quinta-feira, 8 de março de 2012

OBITUÁRIO IDEAL – Cena 7

296197_2527808071580_1144789244_3120344_226539581_n  Voz do locutor: A apresentadora infantil porto-riquenha Lila foi encontrada morta na manhã desta sexta-feira no rancho temático de Tomorrowland, a duzentos quilômetros da cidade de Los Angeles. O corpo de Lila foi achado por uma empregada dentro de sua piscina de barbies. Segundo as primeiras informações, Lila estava sem o braço direito e a perna esquerda e teria sangrado até a morte. Os primeiros relatos dão conta de que a própria apresentadora teria cortado os seus membros com uma serra elétrica e tinha a intenção de substituí-los por metralhadoras plásticas.

MULHER ESTÁ LIMPANDO UM PEIXE NERVOSA. O HOMEM CHEGA POR TRÁS E A ABRAÇA.

Homem: Oi, meu/

ELA DÁ UM SOBRESSALTO E APONTA NATURALMENTE A FACA PARA ELE.

Mulher: Onde é que você tava?

Homem: No trabalho.

Mulher: Eu fiquei te esperando a tarde inteira.

Homem: Eu tava no trabalho.

Mulher: Você disse que hoje ia faltar.

Homem: Eu não consegui dispensa.

Mulher: Você disse que hoje ia faltar.

Homem: Você tá bem?

Mulher: Eu to um pouco nervosa.

Homem: Eu to percebendo.

Mulher: Eu não to bem.

Homem: O que é que você tem?

Mulher: Eu to me sentindo sufocada.

Homem: Eu to percebendo.

Mulher: Eu não sei o que fazer.

Homem: Fica calma.

Mulher: Eu preciso me acalmar.

Homem: Fica.

Mulher: Eu to precisando.

Homem: Eu to aqui.

Mulher: Esses últimos dias eu não tenho sido.

Homem: Tá tudo bem.

Mulher: E eu não sei como é que eu faço.

Homem: Eu vou te ajudar.

Mulher: Me ajuda?

Homem: Fica tranquila.

Mulher: A gente tá precisando.

Homem: Eu também acho.

Mulher: Mudar as coisas.

Homem: Mudar.

Mulher: Alguma saída.

Homem: Isso.

Mulher: Se renovar, na verdade.

Homem: Isso!

Mulher: Mudar, mudar e renovar.

Homem: Meu amor.

Mulher: O que é que você acha de sinagoga?

Homem: Hein?

Mulher: Frequentar umas sinagogas. Deve ter velório em sinagoga.

Homem: Eu não to te entendendo.

Mulher: Mãe judia chora grave.

Homem: O quê?

Mulher: Mais chance de ser contaminado pelo choro.

Homem: Eu não acredito.

Mulher: Olha isso.

Homem: O quê que é isso?

Mulher: Credencial de acesso ao IML.

Homem: Hã?

Mulher: Uma amiga minha do hospital conseguiu.

Homem: IML?

Mulher: Eu sei que não tem velório mas eu pensei que talvez faça a gente sentir.

Homem: Do que é que você tá falando?

Mulher: O corpo vai tar ali na nossa frente.

Homem: No IML.

Mulher: E sem maquiagem.

Homem: Na nossa frente.

Mulher: Frio e cru.

Homem: Do que é que você tá falando?

Mulher: Mais vivo do que nunca.

Homem: Eu não vou ao IML.

Mulher: A gente precisa de mais.

Homem: De mais nada.

Mulher: Precisa.

Homem: A gente não precisa de mais nada.

Mulher: Os enterros.

Homem: Para com isso.

Mulher: Não são suficientes.

Homem: Chega.

Mulher: E eu quero mais.

Homem: Tenta se ouvir.

Mulher: Você tem que me ouvir.

Homem: Eu quero parar.

SILÊNCIO

Mulher: O quê?

Homem: Eu quero parar de ir aos enterros.

Mulher: Você não pode fazer isso.

Homem: Você tá doente.

Mulher: A sua blusa tá suja.

Homem: Você precisa parar.

Mulher: Eu preciso lavar.

