão rindo de quê?

DIANA — Confundiram a gente na rua hoje de novo.

LÚCIA — Confundiram?

FERNANDO — Acharam que a gente era namorado.

DIANA — Adoro quando isso acontece!

FERNANDO — Claro! Quem é que não gostaria de ter um
namorado gato que nem eu?

LÚCIA — Ih, convencido. Se você quer saber as
pessoas vivem achando que a gente é irmã.

FERNANDO — Mas disso eu não tenho dúvida. Quem diria
que uma gostosa que nem você ia ser mãe
de uma garota dessas.

E AGARRA LÚCIA.

LÚCIA — Fernando!

DIANA — Ih, mãe. Relaxa. Já disse que eu fico
feliz de ver vocês desse jeito. Estranho
seria se você tivessem uma vida sexual
inativa nessa idade.

FERNANDO — Adoro a sua objetividade, filha.

LÚCIA — Mas o que é que vocês tavam fazendo na
rua?

FERNANDO — Eu cheguei em casa e resolvi levar a
Diana pra dar um rolé.

LÚCIA — Deve ter sido um rolé bem animado.

FERNANDO — Super! Ela nem tá mais esquentando a
cabeça com o tal teste.

LÚCIA — Teste? Que teste?

FERNANDO FAZ UMA CARA DE QUE DEIXOU ESCAPAR ALGO. DIANA
FICA PUTA.

DIANA — Você prometeu que não ia contar!

ELA SAI IRRITADA PRO QUARTO.

CENA 9. QUARTO DE MARCO. INT. NOITE
BRUNINHO VÊ UM CADERNO PRETO NA MESINHA DE CABECEIRA DE
MARCO. TIPO UM MOLESKINE. BRUNINHO PEGA.

BRUNINHO — Olha, o famoso caderninho dando sopa.

MARCO PEGA DE VOLTA.

MARCO — Bruninho já te falei que eu não gosto que
você fique mexendo nesse meu caderno.

BRUNINHO — Você prometeu que ia contar.

MARCO — Contar o quê?

BRUNINHO — O que você escreve aí.

MARCO — Nunca te prometi isso na vida!

BRUNINHO — Tudo bem. Todo mundo já sabe mesmo.

MARCO — Sabe?

BRUNINHO — O Fly já espalhou pra geral.

MARCO — Desde quando o Fly sabe o que eu escrevo
aqui?

BRUNINHO — Como ele descobriu eu não sei. Mas tá
todo mundo sabendo que é aí que você
anota o nome das mulheres que você come.

MARCO — Ué, mas como é que...

BRUNINHO — Qualé, Marco. Ficar fazendo segredinho
pra mim?

MARCO — Eu não to fazendo segredinho.

BRUNINHO PEGA O CADERNINHO DE MARCO. MARCO TENTA PEGAR

BRUNINHO — Vamo ver quem já caiu na tua lábia.

MARCO — Devolve isso aqui Bruninho.

BRUNINHO — Deixa eu ver!

MARCO — Bruninho devolve.

BRUNINHO ENFIA O CADERNINHO NA CUECA.

BRUNINHO — Então vem pegar.

MARCO — Que nojo Bruninho, agora eu vou ter que
desinfetar isso aí.

BRUNINHO — Ué, porque? Eu sou tão cheirosinho. Em
todas as partes do corpo.

TOCA O TELEFONE DE MARCO. ATENÇÃO SONOPLASTIA: TOQUE DE
CELULAR. ELE OLHA O VISOR.

MARCO — Eu não acredito.

CENA 11. CASA DE DIANA. QUARTO. INTERIOR. NOITE
DIANA NA CAMA RECOLHIDA. LÚCIA ENTRA.

LÚCIA — Posso entrar? Filha...

DIANA — Foi bobagem, mãe. Eu não te contei do
teste por bobagem.

LÚCIA — Entende uma coisa, filha: não é porque eu
fui atriz que eu vou querer que você siga
essa carreira!

DIANA — Você largou o papel da sua vida por minha
causa.

LÚCIA — (FORTE) Eu não larguei nada! Eu peguei.

DIANA — Quê?

LÚCIA — Diana, eu vou te contar uma coisa: quando
eu engravidei... eu não queria ter o
filho.

DIANA — Você não queria me ter?

LÚCIA — Não. Eu tinha a sua idade e seu pai era
ainda mais novo!

DIANA — Você pensou em abortar?

CENA 11. QUARTO DE MARCO. INT. NOITE
CONTINUAÇÃO DA CENA 9. O CELULAR SEGUE TOCANDO.

BRUNINHO — Quem é?

MARCO — A Gabi.

BRUNINHO — Não atende!

MARCO — Se você ler o que tá nesse caderninho eu
não sou mais teu amigo!

BRUNINHO — Bichona.

ATENÇÃO. DIVIDIR TELA COM:

CENA 11. LOCAÇÃO. EXT. NOITE
PLANO FECHADO DE GABI AO TELEFONE.

GABI — Oi, Marco.

MARCO — Porque é que você tá me ligando, Gabi?

GABI — Eu preciso te encontrar amanhã.

MARCO — Eu não tenho mais nada pra te dizer.

