sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sobre a verdade

Homem: Uma gota. Verde. Era uma gota verde. Só isso. Uma gota – líquida, claro, na medida que se pressupõe que todas as gotas sejam líquidas – só que verde. Um verde assim… verde, sabe? Sabe verde? Sabe quando a gente é criança e pensa no verde? Quando você é criança, verde é verde. Depois você cresce e começa a surgir o verde piscina, verde musgo, verde oliva, verde claro, verde escuro, verde bandeira. Mas quando você é criança e pensa no verde, vem aquela cor sólida e única. Aquela cor verdadeira. Sem variação. É aquilo e ponto. Então. Essa gota tinha esse verde que eu to falando. O verde verdade. O verde que a gente pensa quando é criança. Verde verdade. E eu fiquei catatônico quando eu vi essa gota verde verdade. Por que ela era. Ela era! Só isso, ela era. Quando você vê uma gota vermelha ela pode ser sangue. Amarela, urina. Laranja, suco. Preta, sujeira. Mas a gota verde não. Você não pensa em nada. Só na gota. E ainda mais com esse verde. Ela era uma gota verde verdade. E eu olhava praquela gota. Eu olhava praquela gota. Foi a primeira vez. A primeira vez que eu parei de pensar. Era só sentido. Era só ser. Éramos eu, a gota e o mundo. Mas sem essa divisão que eu to falando agora. Era só uma coisa só. Era a verdade. A verdade. E eu vi e era ao mesmo tempo. Eu vi a verdade. Foi por muito pouco tempo, mas eu vi a verdade. E ela era verde.

Um comentário:

Anônimo disse...

Verdade.