Homem: Me escuta.

Mulher: Pro enterro de amanhã.

Homem: Não vai ter enterro.

Mulher: Você pode tirar pra eu lavar?

Homem: Você vai ter que parar.

Mulher: Me dá a sua roupa.

Homem: O médico.

Mulher: Me dá a sua roupa.

Homem: Você precisa ir ao médico.

Mulher: Eu não vou parar.

Homem: Você precisa ir ao médico.

ELA COMEÇA A TIRAR A ROUPA DELE VIOLENTAMENTE. AOS POUCOS A VIOLÊNCIA VAI VIRANDO SEXO.

Mulher: Me dá sua camisa.

Homem: Alguma hora não vai.

Mulher: A calça também.

Homem: O choro grave.

Mulher: Quase não tem mais roupa preta.

Homem: Você não vai conseguir o choro grave.

Mulher: Precisa comprar.

Homem: Vai morrer tentando.

Mulher: Tira essa roupa.

Homem: Tenta me ouvir.

Mulher: Eu quero.

Homem: Você não pode.

Mulher: Me dá a sua calça .

Homem: Você vai parar.

Mulher: Agora.

Homem: O enterro já não é.

Mulher: Me dá agora!

Homem: E não vai ser mais.

Mulher: Tira!

Homem: Para!

Mulher: Tudo.

Homem: Cala a boca!

SILÊNCIO.

Mulher: O que?

Homem: Cala boca e me escuta.

Mulher: O que é que/

Homem: Me escuta, me escuta e me ouve. Acabou. A história dos enterros. Acabou.

SILÊNCIO

Mulher: E a gente?

Homem: A gente continua. Mas eu nunca mais piso num cemitério. Só morto.

Mulher: A gente não continua.

Homem: Se você quiser, a gente continua.

Mulher: Não é mais a mesma coisa.

Homem: Não é. Mas a gente faz outra.

Mulher: Qual é a graça?

Homem: O quê?

Mulher: Essa vida. Qual é a graça?

Homem: A graça é tentar.

Mulher: Eu não quero mais assim. E isso não é minha loucura. Isso não é minha doença. Você sabe. Isso não é minha doença. Quando a gente tá nos enterros as coisas são. A gente sente e as coisas são.

Homem: Mas aqui fora elas também podem ser.

Mulher: É muito difícil.

Homem: Mas é possível.

Mulher: É muita coisa.

Homem: O quê?

Mulher: É muita coisa. É muita gente. É muito aparelho. É muita ligação. É muita letra. É muita música. É muita imagem. É muito rápido. O tempo todo. (pausa) É tudo muito o tempo todo. E na hora dos enterros. Quando a gente chora e sente. Parece que tudo para. E a gente só é. Não é pouco, nem muito. Nem gente, nem aparelho. Nem letra, nem música. A gente só é.

Homem: Mas não dá pra só ser. Tem que ser e não ser. No meio de tudo. Essa é que é a questão. E é isso que eu quero.

ELA ENTREGA UM ENVELOPE PARA ELE.

Homem: O quê que é isso?

Mulher: Eu fui ao médico.

Homem: Isso é um exame?

Mulher: Abre e vê.

Homem: Mas que exame é esse?

Mulher: Abre e vê.

O HOMEM ABRE O ENVELOPE E LÊ. NÃO DENUNCIA NO ROSTO O QUE É.

Homem: É sério isso?

Mulher: É um exame.

Homem: Quanto tempo?

Mulher: O quê?

Homem: Semanas, meses? Te deram algum tempo?

Mulher: Três meses.

SILÊNCIO.

Mulher: Você não vai falar nada?

Homem: Eu não sei como reagir. Eu não sei o que te falar. Eu não sei mais o que sentir.

Mulher: Me deixa te amar?

Homem: Eu to aqui.

Mulher: Mas de verdade. Do jeito mais forte.

Homem: O quê?

Mulher: Quando eu vi aquela mãe chorando pelo filho no caixão. Aquele amor que ela tinha por ele. Eu queria poder ter esse amor por você. Esse amor puro. Esse amor ideal.