GABI — Mas eu tenho. Uma coisa muito importante
e garanto que você vai querer saber.

MARCO — Tem a ver com o Fly?

GABI — Como Fly???

MARCO — Deixa pra lá. Amanhã eu não posso Gabi eu
tenho um compromisso.

GABI — O dia inteiro?

MARCO — Gabi, vamo esfriar a cabeça/

GABI — Marco, o que eu tenho pra te contar não
pode esperar. Me liga amanha. Quando você
sair do seu compromisso.

MARCO — Tá bom, Gabi. Tá bom.

ATENÇAO. A CENA PROSSEGUE SÓ NO QUARTO DE MARCO.
MARCO DESLIGA. ELE OLHA PARA BRUNINHO QUE ESTÁ CHEIRANDO O
CADERNINHO.

CENA 12. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INTERIOR. NOITE
LÚCIA DIANTE DE DIANA.

DIANA — Responde, mãe. Você pensou em abortar
quando tava grávida de mim.

TEMPO.

LÚCIA — Pensei, Diana. Mas foi quando eu resolvi.
Eu resolvi que eu ia pegar o que a vida
tava me dando. E tive você.

DIANA — Foi quando você perdeu a sua carreira de
atriz, né?

LÚCIA — Não, meu amor. Foi quando eu ganhei uma
vida nova. Uma vida que eu amo. Naquela
época eu nunca ia imaginar que eu ia ser
feliz como uma mãe de família. E hoje eu
não me imagino vivendo de outro jeito.

DIANA — É que eu quero ser diretora de cinema!

LÚCIA — E eu acho lindo! Eu te garanto que eu não
sou dessas mães que querem se realizar
pela filha. Até porque eu sou realizada!

DIANA — Eu sei...

LÚCIA — Mas deixa a vida te surpreender. Faz o
teste, não faz o teste. Não importa. Só
não perde a capacidade de deixar a vida
te surpreender.

LÚCIA DÁ UM BEIJO EM DIANA E SAI. DIANA OLHA PARA SEUS
LIVROS E OS PEGA. ELA PERCEBE QUE TEM UMA QUILHA QUEBRADA
NO MEIO DELES. ESTRANHA PRIMEIRO. E DEPOIS DÁ UM SORRISINHO
MAROTO.
PASSAGEM DE TEMPO. IMAGENS CLIPADAS DO RIO AO AMANHECER

CENA 12. ESTÚDIO DE TV. INTERIOR. DIA
MARTA ESTÁ COM UMA FICHA NAS MÃOS FALANDO DISPLISCENTEMENTE
COM CANDIDATOS AO TESTE ENQUANTO ANDA.

MARTA — Queridinho, vamo botar um pouquinho de
maquiagem porque espinha no vídeo não é
legal.

ELA PASSA POR OUTRA (PARTICIPAÇÃO).

MARTA — Amor, o teste pra prostituta jovem é só
amanhã.

MENINA — Mas eu não vim fazer teste pra prostituta
jovem. Eu vim pro papel principal.

MARTA — Ah, que graça. (PARA SI) Os produtores de
elenco são realmente muito bem humorados.

NISSO, ENTRA DIANA.

DIANA — Marta.

MARTA — Diana! Que surpresa você por aqui.

DIANA — Ué, mas eu falei pra produtora de elenco
que eu vinha. A sua assistente me passou
o número dela.

MARTA — Eu sei, mas com o seu temperamento eu
fiquei com medo que você mandasse um
grupo de jovens manifestantes no seu
lugar pra quebrar o estúdio.

DIANA — Bom, eu to aqui. Eu só queria saber como
é que é a cena.

MARTA — Basicamente como tá escrito no papel. Não
tem muito mistério. Você tá sentada, o
guri chega, papinho, texto, papinho,
beijo na boca e fim de cena.

DIANA — Beijo na boca?!? Mas isso não tava no
roteiro que a produtora de elenco me
passou!

MARTA — Eu sei, mas o diretor pediu, né? A bicha
hoje tá romântica.

DIANA — Ai, eu não acredito.

MARTA — Ih, já vi tudo. Não gostou da surpresinha
e vai desistir do teste.

DIANA — É que essa surpresinha/

DIANA SE CORTA. PENSA UM POUCO. PASSA NO OLHAR
IMAGENS
DA CENA ANTERIOR.

DIANA — Essa surpresinha não me incomoda nenhum
pouco. Quem é o ator? Que eu vou ter que
beijar?

ELA PEGA A LISTA E COMEÇA A OLHAR.

MARTA — O ator que você vai beijar, o ator que
você vai beijar...

NISSO ENTRA MARCO.

MARCO — Oi Marta. Desculpa o atraso!

MARTA — Olha ele aí.

DIANA — Você?

FECHA NA SUPRESA DE DIANA.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Bicicleta&Melancia - episódio piloto

A partir dessa semana, toda quarta e sexta, vamos postar os episódios da primeira temporada de Bicicleta&Melancia. Com certeza todo mundo tem curiosidade de saber como vem escrito aquilo que vemos prontinho na tv. Have Fun!!

