domingo, 4 de julho de 2010

Prólogo

Abre a cena com Lisa e Patrick lado a lado, de frente para o público, sentados no chão em silêncio. um clima forte e estranho. os dois ficam um tempo olhando um pro outro como se quisessem dizer alguma coisa (mas sem fazer esforço pra demonstrar). patrick, então, escreve algo num papel, dobra e passa para lisa. lisa abre, lê e fecha. escreve algo de volta e passa para patrick. patrick repete as ações e devolve um papel para lisa. ela abre e lê, quando vai escrever de novo pra ele, quase chorando, vem michel da platéia, fumando um cigarro com um turbante na cabeça, um robe meio gay aberto. ele está pelado e com umas pérolas em volta do pescoço. anda e fala displicentemente quebrando totalmente o “clima” da cena.

Michel: Beijos roubados. (T) Beijos roubados não. Beijos proibidos, porque beijos roubados é o título original em francês “baiser volées”. Ah, e como o filme foi chamado em Portugal também.

lisa quebra também e fala em clima de competição. todo esse diálogo deve ser muito fluente, como se fossem os atores falando entre si.

Lisa: Falou beijos roubados primeiro. Falou primeiro.

Patrick: É verdade, falou primeiro.

Michel: Eu corrigi logo em seguida.

Lisa: Não interessa, vai ter que pagar.

Michel: (segura no pau) Paga aqui, ó...

Lisa: Grosso.

Patrick: Você não era assim.

Lisa: É verdade. Não era.

Os dois se aproximam.

Michel: Beijos proibidos, François Truffaut, 1968. Terceiro filme do Truffaut com o personagem Antoine Doinel como protagonista. Antoine, que era um alter-ego do Truffaut, apareceu pela primeira vez nos “Incompreendidos” como criança e depois no curta “Antoine e Colette”. Beijos probibidos é uma espécie de continuação desse curta.

Patrick: Continuação desse curta?

Michel: Continuação desse curta.

Lisa: Continuação, prólogo ou epílogo, peu m’importe: errou o título e vai ter que pagar.

Michel: Já te falei, paga aqui.

lisa se levanta veemente.

Lisa: Então tá.

silêncio. michel fica sem jeito

Lisa: Eu pago. (T) Me ajuda, Téo?

Michel: Téo???

Patrick (fala para lisa, calmo): Se você quiser. Você quer, Mateus? (olha para ele).

Michel: Eu quero? Eu quero o quê? O quê que eu quero?

Os dois começam a andar em direção a michel que fica extremamente acuado e nervoso. começa a falar do nada.

Michel: Nos “incompreendidos” o Antoine Doinel era uma criança que sofria muito e mentiu na escola dizendo que a mãe morreu pra justificar porque ele faltava tanto.

lisa e patrick continuam andando.

Michel: No curta “Antoine e Colette” o Antoine Doinel aparece mais jovenzinho que começa a ter um relacionamento amoroso com uma moça.

Patrick: Com uma moça? Olha! Que interessante.

e voltam a acuar Michel.

Michel: Já o Beijos Roubados é um filme totalmente diferente. Totalmente diferente porque é leve, engraçado, que tem aquela música “Que reste-t-il” do Charles Trenet e não tem muita história. O Truffaut fica só seguindo a vida do Antoine sem dar muita importância pros acontecimentos. Muita gente critica esse filme dizendo que tem que acontecer alguma coisa. É filme! Não pode ser só uma história simples de cotidiano e vida...

Lisa: É. Não pode, né? Tem que acontecer alguma coisa.

Patrick: Tem que acontecer alguma cosia.

Lisa: Se não acontece nada, qual é a graça?

os três fazem um longo silêncio. e não acontece nada. patrick e lisa que estavam, até então, acuando Michel param e Michel também para de “fugir” deles. depois de algum tempo de nada, lisa irrompe.

Lisa: Vai pagaaaaaaar!

lisa e patrick, como loucos, saem gritando atrás de michel que foge deles, meio pelado. os três somem de cena. entra “que reste-t-il” de Charles Trenet. no telão surge a seguinte sequência de imagens:

1) Filme “beijos proibidos”, os dois trocam bilhetes, como na primeira cena

2) Filme “beijos proibidos”, cena divertida de Antoine

3) Filme “beijos probidos”, um dos primeiros takes, porta da cinemateca fechada

4) imagens de arquivo, porta da cinemateca fehcada “de verdade”

5) imagens de arquivo, violência na frança em maio de 68

6) imagens de arquivo, violência no Brasil em maio de 68

tudo ao som de “que reste-t-il”. as imagens vão ficando violentas mas a música faz um contraponto. a música sempre volta a partir de um certo ponto.

CENA 1

Agora tem que ver a peça!!!

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