Homem: O que é que você tá me pedindo?

Mulher: O choro grave.

Homem: O quê?

Mulher: Pra quê continuar, Rodrigo? Pra quê continuar com esse seu teatro?

Homem: Teatro

Mulher: É teatro. É tudo teatro.

Homem: Para.

Mulher: A realidade não cabe mais na realidade.

Homem: Por favor.

Mulher: Não tem por quê continuar.

Homem: Não.

Mulher: Vai ao máximo.

Homem: Por favor.

Mulher: Ao máximo na vida.

Homem: Eu não.

Mulher: Você não quer o melhor?

Homem: Hein?

Mulher: Você não quer o mais alto?

Homem: ...

Mulher: Você não quer o todo?

Homem: ...

Mulher: Você pode ter.

Homem: ...

Mulher: Você pode ser.

Homem: ...

Mulher: E vai ser lindo.

Homem: Para.

Mulher: Poder sentir.

Homem: Não.

Mulher: E ser perfeito.

Homem: Eu não.

Mulher: Só eu e você. Pra sempre. O obituário ideal.

HOMEM SE LEVANTA.

Mulher: O que é que você vai fazer?

SILÊNCIO

O HOMEM SAI. B.O.

Entra a primeira música (THE SMITHS). Entra uma projeção no fundo do cenário. São imagens das pessoas da platéia gravadas antes da peça começar. Imagens do público. As pessoas estão felizes, olhando para a câmera e sorrindo. Esta série de imagens deve durar mais ou menos 1 min. De repente a música para.

Entra Maria. Ela está na mesma posição que na primeira cena. Só que desta vez ela não segura um gravador na mão. Ela abraça a própria barriga. Está grávida. Ela começa a chorar como na primeira cena. E tem o mesmo crescendo. Só que agora é de verdade. O choro grave é de verdade.

As luzes vão baixando. E projeta-se então a última imagem. É o teatro vazio. A plateia onde o público está sentado, só que vazia. Uma pan para o palco revela Maria e Rodrigo por ali. São imagens gravadas antes imediatamente antes da peça começar. Rodrigo e Maria estão no palco se preparando para começar a peça.

No vídeo (diálogo real):

Maria: Merda!

Rodrigo: Merda! Pode mandar abrir? Vamo começar, gente!

A música volta do ponto onde parou. B.O. FIM.

quinta-feira, 1 de março de 2012

OBITUÁRIO IDEAL –Cena 6

IMG_2351_foto_paula_kossatz_press  Voz do locutor: Uma criança morreu hoje depois de ter sido arrastada por um carro em movimento por dois quarteirões, na cidade de Chernobyl, na Rússia. A menina de apenas sete anos ficou pendurada pelo cinto de segurança do lado de fora do veículo, que tinha sido roubado. Restos do corpo incluindo as pontas dos traços da perna esquerda foram achados no caminho. A polícia agora trabalha na captura dos bandidos com a ajuda da população para dar fim à tragédia de Chernobyl.

OS DOIS ENTRAM EM CENA COM AS MALAS.

Mulher: Esse foi o melhor enterro da minha vida.

Homem: Taí uma frase que eu achei que eu nunca fosse escutar.

Mulher: Eram muitos.

Homem: Tipos de choro?

Mulher: Mortos. Eram muitos mortos. Aquele bando de mãe chorando. Nunca imaginei que fosse tão forte.

Homem: Era muito forte.

Mulher: E em espanhol fica tudo ainda mais dramático!

Homem: Não tem mais nada nessa casa.

Mulher: Mi hijo, cariño, mi amor!

Homem: Absolutamente nada.

Mulher: Engraçado que mesmo sendo em espanhol eu entendi tudo.

Homem: A gente precisa fazer compra.

Mulher: É por um outro lugar, mas eu entendi.

Homem: Acho que não tem mais uma peça de carne.

Mulher: E senti também, que é o grande lance.

Homem: Vou ver se eu compro pra manhã.

Mulher: O cortejo foi um escândalo.

Homem: Picanha, de repente.

Mulher: Cada caixão mais lindo que o outro.