KN PRODUÇÕES
BICICLETA E MELANCIA

criação: Rodrigo Nogueira
direção geral: Jorge Nassaralla

Bicicleta e Melancia Episódio Piloto Pag.: 1


CENA 1 TEATRO. INT. DIA. E PRAIA. EXT. DIA.
DIANA NO PALCO. COMEÇAMOS BEM FECHADO NO ROSTO DELA, SEM
REVELAR QUE ELA ESTÁ NO PALCO. COMO SE DIANA ESTIVESSE
REALMENTE DIZENDO O SEGUINTE TEXTO PARA ALGUÉM. COMEÇA COM
UM CERTO SILÊNCIO. DIANA MEIO EMOCIONADA.

DIANA — O meu inimigo é o seu nome...

CORTE SECO PARA MARCO SURFANDO COM UMA MÚSICA BEM JOVEM.
CENA RÁPIDA. CORTA PARA DIANA NO TEATRO.

DIANA — O que é que existe num simples nome?

CORTA PARA MAIS UMA IMAGEM DE MARCO SURFANDO COM A MÚSICA
AO FUNDO. CORTA PARA DIANA. DESSA VEZ O PLANO VAI ABRINDO E
REVELAMOS QUE DIANA ESTÁ NUM TEATRO.

DIANA — O que chamamos de rosa, sob outra
designação, teria igual perfume?
Continuarias sendo o que és, se acaso
Montecchio tu não fosses.

CORTA PARA MARCO SURFANDO MAIS UMA VEZ COM A MÚSICA AO
FUNDO. CORTA PARA DIANA. MAS DESSA VEZ A MÚSICA QUE ESTAVA
NO BG DAS IMAGENS DE MARCO VAZA PARA A CENA DE DIANA.

DIANA — Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto,
nem parte alguma que pertença ao corpo.
Seja outro nome. Romeu, risca teu nome,
e, em troca dele, que não é parte alguma
de ti mesmo, fica comigo inteira.

TODOS APLAUDEM DIANA. CORTA PARA MARCO NA PRAIA. MARCO
CHEGANDO COM A PRANCHA NA AREIA. UM GRUPO DE SURFISTAS
APLAUDINDO ELE.

GASTÃO — Marco Monte Aquino. Guardem esse nome!

CORTA PARA

Bicicleta e Melancia Pag.: 2

CENA 2 TEATRO. INT. DIA

MELCHIOR CONVERSANDO COM UM ALUNO (FIGURAÇÃO).

MELCHIOR — Então sempre que você estiver dizendo um
Shakespeare você tem que absolutamente...

MELCHIOR VÊ DIANA PASSANDO.

MELCHIOR — Peraí só um minutinho. (CHAMA DIANA)
Diana!

DIANA — (SEM JEITO) Oi Melchior.

MELCHIOR — Só queria te dizer que o que você fez no
palco foi muito tocante.

DIANA — Aquela ceninha?

MELCHIOR — Era Romeu e Julieta!

DIANA — (BRINCA) Jura? Decorei o texto e nem li o
nome da peça.

MELCHIOR — Você sabe que você arrasou.

DIANA — Julieta é uma menina mimada que joga tudo
pro alto por causa de um garoto que veste
uma legging. Não dá pra arrasar fazendo
um personagem bobo desses.

MELCHIOR — (RI) Poucas meninas da sua idade
conseguem fazer um personagem complexo
daqueles com tanta verdade. De boba ela
não tem nada. Nem você.

DIANA — (SEM JEITO) Obrigada, professor.

CENA 3 PRAIA. EXT. DIA

CORTE MUITO SECO E GRUDADO COM A CENA ANTERIOR. MARCO
DIANTE DE GASTÃO.

MARCO — Valeeeeeeeu, mestre!

Bicicleta e Melancia Pag.: 3

GASTÃO — Mas é a mais pura verdade. Do jeito que
você tá voando, tem muita chance no
estadual. E se bobear ainda faz bonito no
brasileiro.

MARCO — Brasileiro? Tu acha mesmo, Gastão? Que eu
tenho chance pra entrar no super surfe?

GASTÃO — Se tem duas coisas que eu conheço bem é
mulé e prancha. E baseado nesses meus
conhecimentos eu digo que você entra.

MARCO — Ihhh. Se o que você conhece de surfe for
igual ao que você conhece de mulher eu
não entro nem pro campeonato de jacaré no
riacho de Nova Iguaçu.

GASTÃO — Mas tu é muito mascarado mesmo, hein
moleque.

MARCO — Aprendi com o mestre Gastão.

GASTÃO — Por falar em mulher, olha aí...

VEMOS GABI APARECER. ELA TEM UM AR SENTIDO E DOCE.

MARCO — Oi Gabi.

CENA 4 TEATRO. INT. DIA

MELCHIOR CONVERSA COM UM ALUNO AO FUNDO, O MESMO DA CENA 2
(FIGURAÇÃO). DIANA O OBSERVA DE LONGE. BETA CHEGA.

BETA — Quer ajuda pra catar teu queixo caído?

DIANA — O Melchior é um gato, né?

BETA — Tenho certeza que o namorado dele também
acha a mesma coisa.

DIANA — Você continua com essa história de achar
que o Melchior é gay?

BETA — Não é história: ele é gay!

Bicicleta e Melancia Pag.: 4

DIANA — Ele é sensível.

BETA — Ele sabe quem é o Zach Effron.

DIANA — E...

BETA — E ele leu o “Crespúsculo”.

DIANA — O que é que tem?

BETA — Diana, pra ler Crepúsculo e saber quem é
o Zach Efron só sendo mulher, jovem ou
gay.

DIANA — Como você é preconceituosa, Beta.

BETA — Realista.

DIANA — Eu odeio o Zach Effron não suporto
“Crepúsculo” e sou jovem...

BETA — Mas você não é normal. O Melchior é.
Normal e gay. Ele e o Zach Effron. Só que
o Zach é uma bichona. O Melchior pelo
menos segura a onda...

NISSO ENTRA MARTA, A PRODUTORA.

MARTA — Dá licença. Você é a Diana?

DIANA — Sou eu mesma.

MARTA — Eu posso conversar com você?

FECHA EM DIANA, DESCONFIADÍSSIMA.

CENA 5 PRAIA . EXT. DIA

GABI DIANTE DE MARCO. GASTÃO AINDA POR ALI.

GABI — Oi Marco.

MARCO — Oi Gabi.

Bicicleta e Melancia Pag.: 5

GASTÃO — Bom, vou puxar, Marquito. (SUPER DUPLO
SENTIDO) Eu vou... passar parafina... na
prancha.

GASTÃO SAI.

MARCO — Quê que você tá fazendo aqui, Gabi?

GABI — Como, o que eu to fazendo aqui? Eu não
posso vir encontrar o meu namorado?

MARCO — A gente não combinou ontem que ia dar um
tempo?

GABI — Eu não agüentei. Eu preciso conversar.

MARCO — Gabi, vamos esfriar a cabeça e depois a
gente conversa.

GABI — Porque é que você tá fazendo isso comigo?

MARCO — Eu fazendo isso contigo???

GABI — Eu vim aqui pra gente se resolver.

MARCO — Depois do que você me disse ontem eu acho
muito difícil a gente resolver qualquer
coisa.

GABI — Eu não vou terminar o meu namoro por
causa de uma questão ultrapassada que nem
virgindade.

MARCO — Eu não disse que a gente vai terminar. Só
disse que eu preciso de um tempo.

GABI — Vamos conversar, Marquito.

MARCO — Não dá pra conversar, Gabi. Não agora.

MARCO SAI. GABI FICA ALI, DESOLADA.

CENA 6. TEATRO. INT. DIA

CONT. DA CENA 4. MARTA DIANTE DE DIANA E BETA.

MARTA — Meu nome é Marta Saad. Eu sou produtora
de elenco de “Boladão”.

Bicicleta e Melancia Pag.: 6

DIANA — “Boladão?”

MARTA — É a série da TV Gl...

DIANA — Eu sei. Aquele programa idiota que trata
os adolescentes como retardados mentais
que só se preocupam com aparência e
pegação.

MARTA — (IRÔNICA) Que bom que você assite.

DIANA — Vi uma vez pra nunca mais.

MARTA — Eu vi a sua cena e queria te chamar pra
fazer um teste pra nova temporada.

DIANA — De “Boladão”? Você tá falando com a
pessoa errada.

MARTA — Eu achei que isso fosse um curso de
teatro.

DIANA — E é.

MARTA — (MAIS IRÔNICA) Ufa, já tava preocupada
por não ter visto a plaquinha de
“conferência de jovens pretensiosos” na
porta de entrada e ter vindo parar no
lugar errado.

DIANA — Eu vou ser diretora de cinema. Eu faço
teatro pra conhecer atores.
MARTA — Você é perfeita pro papel.

DIANA — Eu não sou perfeita porque eu não quero
esse papel.

MARTA — Você disse que quer ser diretora de
cinema?

DIANA — Não. Eu disse que eu vou ser.

Bicicleta e Melancia Pag.: 7

MARTA — Quer oportunidade melhor pra começar a
aprender do que dentro de um estúdio?
Pensa bem, garota. Se você mudar de idéia
tá aqui o meu telefone.

MARTA SAI.

BETA — Falei que você não era normal.

CENA 7. TEATRO. INT. DIA

LÚCIA E FERNANDO NO MAIOR AMASSO.

LÚCIA — Pára, Fernando, tá bem na hora da Diana
voltar.

FERNANDO — Relaxa, a gente ouve o barulho do
elevador chegando no hall.

DIANA E BETA ENTRAM. ELES SE RECOMPÕEM COM MUITA PRESSA.

LÚCIA — (RECLAMA) Não falei?

BETA — U-lá-lá!

LÚCIA — (MUDA O TOM) Não falei, Fernando? Não
falei? Que o meu brinco tava nessa fenda?

FERNANDO — Oi meninas! Subiram de escada?

DIANA — (SE DIVERTE) Como é que você adivinhou?

FERNANDO — Palpite.

LÚCIA — Ainda bem que eu achei o meu brinco.

DIANA — Seus dois brincos tão na orelha, mãe.

LÚCIA COLCOCA AS MÃOS NA ORELHA, SEM JEITO. BREVE SILÊNCIO.
FERNANDO PEGA SUA PASTA, UNS PAPÉIS ALI E SE LEVANTA.