Homem: Ou maminha

Mulher: A mães choraram muito grave.

Homem: Talvez alcatra.

Mulher: Você conseguiu?

Homem: Acém.

Mulher: O quê?

Homem: Hã?

Mulher: Oi.

Homem: Hein?

Mulher: Eu perguntei se você conseguiu. O choro grave.

Homem: Acho que não.

Mulher: Eu também não. Mas mesmo assim eu brilhei.

Homem: No choro?

Mulher: Brilhei no choro. Foi tão forte, tão violento, tão real.

Homem: Você brilhou.

Mulher: Tirando as mães ninguém ali sofria mais que eu.

Homem: É, não sofria.

Mulher: Você acha mesmo?

Homem: Acho.

Mulher: De verdade?

Homem: Acho.

Mulher: Duvido.

Homem: Eu não reparei muito nas outras. Você sabe que eu só tenho olhos pro seu choro.

Mulher: Mentiroso.

Homem: Juro.

Mulher: Teve uma hora que eu bem vi você se emocionando com aquela ruiva de vestido cotelê.

Homem: Que bobagem.

Mulher: Admite. Eu não vou irritada.

Homem: Tá bom, eu me emocionei um pouquinho.

Mulher: Sabia.

Homem: Mas é que o choro dela era muito forte.

Mulher: Aquilo lá é profissional.

Homem: Será?

Mulher: Carpideira.

Homem: Eu nem reparei.

Mulher: Tava escrito na testa.

Homem: Pode ser.

Mulher: Eu reconheço a léguas.

Homem: Esquece essa ruiva de vestido cotelê.

PAUSA.

Mulher: (LEMBRANÇA DOCE) Meu amor.

Homem: O quê?

Mulher: Vozes.

Homem: Hein???

Mulher: A gente se esqueceu de gravar as vozes.

Homem: Pra medição.

Mulher: Dos nossos choros.

Homem: A gente se esqueceu de gravar as vozes pra medição dos nossos choros.

Mulher: Tão importante!

Homem: Não tem problema.

Mulher: Mas é muito.

Homem: A gente grava.

Mulher: Agora.

Homem: Pode ser.

Mulher: Cadê o gravador?

Homem: Na mala, eu acho.

HOMEM VAI PEGAR.

Mulher: Eu tirei uma fotos sensacionais.

Homem: É.

Mulher: Tem uma aqui pelo ângulo que parece que uma das mortas tá de olho aberto.

Homem: Que bom.

Mulher: Depois você me ajuda a descarregar.

Homem: Claro.

Mulher: Você tá tão bonito.

Homem: Hein?

Mulher: Seu corpo, mais forte. De repente eu volto a malhar.

Homem: O que é que você falou?

Mulher: Que eu tô pensando em voltar pra academia.

Homem: Não, antes. O que é que você falou antes.

Mulher: Do seu corpo.

Homem: Disso.

Mulher: O quê?

Homem: Antes disso.

Mulher: Eu falei que você tava bonito.

Homem: Você achou.

Mulher: Achei. (PAUSA) Muito bonito.

O HOMEM APERTA O GRAVADOR DE EMOÇÃO (CAFONA) E ENTRA O SOM DE UM CHORO GRAVE DESESPERADO.

Homem: É o de uma das mães.

Mulher: É lindo.

Homem: É forte.

Mulher: É lindo. Como é que faz pra sentir isso, meu Deus?

Homem: Maria/

Mulher: Vamo gravar as nossas vozes.

ELA PEGA O GRAVADOR E COMEÇA A VOLTAR.

Homem: O que é que você tá fazendo?

Mulher: Achando um ponto pra não gravar em cima dos choros.

Homem: Das mães.

Mulher: Dos nossos. A gente tem que comparar, né?

Homem: É. A gente tem.

ELA DÁ PLAY E OUVE SEU PRÓPRIO CHORO.

Mulher: Aqui tá bom.

Homem: Mas esse é o seu choro.

Mulher: Mas não é do enterro.

Homem: É de quando?

Mulher: De antes.

Homem: De outro enterro?

Mulher: Daqui de casa.