FERNANDO — Bom, eu vou voltar pro trabalho. Já
peguei tudo o que eu precisava.

Bicicleta e Melancia Pag.: 8

PASSANDO POR DIANA E BETA, QUE FALA BAIXINHO PRA ELE.

BETA — Pegou mesmo?

FERNANDO — (SACANA) De noite eu pego o que faltou.

DÁ UMA PISCADELA PRA ELA E SAI. DIANA RI.
CORTA PARA

CENA 8 QUARTO DE DIANA. INT. DIA

DIANA E BETA ENTRANDO NO QUARTO.

BETA — Ai, eu acho o máximo os seus pais. Dando
um mega amasso no meio do dia.

DIANA — Beta!

BETA — Tá bom, tá bom. Se pegando.

DIANA — Vamos ouvir um som?

BETA — Deixa eu adivinhar. The Smiths?

DIANA — Pra quê ouvir outra coisa quando se pode
ter a melhor banda do mundo?

DIANA PEGANDO UM DISCO DO THE SMITHS E COLOCANDO NA
VITROLA.

BETA — Ai, Diana, você podia variar um poquinho
né?

DIANA — Ouvindo o quê, por exemplo?

BETA — Taylor Swift, Justin Bieber, Jonas
Brothers.

DIANA — Não obrigada.

BETA — Você com essa história de ser contra
coisa de jovem.

DIANA — Eu não sou contra coisa de jovem. Eu só
tenho um gosto musical diferente das
pessoas da minha idade.

BETA — Sei.

Bicicleta e Melancia Pag.: 9

OUVIMOS “PLEASE, PLEASE, PLEASE” DE THE SMITHS.

DIANA — Desculpa gata, mas Please, please, please
não se compara a nada que possa sair de
uma banda composta por um trio de garotos
afeminados.

BETA — Você até pode ter razão. Mas por outro
lado nada se compara à bundinha do Nick.
E à do Kevin. E à do Joe.

DIANA — (RI) Você não existe, Beta.

BETA — Existo, amo Jonas Brothers e um dia ainda
vou pegar os três de uma vez. E com creme
chantilly!

CENA 9 SHOPPING. INT. DIA

MARCO E BRUNINHO NA MESA DO SHOPPING. COMENDO UM LANCHE COM
MILKSHAKE. A PRANCHA DE MARCO ESTÁ APOIADA NA MESA.

MARCO — Bruninho, passa o sbrubbles.

BRUNINHO — Quê???

MARCO FAZ BARULHO DE PEIDO COM A LÍNGUA.

MARCO — Prrrrrrrrr.

E RI MUITO.

BRUNINHO — Caraca, Marco, é a terceira vez que você
faz essa brincadeira idiota hoje.

MARCO — E é a terceira vez que você cai nela!
Você não ouviu a gimentshe.

BRUNINHO — Hein???

MARCO — Prrrrrrrr.

E RI MUITO.

Bicicleta e Melancia Pag.: 10

BRUNINHO — Eu vou embora.

BRUNINHO SE LEVANTA.

MARCO — Foi mal. Fica vai. Eu prometo que eu não
faço mais.

BRUNINHO — Não tenho que ficar te aturando, não.

MARCO — Melhor amigo serve pra quê?

BRUNINHO VOLTA A SE SENTAR, ANIMADO.

BRUNINHO — Pra ouvir sacanagem!

MARCO — Hein?

BRUNINHO — Me conta como é que foi com a Gabi ontem?

MARCO — Com a Gabi?

BRUNINHO — É, ué. Ela não ia dormir na tua casa.
Quero saber de todos os detalhes!

FECHA EM MARCO SEM JEITO.

CENA 10. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. DIA.
DIANA TIRANDO FOTOS DE BETA.

BETA — Mas e aí, Diana? Você decidiu se vai
fazer o tal teste?

DIANA — Do Boladão?

BETA — É.

DIANA — Amiga, pensa que eu entrar pro elenco de
uma série daquelas é tão possível quanto
você descer o corredor de uma igreja de
braço dado com o Zach Effron.

BETA — Ia ser o máximo!

Bicicleta e Melancia Pag.: 11

DIANA — Você com o Zach Effron? Mas não é você
que diz que ele é uma bichona?

BETA — Mas não deixa de ser um gostoso. E como
eu disse, eu não sou preconceituosa.

DIANA — Só você mesmo, Roberta.

BETA — Eu acho que você devia fazer o teste,
Diana.

DIANA — Eu quero ser diretora de cinema
justamente porque eu acho que tudo que
tem na mídia hoje trata o jovem como se
ele fosse um idiota.

BETA — Mas pensa no que a produtora te falou.
Você pode aprender lá dentro e mudar o
que você quiser.

DIANA — Se infiltrar no sistema e fazer uma
revolução interna?

BETA — Menos, Diana. Você não vai mudar o mundo.

DIANA — Pode ser que eu não mude o mundo, mas
chamar atenção pros problemas já é um bom
começo.

BETA — Chamar atenção como?

DIANA — Fazendo filmes!

BETA — É mais fácil fazer a coreografia de
“Single Ladies” pelada e postar no
Youtube. Eu garanto que você vai chamar
muita atenção.

DIANA — Quê??

BETA — Beyoncé sempre funciona, gata.

CENA 10. SHOPPING. INT. DIA

CONTINUAÇÃO DA CENA 8. BRUNINHO DIANTE DE MARCO.

Bicicleta e Melancia Pag.: 12

BRUNINHO — Conta logo, Marquito. Como é que foi a
com a Gabi.

MARCO — Pô... Foi maneirão.

BRUNINHO — Comeu?

MARCO — Hein?

BRUNINHO — Conta, vai! Ela tem peitão?

MARCO — Bruninho!

BRUNINHO — Que ela tem peitão todo mundo sabe, mas e
o mamilo?

MARCO — (SE IRRITA) Bruninho...

BRUNINHO — Como é que é o mamilo dela? É rosinha?

MARCO — (GRITA) Bruno!

BRUNINHO — Eu sou curioso.

MARCO — A Gabi é minha namorada e eu não vou
ficar falando da nossa intimidade.

BRUNINHO — Que saco!

MARCO — Quer mudar de assunto?

CORTA DIRETO PARA:

CENA 11. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. DIA

BETA E DIANA.

DIANA — Quer mudar de assunto?

BETA — Eu acho que você deveria fazer esse
teste.

DIANA — Eu quero ser diretora de cinema.

BETA — E...

DIANA — Pra que é que eu vou virar atriz de
televisão.

Bicicleta e Melancia Pag.: 13

BETA — Bicicleta e Melancia, Diana.

DIANA — Hein???

BETA — Bicicleta e Melancia. Uma coisa não tem
nada a ver com a outra. Fazer o tal
programa não vai te impedir de ser
diretora. Pode até ajudar...

DIANA — É... Você tem razão. Eu só tenho medo de
ficar perpetuando essa imagem de
adolescente vazio sem nada na cabeça.
Desses que só pensam em balada e surfe.

CENA 12. CASA DE DIANA. QUARTO DE DIANA. INT. DIA
CONT. DA CENA 10.

MARCO — Vamo pra night hoje?

BRUNINHO — Vai rolar o quê?

MARCO VAI RESPONDER. E BRUNINHO CORTA.

BRUNINHO — Precisa dizer não. Se tem mulé eu to
dentro. Vem cá. E teus pais, hein?

MARCO — Ah, ligaram ontem. Bate mó saudade.

BRUNINHO — Qual o nome da cidade mesmo onde eles tão
morando?

MARCO — Ullan Bator, Mongólia.

BRUNINHO — Eu ia adorar morar num lugar diferente
assim.

MARCO — Só tu mermo pra gostar de morar no único
país da Ásia que não tem saída pro mar e
os habitantes são tudo um bando de
mongol.

BRUNINHO — Tem mais coisa na vida além de surfe.

MARCO — Eu sei. (T) Só não é tão legal.

Bicicleta e Melancia Pag.: 14

BRUNINHO — Você acha que entra no campeonato?

MARCO — O Gastão acha que sim. Mas aconteceu uma
parada meia hora atrás que pode mudar a
minha vida.

BRUNINHO — Sério? Me conta!

MARCO — Quando eu tava vindo pra cá. Me ligaram
da...

MARCO VAI FALAR. NISSO APARECE GABI.

MARCO — Oi Gabi.

ELA PEGA O MILKSHAKE QUE ESTÁ EM FRENTE A MARCO E JOGA NA
CABEÇA DELE.

GABI — Já que não dá pra conversar, eu resolvi
agir.

E SAI.

MARCO — (SEM ENTENDER) Hã????

BRUNINHO — Prrrrrrrrrr.

CENA 13 RUAS. EXT. DIA

DIANA E BETA ANDANDO LADO A LADO. DIANA CARREGA UNS LIVROS.
NA TELA VEMOS AS MENINAS ANDANDO DA ESQUERDA PARA A
DIREITA. CAM EM TRAVELLING ACOMPANHA AS DUAS.

DIANA — Eu não acredito que eu to indo prum
shopping! Eu acho que eu não entro num
shopping desde mil novecentos e noventa e
oito.

BETA — Ainda bem que você tem uma amiga de bom
gosto pra te ajudar.

DIANA — Já disse que eu topo tudo, menos saia.

Bicicleta e Melancia Pag.: 15

BETA — Diana, assim vai ficar difícil escolher
uma roupa pra você fazer o teste, né?

DIANA — Ai, esse teste...

BETA — Se você falar que tá pensando em desistir
eu enfio esses teus livros pela boca.

DIANA — Eu não vou desistir. Mas também não quero
ir vestida feito uma...

BETA — Jovem? Ai, meu pai... Eu to a um passo de
te dar um unfollow no twitter!

CENA 9 RUAS. EXT. DIA

MARCO E BRUNINHO ANDANDO LADO A LADO. MARCO CARREGANDO A
PRANCHA E TODO MELADO DE MILK SHAKE. NA TELA, VEMOS OS
RAPAZES CAMINHANDO DA DIREITA PARA A ESQUERDA. CAM
ACOMPANHA OS DOIS EM TRAVELLING.

BRUNINHO — Caraca, Marco, tu deve ter aprontado feio
com a Gabi, hein.