Homem: Você tava ensaiando?

Mulher: Pra não desperdiçar o momento.

Homem: O choro grave vem justamente do não preparo.

Mulher: Mas algum esforço tem que ter. A gente ainda não conhece os mortos.

Homem: É. A gente ainda (pausa) não conhece os mortos.

Mulher: Como é que vai ser?

Homem: Como assim?

Mulher: A medição dos choros.

Homem: Eu já te disse. Eu vou tirar a frequência normal da voz e comparar com os choros de acordo com a função de onda. Depois eu converto faço uma escala de medição de 1 a 10. Sendo um o choro mais grave e dez o mais agudo.

Mulher: Não pode ser o contrário?

Homem: O 1 mais agudo e o 10 sendo mais grave.

Mulher: É.

Homem: Pode. Por quê?

Mulher: Vou ser sua aluna nota dez.

Homem ri.

Mulher: Então o que é que eu tenho que fazer.

Homem: Vamo gravar.

Mulher: Eu falo o quê?

Homem: Você pode falar qualquer coisa, desde que seja neutro.

Mulher: Neutro?

Homem: Sem emoção.

Mulher: Entendi.

HOMEM APERTA O REC.

Mulher: Já tá gravando?

Homem: Já.

Mulher: Tá gravando?

Homem: Já!

Mulher: Ai, meu Deus.

Homem: O que foi?

Mulher: Eu fiquei meio surpresa.

Homem: Tem que ser sem emoção.

Mulher: Ai, mas eu não sei o que falar.

Homem: Fala qualquer coisa.

Mulher: Como assim qualquer coisa?

Homem: Qualquer coisa, só tem que ser neutro.

Mulher: Mas falar o quê?

Homem: Fala batatinha quando nasce.

Mulher: Mas eu não sei batatinha quando nasce.

Homem: Todo mundo sabe batatinha quando nasce.

Mulher: Ai, meu Deus.

Homem: Fala logo senão vai gravar em cima do enterro.

Mulher: Ai, que pressão. Peraí. Deixa eu ver se eu me lembro... Ai, como é que era? (PAUSA) Ih, tá ouvindo? Essa música que tá tocando é tão bonita que faz a gente querer ficar vivo. Mas vai chegar um tempo em que a gente vai ter ido embora. A gente vai ser esquecido. Os nossos rostos, as nossas vozes e tudo o que a gente fez vai ser esquecido. Mas o nosso sofrimento vai ser transformado em felicidade pra quem vier depois. E quando isso acontecer vão lembrar da gente com muito amor. É por isso que eu acredito que logo, logo a gente vai saber porque a gente vive. E o porquê de tanto sofrimento. A gente vai saber porquê. A gente vai saber porquê. (PAUSA) Foi sem emoção?

Homem: Foi. Sem emoção.

Mulher: Nossa, eu nem acredito que eu me lembrei disso tudo.

Homem: O quê que é?

Mulher: Era a fala de uma peça que eu fiz quando eu era mais nova.

Homem: Era teatro?

Mulher: Era teatro. (pausa) E agora?

Homem: Agora eu preciso passar as gravações pro computador. E fazer as contas.

Mulher: Pra medir a falta.

Homem: O quê?

Mulher: Pra medir o quanto falta. Pra chegar ao choro perfeito.

Homem: Isso. Pra medir isso.

Mulher: Eu vou descansar

Homem: Vai. Amanhã você tem que tar no hospital cedo. Eu dou aula. Recomeça a vida, né?

Mulher: É.

Homem: E você tem o médico.

Mulher: Eu sei.

Homem: Você vai.

Mulher: Eu vou.

OS DOIS SE LEVANTAM.

Mulher: Eu queria muito chorar grave. Eu queria sentir como é.

Homem: Uma hora você consegue.

ELA VAI SAINDO.

Homem: Eu te amo.

Mulher: O quê?

Homem: Eu te amo.

Mulher: O quê?

Homem: Eu vou comprar carne.

Mulher: Vê se não demora.

Homem: Pode deixar que eu não vou demorar.

ENTRA MÚSICA.