MARCO — Chega Bruninho.

BRUNINHO — O que é que tu fez?

MARCO — Já disse que eu não vou falar nesse
assunto.

BRUNINHO — Peidou? Bebeu? Traiu?

MARCO — Bruno!

BRUNINHO — Tu quis comer e ela não quis dar!

MARCO DE SÚBITO PÁRA E SE VIRA PARA BRUNINHO.

MARCO — Se você não calar a boca eu vou enfiar
essa prancha no teu/

*DIVIDE TELA COM*

CENA 14 RUAS. EXT. DIA

Bicicleta e Melancia Pag.: 16

MARCO E BRUNINHO CAMINHANDO LADO A LADO (DA DIREITA PARA A
ESQUERDA) E BETA E DIANA FAZENDO A MESMA COISA (DA ESQUERDA
PARA A DIREITA). TELA DIVIDIDA. OS DIÁLOGOS DEVEM SER
GRAVADOS PARA SE ENCAIXAR EXATAMENTE COMO SEGUE NO TEXTO A
SEGUIR.

DIANA — Ai, Beta, sem tergiversões...

MARCO — Tu para de frescura, moleque.

BETA — Tergiversões?

DIANA — É...

BRUNINHO — Eu só to perguntando como foi com a Gabi.

BETA — To só tentando te dar um toque de amiga.

MARCO — Eu não vou falar da Gabi!

DIANA — Eu não preciso desse tipo de toque.

BETA — Você é adolescente!

DIANA — Ser adolescente não significa agir que
nem uma idiota.

BRUNINHO — Tu é mó otário.

MARCO — Se tu continuar com me enchendo eu vou te
dar um coió que tu vai parar lá na
Mongólia.

DIANA — E se você insistir nesse assunto eu
realmente vou preferir a companhia dos
meus botões.

BRUNINHO — Tu nunca não fala nada pra mim!

BETA — Você nunca me ouve!

BRUNINHO — Se tu é meu amigo você vai ter que me
contar o que rolou com a Gabi.

BETA — Se você não aceitar meus conselhos eu vou
deixar de ser sua amiga!

Bicicleta e Melancia Pag.: 17

DIANA — (JUNTO COM MARCO) Me deixa em paz!

MARCO — (JUNTO COM DIANA) Me deixa em paz!

OS DOIS TROMBAM. *FIM DA DIVISÃO DE TELA.* OS LIVROS DE
DIANA CAEM E A PRANCHA DE MARCO TAMBÉM. DIANA FURIOSA.

DIANA — Olha só o que você fez seu... seu...
jovenzinho idiota!

MARCO — Jovenzinho idiota???

NISSO, APARECE GABI.

GABI — Idiota sim! E da pior espécie.

DIANA COM CARA DE “NÃO DISSE”. GABI FURIOSA.

BRUNINHO — Aposto que agora você queria tar na
Mongólia...

FIM DO EPISÓDIO PILOTO.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Ponto de Fuga

Confiram um pedacinho da peça Ponto de Fuga, do Rodrigo, que está em cartaz no teatro Maria Clara Machado.



Cena 2
Luzes. Cenário: quarto de Dominique ( músico). Ele se levanta assustado de uma cama enquanto Irmã entra espevitada no quarto falando sem parar. Com alguma ação. Ela pode ir dobrando algumas roupas. (Essas roupas vão ser usadas pelo marido na cena 3).

Irmã: Acorda, Dominic. Nossa senhora. Tem dormido mais que a cama. Lembra disso? A vovó. Louca, né? Às vezes eu sinto falta dela. Mas era sempre isso. Dormiu mais que a cama, não tá no gibi, será o Benedito, fulana cozinha pedra em santo, eu conheço o meu eleitorado. Eu conheço o meu eleitorado. Era um monte, lembra? Fulana cozinha pedra em santo era ótima. Quantas sofreram. Perdi a conta. Titia coitada. Era muita titia que cozinhava pedra em santo. Eu nunca consegui entender. Você já parou pra pensar?

Dominic: O quê?

Irmã: Você não tá ouvindo o que eu to falando Dominic?

Dominic: Das nossas tias.

Irmã: Claro que não. Dominic? Eu lá vou ficar falando de titia?. Mas será o benedito? Odeio esse nome. O que tem de aluno meu me chamando de titia não tá no gibi. Se eu não cozinhasse pedra em santo eu ia ser cozinheira. Empgragada até. Tudo menos professora só pra não ser ser chamada de titia. Titia, titia, vovó, Dominique. Eu to falando da vovó. Você tem andado muito esquisito ultimamente. Ai que frase estranha. To parecendo até ela. Mas é verdade, Dominic. Verde. Você tá verde. Lembra daquela sala de estar que a gente tinha quando a gente morou no Peru. Lima, lembra? Era branca, né? À primeira vista era branca, mas se depois você comparava com um branco, branco mesmo, o branco de uma camisa ou chemise, de uma meia soquete, um vestidinho de algodão, sei lá, até de plástico dava pra ver que era verde. Era verde. Um verde clarinho, mas verde que parecia branco quando a gente não comparava com nada. Entrava na sala era branco. Mas quando botava o branco do lado virava verde. Era muito engraçado. Mas era verde. E você tá assim. Que nem a parede da sala de TV na casa do Peru.

Dominic faz uma reação bem típica dele. Pode ser uma virada de cabeça. Ela nem vê.

Irmã: Engraçado. Eu falei da vovó e nem falei do papai e da mamãe. Não sei por quê? Não sei porque isso. Até parece, né? (Ri). Até parece que eles foram pais sociais. Sei lá. Jantar fora, coquetel, recepção. Mas tinha, né? Muito momento. Muito momento bom. Ai, eu me lembro daquele barbeador elétrico. Nossa. Gigantesco pra época, mas era muita novidade. O papai tratava aquilo de um jeito. A gente nem podia chegar perto.Tinha trazido dos Estados Unidos numa daquelas viagens. E era meio primitivo. Tinha uma parte que não podia encostar porque dava choque. Eles entraram no quarto bem na hora que eu tomei. Era um horror. Eu não entendia porque eu não conhecia choque. Criança, né? Não sabia que aquele negócio que eu sentia encostando no, no, no, no, no, no... barbeador era choque. E engraçado que era ruim, claro. Tomar choque é ruim. Mas não era. Enfim. Porque eu não sabia o que era então não era. Enfim. Eu também sinto falta deles, claro. Por que eu não sentiria. Até parece. Eu gostava muito. Eu gostava muito do papai e da mamãe. (se convencendo). Eu gostava muito do papai e da mamãe. E você?

Pausa

Dominic: Você tá perguntando se eu gostava do papai e da mamãe?

Irmã: É.

Vai questionar Irmã mas desiste.

Dominic: Gostava. Eu sempre gostava.

Irmã: Ai que bom. A gente sempre foi uma família feliz. Ih, gente. Olha aí. Frase estranha de novo. Não sei o que tá acontecendo comigo hoje. Louca que nem a outra. Levanta Dominic. (E se senta do lado dele) Que agonia! Ô Dominic. O que é que tá acontecendo? Você tá verde. Tem alguma coisa acontecendo que você quer me falar? Você tá com algum problema? Como é que tão os ensaios?

Dominic: Bem.

Irmã: (Em cima) Ah, que ótimo. Eu já tava achando que era problema nos ensaios. Problema com trabalho. Mas também se fosse, resolvida. O que não tem solução, solucionado está.

Dominic: De novo.

Irmã: O quê?

Dominic: Você usou uma frase da vovó. De novo.

Irmã: Usei. Nem percebi. E a peça?

Dominic: O que é que tem a peça?

Irmã: Já terminaram?

Dominic: Ainda não.

Irmã: Que ótimo. Sinal de que tem coisa por aí, né? Então vamos levantar tomar um café, botar um rouge nessa cara pra tirar essa cor de parede de sala de estar do Peru. Brincadeira. Ah, sabe do que eu tava me lembrando? Da vovó. Aquela música que a vovó cantava pra gente quando eles tavam viajando?

Dominic: Música.

Irmã: É. Sempre que ela ficava com a gente quando o papai e a mamãe viajavam. Tinha uma música lembra?

Dominic: O que é que tem?

Irmã: Pode te ajudar com a sua peça.

Dominic: Porquê?

Irmã: Não sei. Ela era tão bonita. De repente pra animar os ensaios.

Dominic: É. Pode ser.

Irmã: Qual que é essa mesmo?

Dominic: Essa o quê?

Irmã: Essa peça que você tá compondo.

Dominic: O que é que tem?

Irmã: É sinfonia? Não, sonata?

Dominic: Fuga. A peça é uma fuga.

Irmã: Orquestra ensaiando uma fuga.

Dominic: Fuga a duas vozes.

Irmã: Eu nunca te vi ensaiar sem antes terminar a peça. Sempre compunha a peça inteira e depois levava pra orquestra. Mas muda, né? Tudo muda. As coisas vão mudando, as pessoas vão mudando, banco de praça mudando, sinal muda muito também. Mão de rua às vezes é uma loucura. E aqueles prédios loucos que surgem do nada, muda tudo. Paisagem muda tudo.

Dominic: E você?

Irmã: O quê?

(pausa)

Dominic: Eu perguntei de você.

Irmã: O que é que tem eu?

Dominic: Como é que você tá?

Irmã: Eu to bem. Por que é que eu não taria?

Dominic olha para Irmã. Ele diz tudo no olhar. Tipo... Tudo. Ela fica um pouco incomodada.

Irmã: (olha pro lado) Nâo entendo pra quê cinzeiro no quarto se você não fuma...

Irmã pega o cinzeiro e vai saindo. Dominic a para.

Dominic (dúbio): Como é que ele era?

Irmã: Ele quem?

Dominic: A música? Como é que era a música?

Irmã meio paralisada canta para Dominic. Ele se emociona. Mas não por causa da música. E sim por causa da ausência dela. (Como mostrar isso sem texto?).

Irmã: Dominic. O que é que foi? É a música.

Dominic: Não. Exatamente o contrário.

Irmã: O que?

Dominic: Eu sei que você sente muita saudade dele.

Irmã: Você tá falando da vovó?

Dominic: Apaga a luz quando sair.

Irmã: Mas você acabou de acordar!